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Guerra comercial e novos mercados viram o foco dos debates no agronegócio
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Os embates comerciais entre China e Estados Unidos e as oportunidades de negócios para o Mercosul, e em especial para o Brasil, deram a tônica dos debates que abriram o primeiro dia do 7º Fórum de Agricultura da América do Sul, que ocorre nesta quinta e sexta-feira (6) em Curitiba. Com a presença de representantes de toda a cadeia produtiva do agronegócio e autoridades políticas, o evento trouxe a presença de especialistas internacionais, entre eles o diretor da Divisão de Agricultura e Commodities da Organização Mundial do Comércio (OMC), Edwini Kessie.

Em sua palestra de abertura, Kessie reconheceu que a atuação da OMC não tem sido efetiva para aliviar as tensões comerciais e resolver os impasses entre os 164 países membros da organização. Segundo ele, há muitos níveis de desenvolvimento diferentes entre os países, o que dificulta a resolução de muitos conflitos, pois as realidades são diferentes. Essa situação acaba levando muitas nações a buscarem acordos bilaterais ou multilaterais, como uma válvula de escape.

“Não acho que a OMC vá desaparecer, mas acho que os países começam a perceber que se não houvesse a OMC, haveria uma anarquia, mas há muitas diferenças entre os países. Ela funciona como uma garantia”, ponderou Kessie. Há 24 anos na OMC, o diretor de Agricultura e Commodities da entidade avalia que, no embate atual das duas maiores economias mundiais, que também são o maior consumidor de bens agrícolas (China) e o maior exportador (EUA), todos os outros países podem acabar prejudicados. E o Brasil, temporariamente beneficiado, não deve se iludir.

Entretanto, a guerra comercial entre China e EUA, aliada aos efeitos da peste suína africana, pode ser a grande oportunidade para o mercado brasileiro se firmar como exportador de carne suína. É o que garante Renato Rasmussen, diretor de inteligência de mercado na INTL FCStone. Em sua fala durante o Fórum, ele explicou que o atual cenário de importações de suínos pela China é o ponto de partida para uma alteração no mercado mundial de exportações desse tipo de carne.

Segundo Rasmussen, em 2018, o mercado chinês consumiu 48% de toda a carne de porco do mundo, o que em grande parte era suprido pela autoprodutividade local. Com a morte dos rebanhos asiáticos por conta da peste, a solução passou a ser a importação dos maiores produtores, como União Europeia e Estados Unidos. “O problema é que a EU não consegue suprir a demanda sozinha e os EUA tiveram as importações interrompidas desde 5 de agosto, como efeito da guerra comercial. Sobra para o Brasil, mesmo em meio a tantas incertezas.”

Antes dele, a representante da CME Group (Bolsa de Chicaco), Susan Sutherland, também falou sobre as reações do mercado às tensões comerciais no agronegócio. Quem também falou sobre as oportunidades do Brasil no exterior foi o diretor executivo da certificadora de produtos halal, Cdial Halal, Ali Saifi.

Ele lembrou que o Brasil é hoje o maior exportador mundial de proteínas animais para o mercado muçulmano, e 52% da carne exportada é halal. O Paraná é o principal polo exportador brasileiro, com 35,85% do volume exportado. Saifi explicou que em se tratando dos produtos considerados “lícitos”, ou seja, permitidos pela lei islâmica, o Brasil tem muito a ensinar a outros países sobre esse mercado

Atualmente, o mercado árabe hoje envolve 1,8 bilhão de pessoas ao redor do mundo e que  há oportunidades para o Brasil ampliar sua liderança, com mercados como a China e o Japão, onde as certificações halal hoje já são uma realidade, pois é crescente o número de muçulmanos nesses países. Além disso, o Brasil também exporta para grandes consumidores de carne halal, como Arábia Saudita e Emirados Árabes.

O painel sobre o mercado halal também a participação de Fernando Mendes, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, e do secretário de Agricultura de Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara.

Em outro painel, o coordenador de negócios do Senai/IST, Alcides Sperotto, disse que o Brasil será a potência mundial em produtividade de alimentos a partir de 2030, início de uma grande explosão demográfica. Chamado de “bug populacional” por Sperotto, o momento será de aumento de 8,6 bilhões para 9,7 bilhões de pessoas em 20 anos. “Haverá a cobrança de todos os países para que o Brasil seja o maior gerador da indústria alimentícia. Para isso, precisamos colocar mais pesquisa e tecnologia em nosso alimento”, disse durante a 7º Fórum de Agricultura da América do Sul.

Sperotto afirmou ainda que para atender à futura demanda, o país precisa investir em seu potencial de inovação para, principalmente, se adequar a diferentes públicos alvos. “As dietas alternativas e restritivas devem ser respeitadas e não combatidas. É possível pensar que existem novos sistemas de consumo”, salientou.

Segundo o representante do Senai, o mercado passou a entender melhor a tabela nutricional, o que permitiu a formação de consumidores específicos. “Temos que investir em produtos que durem, mas sem aditivos sintéticos. Além de valorizar a produção sustentável, pois o consumidor quer saber de onde vem seu alimento.”

Acompanhe a transmissão ao vivo do Fórum:

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