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 | JONATHAN CAMPOS/GAZETA DO POVO
| Foto: JONATHAN CAMPOS/GAZETA DO POVO

Não é todo dia que se encontra uma granja de suínos com 7 mil animais em que o silêncio é a primeira coisa que chama atenção. Na unidade de produção de leitões (UPL) da Granja Fontana, em Charrua, Norte do Rio Grande do Sul, a calmaria só é quebrada quando Tonico e Tinoco começa a soar nas caixas de som espalhadas pelos cinco barracões de engorda de animais.

“Eles gostam de música sertaneja, se acalmam”, garante Vilseu Fontana, 70 anos, pioneiro da suinocultura na região e, principalmente, da cultura de bem-estar animal, hoje bastante difundida no mundo. “Quem introduziu a música para os animais fui eu”, orgulha-se o produtor, que chegou a trazer a dupla icônica da música caipira brasileira para cantar – ao vivo – para os animais. Isso lá pelos idos dos anos 90. “O pessoal me conhece no mundo todo por causa disso.”

E ai de quem tocar nos bichos com maldade. “O que faz a diferença são as pessoas. Se alguém aqui bater num animal eu dou advertência. Nenhum animal quer ser maltratado”, diz Fontana, que trabalha com os filhos em duas granjas que a família tem na região. Ambas são integradas à Cooperalfa, cooperativa com sede em Chapecó (SC). Além da UPL, a outra granja multiplica matrizes para outros produtores – atualmente são 2 mil leitoas reprodutoras.

Nem parece que a granja de multiplicação foi completamente destruída em junho do ano passado por um vendaval. Por sorte, nenhum funcionário se feriu, mas foi preciso reconstruir quase tudo – silos, barracões, fábrica de ração. Só ficou em pé a residência do Fontana. “Ninguém reclamou aqui. Já passamos por muitas crises e sempre conseguimos superar. Deus dá a cruz conforme a gente consegue carregar. Não é verdade?”, diz o veterano produtor, de fala tranquila, mas firme.

Dificuldades

Mas as dificuldades enfrentadas pelos suinocultores do Rio Grande do Sul vão além de vendavais. A Granja Fontana, que costumava atender até 150 produtores da região hoje faz negócios com cerca de 50. Muitos ou desapareceram ou foram integrados em cooperativas. “Quem não tiver contrato para produzir no mínimo 50% da sua capacidade não sobrevive”, resume Vilseu Fontana. “Na suinocultura, a tendência é concentrar cada vez mais”, afirma Jean Marcelo Fontana, filho de Vilseu.

A alternativa na granja, que produz a própria ração, foi substituir até 70% do milho – que representa a maior parte do custo – pelo triticale, um híbrido entre o centeio e o trigo, na nutrição dos animais. “O problema aqui no estado é que o milho é todo consumido ou exportado. Então temos que trazer de outros estados”, explica Jean, o que acaba encarecendo o insumo também por causa do frete.

Segundo os Fontana, o governo precisa incentivar mais os produtores para que plantem milho, soja e trigo para serem usados regionalmente, agregando valor à cadeia produtiva e sem depender do mercado de fora.

Modernização

Outra saída foi apostar na modernização das granjas. Os equipamentos para a alimentação dos animais, por exemplo, vieram da China. O resultado foi um ganho de eficiência que se reflete em leitões de 21 dias 1,2 kg mais pesados que a média.

As maternidades, por sua vez, são suspensas e vazadas, garantindo mais espaço para os animais e higiene, já que os dejetos escorrem para baixo e são captados por uma tubulação que desemboca num biodigestor. Posteriormente, esse material é usado para adubar a lavoura. Além disso, a granja investiu pesado em captação de 1,5 milhão de litros de água da chuva, usada para lavar as baias. Outros resíduos também são coletados para reciclagem ou incineração, dependendo do tipo.

Apesar de tudo isso, investir em bem-estar animal não tem significado um diferencial no preço final do produto, mas é importante para garantir mercados, principalmente no exterior, segundo Eudes Diavatti, gerente da Cooperalfa em Erechim (RS). Ele explica que a recente alta do dólar tem afetado os produtores na compra dos insumos. “Para a suinocultura tem sido prejudicial porque a exportação não está acontecendo, e o produtor está descapitalizado”, avalia.

Rússia

Para Valdecir Folador, presidente da Associação Gaúcha de Suinocultores, a rentabilidade dos produtores do setor está péssima, principalmente por causa do fechamento do mercado russo para a carne brasileira. “A Rússia representava de 38% a 40% de toda a exportação. Conseguiu-se dar outros destinos, mas a preços menores”, afirma. Segundo Folador, houve uma “sobra” de 14% de produto no mercado interno. A solução mais imediata, diz, seria os russos voltarem a comprar.

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