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Trump e Xi Jinping, presidentes de EUA e China, respectivamente, durante encontro de líderes em Pequim.
Trump e Xi Jinping, presidentes de EUA e China, respectivamente, durante encontro de líderes em Pequim.| Foto: NICOLAS ASFOURI/AFP or licensors

Os recuos e avanços semanais protagonizados por Estados Unidos e China indicam que uma solução da guerra comercial ainda está longe de ser concretizada. “Ninguém sabe onde o mercado está indo, houve muita reviravolta nos últimos anos. A volatilidade é grande e o ambiente está desafiador para todos diante do temor de prolongamento da crise", avalia Susan Sutherland, da Bolsa de Chicago (CME Group), uma das palestrantes do 7° Fórum de Agricultura da América do Sul, que ocorreu na quinta e sexta-feira (6), em Curitiba.

Os especialistas que debateram a guerra comercial entre norte-americanos e chineses apontaram que um plano de entendimento precisa ser definido o quanto antes, pois os reflexos já são sentidos em toda a economia global. Para Sutherland, as conversas previstas entre os representantes de ambos os países no mês de outubro, em Washington, podem ajudar a estabelecer um início de entendimento mais concreto. A reunião é aguardada com grande expectativa por todos diante do temor de um prolongamento da crise. Ela informou que numa sondagem feita com empresários chineses, 71% não acreditam numa solução agora, enquanto 29% se mostraram otimistas.

Diante desse contexto de incertezas e reviravoltas causado pela “trade war”, Sutherland afirma que vem sendo difícil estabelecer um horizonte, por exemplo, nas cotações e tendências de preços das commodities.

O vice economista-chefe do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), Warren Preston, afirma que a China deixou de ser o principal cliente de commodities dos americanos, perdendo para países como México, Canadá e a União Europeia. Além da disputa comercial com os chineses, Preston enfatizou que o agronegócio norte-americano tem enfrentado quebras de safra como a de soja e milho por conta de questões climáticas, o que também ajuda a diminuir sua expressão  o cenário externo.

Disputa não é tarifária, mas de hegemonia

A guerra comercial, alertou Renato Rasmussen, diretor de inteligência de mercado da INTL FCStone, não envolve apenas questões tarifárias. A disputa, de acordo com o executivo, é pela hegemonia no comércio global, em que a China vem dando mostras de querer desbancar a liderança dos Estados Unidos em setores estratégicos, como inovação, tecnologia e geração de renda.

“A China apresentou o projeto de “belt road”, que conecta rodovias com a Europa, em Colônia, na Alemanha, e tem investimentos portuários para integrar outras partes do mundo. Os Estados Unidos percebem que a China está se posicionando para ser um importante centro comercial. Eles querem ter um maior controle sobre isso. O plano da China é para dobrar a renda per capita em 2021 em relação a 2010, liderar em todas as tecnologias avançadas em 2035 e em 2050 ser a principal economia do planeta”, afirmou Rasmussen.

Em meio às disputas, o Brasil viu crescer seu comércio de commodities com a China. Entre 2016 e o ano passado, quando a “trade war” teve início, a importação de soja brasileira por parte dos chineses cresceu de 32,8 milhões de toneladas para 66,1 milhões de toneladas. Já com os Estados Unidos, ocorreu o contrário. A soja norte-americana, que chegou a 32,8 milhões de toneladas em solo chinês, em 2016, caiu para pouco mais de 16 milhões de toneladas no ano passado.

O que pode ser uma vantagem para o país a curto prazo pode também se reverter em problemas. O preço poderá cair a médio e longo prazo, alertou Ediwini Kessie, diretor de Agricultura e Commodities da Organização Mundial do Comércio (OMC). “Os Estados Unidos e países em desenvolvimento acreditam que a China não está respeitando as regras”, disse Kessie ao analisar a disputa entre os dois gigantes do comércio mundial.

O dirigente defendeu, portanto, o fortalecimento de organismos de decisão multilateral como a OMC, que atualmente decide pelo consenso geral de seus integrantes (164 países), embora esse critério seja criticado por engessar soluções mais ágeis. Kessie admite que esse critério muitas vezes leva a acordos bilaterais entre os países, enfraquecendo centros de decisão do comércio mundial como a OMC.

“É preciso fortalecer acordos multilaterais e isso impõe que cada país faça a sua parte. O sistema de acordos multilaterais é uma força do bem. Os países do Mercosul estão entre os maiores apoiadores. A guerra comercial não é boa para os negócios. O que precisamos é de previsibilidade. Lembramos que um órgão de arbitragem multilateral como a OMC evitou a anarquia no comércio mundial. Os países vão permanecer. É possível ter acordos bilaterais e apoiar entendimentos multilaterais”, diz o representante da OMC.

Perde-perde

O representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Fórum de Agricultura da América do Sul diz que se persistir o clima de embate e impasse, todos irão perder.  “É um jogo de perde-perde e não de perde-ganha. Há reflexos no PIB mundial e nas economias dos dois países, causando incertezas no processo decisório de investimentos dos países e empresas. Teremos um ambiente desafiador para 2020”, afirma Fernando Augusto Mendes, secretário-adjunto de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

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