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O produtor Almir José Görgen aposta na rotação de culturas  e diversificação na propriedade para enfrentar | Fotos: Pedro Serápio/Gazeta do Povo
O produtor Almir José Görgen aposta na rotação de culturas e diversificação na propriedade para enfrentar| Foto: Fotos: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

A cidade de Não-Me-Toque, no Noroeste do Rio Grande do Sul, vive dias de suspense. Com um roteiro parecido com o do ano passado, a soja se desenvolve bem até o mês de fevereiro. As chuva em abundância e temperaturas amenas das noites deixam apreensivos os produtores da região. Esse clima é o ideal para a proliferação do fungo phakopsora pachyrhizi que provoca a ferrugem asiática. Até o momento, as lavouras seguem sadias e sem indícios de infestação. Mas quando se fala em ferrugem, todo cuidado é pouco e o potencial produtivo, que agora é de safra recorde, pode ter redução caso a doença se manifeste.

O coordenador do Departamento Técnico da Cotrijal, Fernando Geraldo Martins, explica que se a ferrugem apertar, como ocorreu no ano passado, a colheita da soja deve ser antecipada. Normalmente, a região colhe entre os dias 10 de março e 20 de abril. Os cálculos da cooperativa, que está em uma área que cultiva 70 mil hectares de soja, apontam que a cada dia de antecipação se perde entre 70 a 80 kg. “Pelo que conhecemos da região, a partir de agora, a ferrugem deve explodir. E dependendo da intensidade pode antecipar em uma semana ou mais a colheita, dependendo da lavoura”, alerta.

Uma das formas de evitar que a ferrugem se torne um problema ainda maior é a rotação de cultura, que os produtores da região têm deixado de lado. O milho, alternativa à safra de soja, tem perdido área a cada ciclo. A planta já chegou a ter uma área de 20 mil hectares na região, mas hoje não passa de 7 mil. Esse cenário ocorre mesmo com uma expectativa alta de produtividade na região, de cerca de 170 sacas por hectare. Mas os preços voláteis do cereal, ainda pouco explorado nas exportações, comparado com a soja, explicam a falta de motivação dos agricultores para apostarem mais no cultivo.

Mesmo com o preço pouco convidativo, o produtor Almir José Görgen, de Não Me Toque, não deixa um ano sequer de plantar um pouco de milho. Ele tem 33 hectares cultivados com o cereal e 240 hectares de soja. A proporção de um para o outro é distante, mas tem dado certo. Mesmo tendo passado por diversas secas nos últimos anos, ele não tem passado apuros. “O produtor precisa de renovação e diversificação, eu tenho sempre um gado, planto todo ano ao menos um pouco de milho e mudo a área anualmente para fazer rotação de cultura no verão e no inverno”, conta.

O produtor, que se orgulha de morar na propriedade e poder tirar dela a maioria dos alimentos que consome, resume como considera a melhor maneira de levar os negócios. “A agricultura é um negócio que pode te derrubar ou te levantar em dois anos. O preço preocupa, mas não temos como controlar isso. Nessa safra, por exemplo, esteve bem melhor no ano passado e eu não vendi antecipado. Mas eu travei os insumos com um preço bom, então para mim o preço como está hoje não está ruim. E é assim que funciona: o que precisamos é produzir”, explica com um sorriso otimista.

Erechim: potencial produtivo anima o setor

No município de Erechim, no Rio Grande do Sul, quase na divisa com Santa Catarina, as chuvas ao longo do ciclo foram bem distribuídas. Até o momento as lavouras superam as expectativas, já que no início os meteorologistas previam possibilidade de seca para o estado gaúcho. A colheita na região está prevista para iniciar em março. De acordo com estimativas da Cotrel, cooperativa sediada no município, a região cultiva 165 mil hectares de soja e 40 mil hectares de milho.

A família Rigo cultiva 270 hectares de soja. Com o tempo correndo bem, a expectativa deles é de colher de média em torno de 60 sacas de soja por hectare. “Veja como as plantas estão com uma sanidade excelente, não tem uma planta daninha, nada”, diz mostrando um dos talhões que fica mais próximo à casa. Ele pondera, no entanto, que planta em áreas diversas, com tamanhos variados e que outras lavouras estão diferentes, por isso ele fala nas 60 sacas de média, mas em algumas áreas colherá mais e em outras menos.

Em uma varanda de uma casa típica da zona rural, parte da família Rigo (Vilma, esposa; Sérgio, marido e Alessandro, um dos filhos) recebeu a equipe da Expedição Safra no bom estilo gaúcho – em uma roda de chimarrão. Quando o assunto é o desenvolvimento das plantas neste ciclo, sem queixas. Mas no quesito estradas, pontes, preço do diesel, exigências ambientais e trabalhistas do governo e impostos, sobram lamentos. “Não sei até quando vamos aguentar, porque estamos em um porte que não podemos contratar funcionários, mas temos muito trabalho a fazer”, se queixa Sério.

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