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O agronegócio paranaense faz investimentos expressivos para tentar compensar o déficit na capacidade de armazenagem de grãos, mas há áreas do estado que estão em situação privilegiada. Levantamento realizado pelo Agronegócio Gazeta do Povo, com base em dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mostra que na Região Sul do estado há sobra de 2 milhões de toneladas em relação à produção total de grãos (soja, milho e trigo).

INFOGRÁFICO: Veja a quantidade de armazéns nas regiões do Paraná

Por outro lado, o quadro reforça a pressão por investimentos em zonas de produção mais afastadas, como Oeste e Noroeste que, juntas, colhem 4 milhões de toneladas de grãos a mais do que podem abrigar. Gargalos como esse, que vão além das aparências, vêm sendo mapeados pelo setor, numa bateria de estudos contratados pela Federação da Agricultura do Paraná (Faep).

Considerando os critérios de região da Secretaria Es­­tadual de Agricultura e Abas­­tecimento (Seab), a área de abrangência do Sul inclui a infraestrutura localizada no Porto de Paranaguá, além da estrutura de polos industriais nas regiões de Ponta Grossa e Guarapuava, nos Campos Gerais. Esses fatores garantem sobra de espaço na região, aponta o assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti. “Os armazéns do porto estão em uma área que praticamente não produz grãos, enquanto nas regiões de indústria essas estruturas garantem capacidade operacional”, detalha.

A sobra de uma região não garante compensação no déficit de outra, indicam os especialistas. Isso agrava o problema de áreas como o Oeste paranaense que, mesmo sendo responsável por um quarto da safra dos grãos de verão (8 milhões de toneladas), possui espaço para estoque de apenas 4,8 milhões de toneladas — um descompasso de 3,2 milhões de t. “Na época de colheita o custo do frete fica muito alto devido à demanda, já que falta espaço”, aponta o presidente da Associação Brasileira de Pós-Colheita (Abrapos), Irineu Lorini.

Para ele, faltou planejamento para expandir as fronteiras agrícolas, intensificando as diferenças regionais. “Onde há déficit, a produção cresceu mais e muito mais rápido do que a infraestrutura, gerando essa escassez. No caso do Sul, já não há tantas áreas disponíveis”, compara.

Além da escassez, parte dos armazéns já instalados tem uso limitado, gerando agravante. “Há muitas estruturas obsoletas no estado, que não conseguem preservar a qualidade dos grãos durante muito tempo. O custo para modernização é tão elevado que vale mais a pena construir de novo”, indica Lorini.

Investimentos

O déficit de armazéns do estado começou a ser compensado de forma mais intensa no ano passado, quando o go­­verno federal implantou o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA). Com 15 anos de prazo para pagamento, carência de 3 anos e taxa de juros de 4% ao ano, a linha de financiamento tem atraído investimentos expressivos das cooperativas.

A Ocepar aponta que o setor está aplicando R$ 1,2 bilhão, que vão acrescentar 1,8 milhão de toneladas à capacidade de estocagem. Com esses investimentos, as cooperativas podem elevar de 55% para 60% a participação na armazenagem do estado.

Desafios vão além da construção de novos silos

O desafio da armazenagem no Paraná vai além de investimentos em infraestrutura. Estudo realizado pelo núcleo de estudos em logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log), da Universidade de São Paulo (USP), mostra que burocracia, falta de escala e incerteza quanto aos custos são barreiras extras. Batizado de Projeto Benin, o trabalho complementa uma série de pesquisas elaboradas pela instituição em parceria com a Federação da Agricultura do Paraná (Faep). Os técnicos viajaram pelo interior do estado e realizaram 46 entrevistas com responsáveis por cerealistas, cooperativas e produtores. O estudo revela que o estímulo dado para investimentos em novos armazéns ainda não fomenta ampla adesão no campo.

Existem produtores interessados em construir silos nas propriedades, mas os projetos esbarram em aspectos como o custo elevado de implementação e a burocracia de acesso ao recurso. Quem investiu não reclama, mas é preciso um estudo detalhado para garantir a viabilidade do empreendimento, defendem os técnicos envolvidos na pesquisa.

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