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Grãos a céu aberto confirmam que produtores estão com vendas da safra retraídas. | Giovani Ferreira/Gazeta do Povo
Grãos a céu aberto confirmam que produtores estão com vendas da safra retraídas.| Foto: Giovani Ferreira/Gazeta do Povo

Demanda é aposta para destravar as vendas nos próximos meses

Uma das apostas dos produtores norte-americanos para destravar as vendas e obter um preço melhor pela produção está na força da demanda, indica Grant Kimberly, presidente da Iowa Soybean Association.

“A China, que vinha se abastecendo no Brasil, voltou a comprar soja aqui nas últimas duas semanas”, cita o produtor. “As indústrias de etanol também estão voltando às compras porque estão sem estoque. E isso já está refletindo no preço”, relata Eric Peterson, presidente do Summit Agricultural Group, de Alden (IA).

Ele relata que o ‘basis’ do milho (espécie de prêmio, negativo ou positivo, sobre o preço da Bolsa de Chicago que é oferecido pelos compradores aos produtores para adquirir o produto no mercado físico) teria subido de -40 na semana anterior para -18 na porção central.

Para Jack Scoville, analista e trader do Price Future Group, em Chicago, independente da reação nos preços, nas próximas semanas os produtores norte-americanos devem voltar ao mercado para realizar mais uma parte da safra. “Impostos, despesas com universidade e outros compromissos financeiros devem forçar uma nova onda de vendas. ” Scoville acredita que 50% da safra será comercializada até o final do ano.

Enquanto isso, permanece aberta a janela de comercialização para o Brasil e para a América do Sul, alerta o analista, que tem orientado e realizado o dobro de operações com o mercado brasileiro no segundo semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Do outro lado, suas operações com a safra dos Estados Unidos são a metade no período.

Por ora, contudo, os preços domésticos permanecem abaixo dos custos de produção – estimados em cerca de US$ 9 por bushel para a soja e de US$ 4 por bushel para o milho, dependendo da região.

E, no meio tempo, quem aproveita para lucrar com a estratégia norte-americana é o Brasil, que vê seus negócios externos, já turbinados pela desvalorização do real, avançarem a galope. As exportações brasileiras de soja, que em agosto ultrapassaram o volume remetido ao exterior em todo o ano passado, já se aproximam de 52 milhões de toneladas e as vendas externas de milho, que até a metade do ano ainda andavam de lado, explodiram no mês passado e romperam, pela primeira vez, a marca das 4 milhões de toneladas mensais. (LG e GF)

Enquanto o Brasil corre para vender a soja que mal começou a ser semeada, os Estados Unidos finalizam sua segunda maior colheita da história em um mercado travado e sob pressão intensa. Os norte-americanos, que costumam encerrar os trabalhos de campo com pelo menos metade da produção vendida, neste ano entram no mês de novembro com apenas um quarto da safra comercializada, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo em roteiro de 3 mil quilômetros pelo Meio-Oeste, o coração do cinturão de produção do país.

Os produtores norte-americanos têm, dentro das fazendas, espaço para estocar perto de 350 milhões de toneladas. Fora da porteira, as estruturas de cooperativas, cerealistas e tradings comportam mais 270 milhões a 290 milhões de toneladas. Ou seja, em circunstâncias normais, os EUA têm poder de fogo para armazenar mais de uma safra anual inteira. Mas 2015 é um ano extremo. Depois de duas colheitas de quase meio bilhão de toneladas cada e preços que sequer remuneram os custos, os produtores já não encontram espaço suficiente nos armazéns para estocar a safra. Em Iowa, o maior centro de produção do país, montanhas de milho acumulam a céu aberto nos pátios de cooperativas e cerealistas– muitas vezes debaixo de chuva.

“São os menores preços em oito anos”, justifica Grant Kimberley, que, a duas semanas de encerrar a colheita, ainda tem a maior parte da safra 2015/16 e estoques da temporada passada por comercializar. Com espaço suficiente para guardar até 95% de uma safra cheia na fazenda que mantém em Ankeny, no centro de Iowa, ele está tendo que apelar para silos-bolsa para manter a estratégia de retenção das vendas à espera de cotações melhores. Presidente da Iowa Soybean Association, Kimberley conta que, assim como ele, muitos produtores dos Estados Unidos estão tendo que recorrer aos silos descartáveis, opção que eleva os custos de produção e é pouco comum no país.

“Os produtores estão lutando contra o mercado, guardando tudo o que podem à espera de um momento mais favorável para vender. O problema é que isso pode demorar a acontecer”, alerta David Kruse. “Nunca vi tanto milho na minha vida”, pontua o produtor de Royal, no Noroeste de Iowa, epicentro do que os norte-americanos costumam chamar de ‘garden spot’, uma espécie de ilha de prosperidade em uma safra que foi recheada de altos e baixos climáticos (leia mais na página 2).

Grant Kimberley: menores preços em oito anos.Giovani Ferreira/Gazeta do Povo

“Quanto mais as vendas forem postergadas, mais violenta será a queda lá na frente”, adverte Alvaro Ancêde, analista do The Laifa Group, de Lisle, nos arredores de Chicago. Mas os norte-americanos parecem decididos em segurar a comercialização à espera de um mercado mais favorável – e dispostos a reter a produção pelo tempo que for necessário. Muitos deles citam os impactos negativos do El Niño sobre a produção do Matopiba com um possível fator altista que poderia criar oportunidades de venda no primeiro bimestre do ano que vem. “Mesmo que no fim das contas acabe não havendo uma quebra grande na safra brasileira, sustos climáticos no meio do caminho costumam movimentar o mercado”, explica Kruse.

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