Tente passar indiferente por um jardim com rosas desabrochadas e grama recém-aparada. É inevitável, após uma respirada profunda, não se lembrar da primeira flor que deu como presente a alguém. Flor nasce e fica na memória. Tem valor afetivo. E também financeiro. As flores fazem desse sentimento um negócio bilionário que cresce mesmo na crise. É um ramo com um campo florido pela frente, que, além do mercado já consolidado, tem espaço para crescer em produção e em consumo no Brasil (ver gráfico).
Em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, Cláudio Holtnan, 59, trocou há quatro anos a monotonia dos problemas de um pesque e pague por uma rotina que inclui música (o tempo todo) e uma cervejinha em pleno expediente (às vezes). Desde 2012, as flores dele recebem tratamento de luxo e parecem da família. “Quem me vê falando com elas, acha que eu sou louco”, brinca. A propriedade tem sete hectares e mais de 10 mil plantas, de todas as idades, em quatro estufas. Ele vende no atacado e no varejo cerca de 300 vasos por mês, a um custo médio de R$ 25 a R$ 50 cada. “Eu trabalho feliz, não troco minhas plantas por nada”, diz.
A entrada de Cláudio nesse mercado coincide com um fator que turbinou a visão que se tem das flores no Brasil: a entrada delas no supermercado. O consultor especializado em marketing para flores Augusto Aki explica que isso e a crise (sim, você não leu errado) explicam boa parte do otimismo do mercado com relação às plantas. “O aumento de estresse social se transforma num ato de positividade. Sabendo que alguém está com problemas, as pessoas mandam flores. O estado de estresse em que vivemos só favorece o apelo do consumo. E no Brasil isso está fortalecido, porque estamos em meio a uma crise”, lembra.
Victor Rodrigues Ferreira, coordenador da Carteira de Floricultura do Sebrae, vê oportunidades de empreender no setor. Na visão dele, porém, a atividade precisa avançar em aspectos que já foram superados por outros segmentos do agronegócio – como o levantamento de indicadores precisos. “Temos carência enorme de transferência de tecnologia, de produção de conhecimento e de organização do setor”, avalia. E nesse mercado, conforme explica, não há margem para se cometer erros. “O mercado exige qualidade e regularidade. O produtor que está lá na sua propriedade e não tem conhecimento técnico, acaba investindo e não tem sucesso”, alerta o consultor.
Cuidados para investir
Para quem quer investir, Ferreira alerta que é preciso cautela. O Paraná, usado por ele como exemplo, não é autossuficiente em flores. O produto vendido no estado vem da Região Sudeste, maior produtora no Brasil. Compradores e possibilidade de produzir no estado existem. Mas não é tão simples quanto parece. Para entrar no ramo é preciso estudar o mercado, buscar capacitação e orientação. “O produtor, fazendo isso, pode ter grande sucesso, porque o mercado, mesmo com essa crise, ainda tem comprado muitas espécies de flores”, sugere.