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| Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo

No ciclo 2018/19, os produtores brasileiros agregaram quase 1 milhão de hectares ao plantio de soja e algodão e isso deve garantir a segunda melhor safra da história, com 234,1 milhões de toneladas. O desempenho deve ficar atrás apenas do obtido em 2017, o chamado “ano perfeito”, quando o país teve um recorde de 240,6 milhões de toneladas.

Segundo o quinto levantamento de safra de grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado nesta terça-feira, 12, o aumento da área plantada compensou perdas pontuais por causa da seca em importantes regiões produtoras, como Paraná e Mato Grosso do Sul - com quebras de 15%. Com isso, a produção deve ter aumento de 6,5 milhões de toneladas em relação à safra passada, que foi de 227,75 milhões de toneladas.

A área plantada está prevista em 62,6 milhões de hectares, um aumento de 1,5% em relação à safra 2017/18.

Segundo a Conab, o grau de eficiência produtiva média do País deve passar dos 3.692 para 3.738 kg/ha - avanço de 1,24%. Entretanto, a principal lavoura do País, a soja, além do milho primeira safra, o arroz e o feijão devem ter produtividade menor em relação a 2017/18.

No caso da soja, a safra 2018/19 deve recuar 3,3%, para 115,3 milhões de toneladas, mesmo com aumento de 1,9% na área plantada. “O fator responsável é a redução da produtividade, ocasionada por adversidades climáticas em alguns Estados”, justifica a Conab. O levantamento de safra anterior, divulgado em janeiro deste ano, previa colheita de 118,8 milhões de toneladas.

Para o milho verão, a produção também deve cair em relação a 2017/18 (que produziu 26,81 milhões de toneladas), para 26,5 milhões de toneladas e área cultivada 1,2% menor. “Mas, se acrescida da segunda safra (safra de inverno), a produção total poderá alcançar 91,7 milhões de toneladas, 13,6% a mais que em 2017/18”, diz a Conab. Neste ano, o milho safrinha foi beneficiado pela semeadura precoce da soja, o que ofereceu “janela bastante favorável à semeadura das culturas de segunda safra”.

O arroz, com concentração maior no Sul do País, apresentou no levantamento desta terça um porcentual de 11,3% de perdas frente à safra anterior, ficando em 10,7 milhões de toneladas. O feijão primeira safra sofreu igualmente, com registro de 10,6% a menos, refletindo numa produção de 1 milhão de toneladas.

Destaque positivo

Segundo a Conab, o maior destaque positivo do estudo continua sendo o algodão, que registrou grande concentração de plantio no mês passado, em função do bom desempenho das cotações da pluma. Se no quarto levantamento de safra a companhia estimava crescimento superior a 25,3% na área, na atual estimativa, este porcentual subiu mais, para 33% relação a 2017/18.

Quanto à produção, a Conab avaliou que o País deve colher 27,9% mais algodão em pluma em relação à safra passada. “Também novas áreas foram incorporadas ao processo produtivo em detrimento de outras culturas. Com isso, os números estão em 3,8 milhões toneladas e 1,6 milhão de hectares, respectivamente”, comenta a estatal.

Quanto à safra de inverno, a Conab informa que o início de plantio de aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale é a partir de abril. “O estudo deste mês estima uma produção dessas culturas superior 6,9% ante 2018, podendo alcançar 6,9 milhões de toneladas.”

Perdas e ganhos no Sul

O Paraná é o estado que, provavelmente, mais perdeu na produção do ciclo de verão. No levantamento oficial da Secretaria da Agricultura, em janeiro, a quebra no volume estimado de soja estava em 14%. Mas deve subir. “É possível que esta perda chegue a 15 ou 16% no estado, após consolidada a colheita no Oeste, no Norte e no Noroeste. E temos a perda de milho e de feijão. Em contrapartida, houve crescimento da área de milho safrinha em torno de 4%, para 2, 15 milhões de hectares. Tudo correndo bem, é possível uma safra de milho com três milhões de toneladas acima do que no ano passado, aí compensaria em parte”, diz Norberto Ortigara, secretário da Agricultura do Paraná.

Produtor Afonso Gregório, de Nova Tebas: chuvas irregulares, em região “muito dobrada”, foram a marca do ciclo atualMarcos Tosi/Gazeta do Povo

As perdas, assim como a distribuição da chuva, foram irregulares. Enquanto o Rio Grande do Sul deve colher uma das melhores safras dos últimos anos, em Toledo, no Oeste do Paraná, a quebra estimada é de pelo menos 40% na cultura da soja. Em Campo Mourão, perda de 25%. No Noroeste, entre Paranavaí e Umuarama, de 20 a 25% - segundo estimativa da Seab-PR. “Abaixo de 100 sacas por alqueire, o produtor terá prejuízo. É o que se colhia no anos 70 e 80. Dá 40 sacas por hectare, o que é custo operacional e nem a depreciação cobre. Quem pagou o preço e fez seguro tem alguma proteção, quem não fez está acumulando prejuízo no bolso”, lamenta Ortigara.

Entre os produtores que fazem contas para saber o tamanho do prejuízo, está Afonso Gregório, de Nova Tebas, na região Norte Central paranaense. Em conversa com a reportagem durante o Show Rural, em Cascavel, Gregório contou que as primeiras lavouras de soja, semeadas no início de setembro, quebraram quase 40%. “Pegou muito forte. A média nossa é 160 sacas por alqueire e deu 100. Nós temos uns 200 alqueires que vão produzir normal. A outra área vai ter quebra, mas a gente não sabe em que proporção, por que agora voltou a chover. Uma parte pegou chuva, outra não. Vamos ver o estrago agora, já fazia 20 dias que não chovia. E agora choveu em plena florada. No total, a gente calcula que a perda será de 30%. Se fechar em 130 sacas por alqueire, já está bom”, diz Gregório.

A 70 km de Cascavel, em Boa Vista da Aparecida, o produtor Santo Antonelo, diz que neste ciclo deu quase tudo errado. “No início houve muita chuva e frio, então a planta precoce não se desenvolveu. Quando ela deu uma aquecidazinha, daí veio a seca, que não deixou a planta firmar e o grão crescer. Eu colhi 118 sacas por alqueire, onde eu antes colhia até 170 sacas”.

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