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Espetinhos árabes, também conhecidos como kafta: países da Liga Árabe é o maior fornecedor de proteína animal para os países árabes | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Espetinhos árabes, também conhecidos como kafta: países da Liga Árabe é o maior fornecedor de proteína animal para os países árabes| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Os países árabes nunca deram tanto lucro ao Brasil como em 2017. A balança comercial com as 22 nações da Liga Árabe bateu recorde, com superávit de R$ 7 bilhões - US$ 13,5 bilhões em exportações e US$ 6,5 bilhões em importações, segundo levantamento da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

Há um bom motivo para esse saldo: a confiança dos países majoritariamente muçulmanos na produção brasileira da carne halal, que segue uma série de exigências religiosas. “O Brasil é o maior fornecedor de proteína animal para os países árabes, o que representa 23% do total das carnes exportadas”, afirma o presidente da câmara, Rubens Hannun.

Quase US$ 4 bilhões (um terço) da receita de exportações para os países árabes foram de carne de frango ou bovina. “Às vezes acompanho sheiks em frigoríficos que querem levar o exemplo brasileiro para produzirem em seus próprios países”, revela Ali Saifi, diretor executivo da Cdial Halal, uma das empresas certificadoras de alimentos produzidos para praticantes da religião islâmica.

Mesmo com a Operação Carne Fraca, houve crescimento de receita (veja o gráfico) nas vendas de carne de frango e bovinos, na comparação com 2016.

Produção de carne halal no Oeste do ParanáArquivo/Gazeta do Povo

“Estabelecemos um comitê de crises para diagnosticar a situação e dar total transparência. Imediatamente promovemos uma reunião do Ministério da Agricultura com os embaixadores árabes em Brasília e fizemos ações nos países, com uma missão do ministro Blairo Maggi em quatro grandes países compradores”, reforça Hannun. “Foi um momento difícil, mas todo mundo trabalhou forte: o Ministério da Agricultura, as associações certificadoras, frigoríficos e câmaras de comércio”, destaca Ali Saifi.

Em volume, a quantidade exportada foi similar: de 266 mil toneladas de carne bovina (considerando congelada, fresca e refrigerada) em 2016 para 258 mil em 2017. Em frango, de 1,66 milhão de toneladas em 2016 passou para 1,63 milhão.

Países que fazem parte da Liga Árabe

Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Catar, Comores, Djibouti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Palestina, Síria, Omã, Somália, Sudão e Tunísia.

De olho em novos mercados

O gasto muçulmano com a economia halal atingiu US$ 2,1 trilhões em 2016 e apenas o setor de alimentos e bebidas movimentou US$ 1,24 trilhão, de acordo com o Centro de Desenvolvimento da Economia Islâmica de Dubai (DIEDC).

Neste sentido, a Indonésia pode ser o próximo mercado a ser atendido pelo ‘açougue’ brasileiro. Em um país com 260 milhões de pessoas, 202 milhões são muçulmanos – 13% da população islâmica do planeta. Em outubro, foi assinado um acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), que concretiza as exportações de frango para esse mercado, após 10 anos de negociações. “Isso representa um potencial em torno de US$ 80 milhões”, destaca Ali Saifi.

O presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira lembra ainda da participação em eventos empresariais: “Vamos participar em fevereiro da Gulfood, em Dubai, a maior feira de alimentos do Oriente Médio e a segunda do mundo”. Lá será promovido um churrasco, e posteriormente outro evento será realizado em Abu Dhabi, no Brazilian Festval.

Em solo brasileiro, dia 2 de abril, em São Paulo, acontece o Fórum Econômico Brasil Países Árabes.”Teremos representantes, como o secretário da Líbia e, provavelmente, a abertura do presidente brasileiro”, afirma Rubens Hannun. Ele reforça ainda o crescimento das exportações de açúcar e que até bois vivos já foram exportados para o Kwuait. O especialista da Cdial Halal salienta: “Produzimos somente 33% de nossa capacidade para os países muçulmanos. A expectativa é que até 2020 as exportações cresçam 60%”.

Mercado empregador

O mercado halal, além de receita, gera milhares de empregos. “A própria BRF criou uma empresa dedicada ao mercado Halal, com a marca One Foods”, lembra Ali Saifi.

No Norte do Paraná, a Frangos Pioneiro, de Joaquim Távora, criou uma unidade de produção de carne halal em 2010. Com cerca de 20% da produção destinada ao mercado externo, especialmente Ásia e Oriente Médio, o frigorífico tem mais de 2,5 mil funcionários em uma cidade de 10 mil habitantes.

“Começamos [os abates halal] após uma demanda do Oriente Médio, então buscamos uma unidade certificadora, para atendermos aos requisitos tanto de religião quanto de rotulagem. Foi uma transição tranquila, sem muita burocracia. Uma das questões era a sangria ser voltada para Meca, o que exigiu uma adaptação do abatedouro. A cada três meses, recebemos um supervisor da certificadora, mas já tivemos visitas da Arábia Saudita e do Iraque, em missões veterinárias que verificam aspectos não só de religião, como de qualidade”, comenta Walter Jark Neto, gerente de qualidade, liberação e aprovação da Frangos Pioneiro.

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