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Há nove anos a Embrapa Suínos e Aves começou estudos sobre bem-estar animal, que hoje começam a dar os primeiros os resultados. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Há nove anos a Embrapa Suínos e Aves começou estudos sobre bem-estar animal, que hoje começam a dar os primeiros os resultados.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Assim como os seres humanos, os animais de produção também são vítimas de estresse, o que reduz a imunidade e os deixa mais suscetíveis ao desenvolvimento de doenças. No caso dos suínos, a disputa por alimento e as brigas provocadas por animais dominantes são agentes causadores de baixa imunidade. Por isso, os criadores usam antibióticos para prevenir o adoecimento do rebanho, o que nem sempre pode ser visto com bons olhos pelo consumidor.

Há nove anos a Embrapa Suínos e Aves começou estudos sobre bem-estar animal, que hoje começam a dar os primeiros os resultados. O projeto é voltado à produção em pequena escala de suínos sem uso coletivo de antimicrobianos, ou seja, sem colocar na ração ou água dos bichos os antibióticos.

O segredo do projeto, segundo o pesquisador Nelson Morés, é que as ninhadas são criadas “em família” desde o nascimento até a fase de abate. Com isso, os leitões, que geralmente são de 10 a 12 por ninhada, passam a vida juntos, sem se misturar com animais de outras ninhadas.

De acordo com Morés, os nichos de mercado para produtos orgânicos, sem uso de antibióticos, ainda são pequenos, mas são os que mais crescem no mundo. “O fato de você fazer o uso racional do antibiótico ou retirá-los totalmente das criações se dá por duas razões: uma é para não induzir resistência dos agentes infecciosos e a outra porque existe indicação de resistência cruzada com bactérias que podem afetar o ser humano, criando estirpes resistentes. Quanto mais você usar o antimicrobiano, maior a probabilidade de criar bactérias resistentes a ele. E quando você precisar daquele antibiótico para combater uma infecção, ele não vai mais funcionar”, explica.

Na granja experimental da Embrapa em Concórdia (SC) há 21 matrizes que participam do projeto. Conforme as ninhadas vão nascendo, elas avançam para as próximas fases sempre juntas, desde a maternidade, passando pela creche (a partir dos 28 dias e já sem a presença da mãe) e até a fase de terminação, após 63 dias e pesando em média 25kg. Posteriormente, o abate ocorre quando o animal está pesando entre 100 e 130 kg.

Pesquisador Nelson Morés, da Embrapa Aves e Suínos. Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O abate dos animais é feito na cidade de Sananduva (RS) em uma parceria com a empresa Korin, de São Paulo, que está testando a aceitação do consumidor à carne dos suínos criados por esse método. Estima-se que o valor do quilo do suíno criado nesse sistema valorize entre 10% e 20%.

Outro detalhe importante é que cada animal é identificado para rastreabilidade. Caso algum adoeça, por exemplo, e seja necessário o uso de antimicrobianos, ele imediatamente sai do mercado de animais livres de antibióticos.

Liberdade

Criar os animais em família por mais tempo não basta para mantê-los saudáveis e livres de estresse, segundo Marés. Aliado a isso é preciso disponibilizar uma alimentação de qualidade, criar barreiras de biossegurança – sem nenhum contato com animais de fora ou outros tipos de animais – e dar liberdade para os suínos se movimentarem dentro das baias.

Além disso, há outras medidas que são adotadas visando ao bem-estar animal, como não cortar os rabos dos leitões ou retirar seus dentes, o que é comum em produções intensivas. Na fase de terminação, os animais também têm 30 minutos por dia para “passear” livremente nos piquetes.

Irmãos leitõezinhos passam todo o ciclo produtivo juntos. Jonathan Campos/Gazeta do Povo

“Esse modelo voltado para os pequenos produtores a gente não tem dúvida de que funciona. Agora temos que ver a aceitação do mercado e como agregar valor ao produto”, diz Morés. A ideia futuramente é criar um selo da Embrapa, uma espécie de certificação, de aquele suíno criado nesse sistema é livre de antibiótico.

Após três anos desde que o projeto efetivamente foi implantado, o desempenho dos animais foi semelhante ao de uma grande produção, no entanto detectou-se uma redução no número de lesões pulmonares provocadas por bactérias, mesmo sem o uso de antibióticos.

Morés observa que apesar da possibilidade do uso contínuo de antibiótico induzir aumento da resistência de bactérias, não há comprovação científica de que a carne de um animal livre de antimicrobianos seja melhor do que a de um que tenha feito uso do medicamento. No entanto, lembra ele, no final das contas é o consumidor quem dita as regras e acaba escolhendo que produto prefere.

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