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Grandes consumidores, como China, Hong Kong e Egito — que responderam por 44% das exportações de carne bovina em 2016 —, suspenderam as importações por completo. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Grandes consumidores, como China, Hong Kong e Egito — que responderam por 44% das exportações de carne bovina em 2016 —, suspenderam as importações por completo.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Ao não fazer distinção, num primeiro momento, do tipo de carne que era alvo de investigação, a divulgação feita pela Polícia Federal acabou levando vários países a levantar embargos contra a carne bovina brasileira, segmento no qual apenas dois dos 21 frigoríficos suspeitos atuam. Os outros produzem frango, embutidos e até mel e equinos.

Um dos frigoríficos que aparecem na lista com alguma irregularidade no setor de bovinos é a Central de Carne Paranaense, em Colombo (PR), que não exporta o produto. O outro é a JJZ Alimentos, em Goiânia (GO), que vendeu produtos para ao menos oito destinos. O problema é que apenas Japão e União Europeia foram seletivos e interromperam as compras exclusivamente dos frigoríficos investigados.

Embargos

Grandes consumidores, como China, Hong Kong e Egito — que responderam por 44% das exportações de carne bovina em 2016 —, suspenderam as importações por completo, incluindo carne bovina, suína e de aves. Por isso, grandes empresas que sequer aparecem entre as investigadas, como Marfrig e Minerva, respectivamente a segunda e a terceira maiores exportadoras de carne bovina do país, estão sendo prejudicadas com os embargos.

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A investigação da Polícia Federal colocou 21 frigoríficos do país – 19 deles do Paraná -- em suspeição por irregularidades que vão da comercialização de produtos vencidos até a adulteração de produtos

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“Marfrig e Minerva também serão afetadas, pois não foi feita qualquer distinção por alguns países. A Minerva, principalmente, que concentra as operações de carne bovina no Brasil, pode ser mais impactada”, avalia Erick Rodrigues, analista da agência de classificação de risco Moody’s.

A empresa tem operações em sete estados brasileiros, além de Uruguai, Paraguai e Colômbia. Já a Marfrig tem 11 unidades produtivas no Brasil, que atendem ao mercado interno e internacional e respondem por cerca de 37% do faturamento da companhia. Segundo Rodrigues, para contornar os embargos, a empresa poderia redirecionar a produção em outras unidades na América Latina. Procuradas, nem Marfrig nem Minerva se manifestaram.

A principal exportadora de carne bovina, a JBS, aparece na lista de investigados com um frigorífico da Seara, marca que atua no mercado de aves e suínos. Rodrigues avalia que a empresa será pouco afetada, pois apenas 5,2% de sua receita vêm das exportações da Seara. Já a BRF, que lidera a exportação de frango, deve sofrer impacto mais significativo, pois concentra suas operações no Brasil, diz o analista.

Apelo

”Todo o setor de carnes foi afetado, pois foi tudo colocado no mesmo barco. É normal que os principais mercados consumidores, como China e Hong Kong, tenham tomado as medidas mais enérgicas. Mas, aos poucos, essa questão será esclarecida, e tudo voltará à normalidade”, avalia Renata Amaral, diretora de comércio internacional da consultoria Barral M. Jorge, que presta assessoria em contenciosos na Organização Mundial do Comércio (OMC) ao setor de proteína animal.

O analista da Funcex André Mitidieri também avalia que os embargos vão cair rapidamente. “O setor de carnes é muito sensível a qualquer informação que questione a qualidade do produto. Daí a reação dos países, que precisam prestar contas para seus consumidores. Mas não acredito que as restrições serão duradouras”.

Nesta quarta-feira, numa tentativa de recuperar a imagem e credibilidades arranhadas nos últimos dias, o Brasil distribuiu aos membros do Comitê de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, comunicado em que afirma esperar que eles “não tomem medidas que se constituiriam em restrições arbitrárias ao comércio internacional ou contra as disciplinas do acordo de SPS (de aplicação de medidas sanitárias) e outras regras da OMC”.

Na nota, o governo brasileiro busca contextualizar a operação Carne Fraca e reafirmar a qualidade da carne brasileira. Em duas páginas, o governo afirma que o foco da operação “não é o sistema de inspeção agropecuário e, sim, desvios de conduta de alguns indivíduos”. E lista números que buscam minimizar os achados da PF.

Dos 11 mil funcionários do Ministério da Agricultura, 2.300 são fiscais que trabalham na inspeção sanitária de produtos, e, desses, 33 estão sendo investigados, diz o documento. Além disso, continua a nota, das 4.837 unidades processadoras de produtos aninais submetidas à fiscalização, 21 estão sob investigação e tiveram sua autorização para exportar preventivamente suspensa.

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