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Taxas sobre produtos chineses, adotadas no governo Trump, terão reflexos em vários setores da economia,criticam os empresários. | Qilai Shen/Bloomberg
Taxas sobre produtos chineses, adotadas no governo Trump, terão reflexos em vários setores da economia,criticam os empresários.| Foto: Qilai Shen/Bloomberg

Associações comerciais que representam agricultores, varejistas e indústrias estão juntando forças numa nova companha multimilionária, nesta que é a mais recente tentativa do setor empresarial de encerrar a expansão da guerra comercial travada pelo presidente Donald Trump contra a China.

Grupos vêm negociando há meses para convencer a Casa Branca de que a adoção de tarifas sobre produtos chineses é uma estratégia equivocada, mas foram solenemente ignorados, ao passo que Trump taxava bilhões de dólares em importações de aço e outros produtos vindos do gigante asiático. Contudo, uma nova coalizão, chamada “Americanos pelo Livre Comércio”, está unindo forças com produtores rurais, que buscam mudar a direção assumida em Washington por meio de histórias de empresários, consumidores e agricultores no coração do país que foram afetados negativamente pela política comercial de Trump.

Eles anunciaram a coalizão e um fundo de campanha com mais de US$ 3 milhões, envolvendo a realização de megaeventos em distritos-chave para as eleições do Legislativo norte-americano em 2018, publicidade digital e outras ferramentas para alcançar o congresso e a administração central do país. Mais de 80 membros assinaram uma carta para todos os congressistas, pedindo apoio na luta contra as tarifas e na fiscalização da política comercial.

De acordo com eles, a ideia é espalhar as histórias de pequenos empresários, consumidores e indústrias feridos pelas taxações de Trump, para mostrar que os prejuízos de curto prazo com retaliações da China e outros países não valem qualquer acordo de longo prazo que o presidente almeja conseguir usando as tarifas como trunfo.

“O cálculo político pode fazer a administração crer que esta é uma carta na manga”, afirma Dean Garfield, chefe-executivo do Conselho das Indústrias de Tecnologia da Informação, cujos membros incluem gigantes como a Apple, Google e Microsoft. “Contudo, se nós pudermos mudar essas realidades aqui embaixo, a administração pode repensar.”

Grupos empresariais dos Estados Unidos têm tentado usar o Direito tradicional e até alguns “lobbies” pouco convencionais contra as taxações, incluindo anúncios em programas de televisão que Trump, sabidamente, costuma acompanhar. Esses esforços, porém, não foram suficientes para fazê-lo mudar de ideia no objetivo de taxar as importações de metal e US$ 50 bilhões em produtos chineses. Até agora. A Casa Branca tem uma lista de R$ 200 bilhões em bens passíveis de serem tarifados a qualquer momento, e Trump já ameaçou atingir virtualmente todos os produtos chineses.

O presidente tem conhecimento do impacto das tarifas – especialmente as retaliações sobre a soja e outros produtos agrícolas dos EUA -, tanto que ofereceu US$ 12 bilhões para “socorrer” produtores rurais, que são parte fundamental de sua base política e o ajudaram, inclusive, a ganhar as eleições de 2016 nos estados essencialmente rurais.

Para Brian Kuehl, diretor-executivo da frente “Agricultores pelo Livre Comércio” – organização sem fins lucrativos apoiada pelos maiores grupos agropecuários do país -, a nova campanha irá mostrar os danos que as tarifas trouxeram à economia dos EUA e “as verdadeiras consequências para as famílias americanas”.

A iniciativa é parte da nova coalizão, o que deixa clara a variedade de organizações e companhias que a Federação Nacional do Comércio tem ajudado a liderar. O grupo inclui grandes associações, que vão desde o segmento de brinquedos até a indústria petrolífera e de vestuário.

“Nosso mote imediato é ‘tentar de tudo’”, comenta Nicole Vasilaros, vice-presidente sênior da Associação Nacional da Indústria Marítima e membro da coalizão.

Os grupos, que estão classificando a campanha como o maior esforço jurídico bipartidário contra as tarifas, ilustram a amplitude do impacto que a guerra comercial terá, ressalta David French, vice-presidente de relações governamentais da Associação Nacional de Varejistas: “isso realmente demonstra que toda a economia dos Estados Unidos está abarcada”.

Eles planejam trazer à luz a apreensão de companhias como a Cedar Electronics, que tem sede em Chicago e é dona da marca de rádios Cobra, além de fabricar outros componentes eletrônicos e automotivos. A empresa emprega 190 pessoas e frisa que não teria transferido algumas de suas vagas nas Filipinas, no Sudeste da Ásia, para sua fábrica em Ohio, nos EUA, se soubesse que algumas das matérias-primas que precisam ser trazidas da China se tornariam alvo das tarifas, conforme o CEO Chris Cowger. O executivo diz que a companhia pode não ter outra escolha a não ser repassar os custos mais altos aos consumidores finais, além de gastar tempo, energia e dinheiro para lidar com os problemas comerciais em vez de desenvolver novos produtos. “Estou mais do que frustrado”, lamenta. “Eu deveria estar gastando meu tempo para fazer a empresa crescer.”

É possível que Donald Trump mude seus planos apenas se o mercado de ações ou a economia do país recuarem. Os empresários acreditam, todavia, que, quanto mais a coalizão bater nesta tecla, de que a guerra é ruim par a economia, mais efetiva a estratégia será, pontua Gary Shapiro, da Associação de Consumidores de Tecnologia. “Não vou mentir e dizer que estamos 100% confiantes de que a campanha será um sucesso”, admite. “Estamos fazendo o possível, todos nós estamos fazendo tudo de novo que está ao nosso alcance.”

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