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Os norte-americanos têm comido mais frango do que qualquer outro tipo de proteína por duas décadas. | Pixabay/Creative Commons
Os norte-americanos têm comido mais frango do que qualquer outro tipo de proteína por duas décadas.| Foto: Pixabay/Creative Commons

Como se os americanos já não tivessem frango suficiente no cardápio, a produção da carne mais popular no país atravessa o maior crescimento em mais de uma década.

Companhias incluindo a Tyson Foods e a Sanderson Farms estão liderando uma expansão industrial com novas plantas processadoras do Tenessee ao Texas, alimentadas por anos de lucros. O boom financeiro foi impulsionado pela redução nos custos de produção no período, com grãos mais baratos para a alimentação animal, e uma demanda recorde.

Até mesmo a varejista Costco está entrando no negócio, com a construção de sua primeira planta avícola no estado do Nebraska.

Enquanto consumidores norte-americanos comem cada vez mais nuggets, asinhas e peitos de frango desossados, a Sanderson estima que a produção industrial irá aumentar 3% por ano, de 2019 a 2021. Esse é o maior salto desde o ciclo de expansão que se encerrou em 2005, abrindo a possibilidade de uma “briga de cachorro grande” por participação no mercado e colocando em risco os preços, que, no último ano, estavam 10% acima do observado em 2016.

“Eu não vejo essa construção levando a uma quebra de preços, mas certamente vai levar o mercado para longe de qualquer possibilidade de alta”, afirma Tom Elam, presidente da consultoria em avicultura FarmEcon, de Indiana, no Meio-Oeste dos EUA.

Albari Rosa/Gazeta do Povo

Carne mais popular

A indústria tem sido guiada por um boom em lucratividade à medida que os custos mais baixos com alimentação permitiram aos criadores aumentar a produção e chegar a aves maiores. Os norte-americanos têm comido mais frango do que qualquer outro tipo de proteína por duas décadas, mas a demanda decolou mesmo mais recentemente.

O consumo per capita deve fechar 2018 em 42 kg, um aumento de 15% desde 2012, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA.

Enquanto isso, as três empresas que controlam quase metade do abastecimento doméstico nos Estados Unidos (Tyson, Pilgrim’s Pride e Sanderson Farms) apresentam recordes de faturamento, e cada vez mais cedo no ano fiscal.

Ponto de virada

A produção de frango se tornou lucrativa a partir de 2011, quando a disparada nos preços da soja e do milho levou a perdas que forçaram as companhias a cortar operações. Desde então, a produção vem subindo e, neste ano, chegou a quase 19 milhões de toneladas, principalmente pela criação de aves maiores, de acordo com o USDA.

A maior parte da expansão industrial no setor será concluída no começo de 2019. A Sanderson Farms, que abriu sete plantas desde 1993 e tem sido a mais agressiva em relação ao aumento de capacidade, recentemente abriu terreno no Leste do Texas. A Tyson, maior produtora, planeja construir sua primeira unidade avícola em duas décadas, que deve ser inaugurada no Oeste do Tennessee.

A Costco afirma que sua fábrica de US$ 300 milhões no Nebraska vai produzir cerca de 100 milhões de frangos por ano, abastecendo quase um quarto do que suas lojas demandam e reduzindo os custos em 10 centavos por animal, chegando a US$ 0,35/ave.

Albari Rosa/Gazeta do Povo

Mercado inchado?

O ritmo da expansão tem preocupado alguns analistas. As ações das três principais companhias caíram desde o final do ano passado. Os estoques de frango congelado são os maiores em 12 anos para este período, e o USDA prevê que os preços devem recuar 3,2% em 2018, até os US$ 0,95/libra (algo em torno de US$ 2,09/kg). Ainda de acordo com o USDA, a renda nas fazendas deve ser a menor dos últimos doze anos, impactada pelo atual cenário de queda de preço e aumento nos custos de produção.

“Pode ter havido uma expansão maior do que havíamos previsto inicialmente”, reconhece Heather Jones, analista da consultoria Vertical Group. Em outra entrevista, Jones havia afirmado que enquanto o aumento de produção fosse absorvido pelo mercado, “as margens seriam comprimidas”.

A perspectiva de lucros também poderia tropeçar em processos, iniciados por compradores de frango que acusam produtores de conspirar ilegalmente para aumentar preços, além de questionarem qualquer problema em contratos que ajudem a aumentar as exportações norte-americanas de combustível, fabricado basicamente de milho, o mesmo insumo da ração animal.

Ainda: algumas plantas mais antigas poderiam ser fechadas conforme novas instalações, mais eficientes, são inauguradas e nem toda essa capacidade extra seria, necessariamente, usada caso as condições de mercado piorem, diz Christine McCracken, analista do Rabobank.

Alguns produtores não têm escolha, a não ser aumentar sua capacidade, caso realmente esperem encontrar um crescimento da demanda, pois os esforços para chegar a aves maiores podem alterar a textura e a atratividade da carne. Outros necessitam de novas instalações para alcançar as mudanças no perfil dos consumidores.

A Bill & Evans, uma companhia da Pensilvânia especializada em frango orgânico, está construindo uma unidade que irá processar 2,6 milhões de animais por semana quando estiver a pleno vapor, em 2020. Entre os clientes abastecidos pela empresa, estão redes importantes no país, como a Whole Foods Market e a Amazon. “Eu preciso expandir”, diz o proprietário da Bill & Evans, Scott Sechler. “Nós raramente temos mudança nos preços e, quando isso acontece, essa é a única alternativa.”

Albari Rosa/Gazeta do Povo

No Brasil

Embora tenha quase 110 milhões de habitantes a menos que os Estados Unidos – o que explica a diferença em termos absolutos (eles produzem 18,3 milhões de toneladas de frango, ao passo que nós, 12,9 mi (t)) -, o Brasil apresenta um dos consumos per capita mais altos do mundo, inclusive acima dos norte-americanos: 42,5 kg/habitante/ano contra 42 kg/habitante/ano. Isso mesmo considerando uma queda de praticamente 3 kg em virtude da recessão econômica a partir de 2015, que levou a um recuo geral no setor de proteínas.

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, reconhece, contudo, que, apesar da margem de recuperação, o índice também já chegou praticamente a um teto no Brasil. “Há possibilidade de aumentar um pouco, chegar a 43 kg nesse ano, mas não há espaço para um crescimento vertiginoso, como é o caso dos ovos. Entre as aves, o nosso consumo é mais que o dobro da média mundial”, ressalta.

Ainda assim, Turra não vê sinais de ‘sufocamento’ na indústria nacional. Ele aposta que a demanda externa possa fazer frente a uma produção que, hoje, ainda oscila e pode crescer. Atualmente, com cerca de 4,4 milhões de toneladas exportadas (34% da produção total), o Brasil já ocupa a liderança internacional de embarques. “Continuamos sendo competitivos, temos insumos, sanidade”, pontua. “E Há bons espaços. Na Índia, o consumo total de carne por habitante é de 4 kg; a Indonésia consome pouco frango, em torno de 4 kg; e a China tem uma média baixíssima. Nossa meta é continuar abrindo mercados.”

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