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A crise econômica atrapalha planos de expansão do segmento de saúde animal no Brasil, mas multinacionais apostam que os fundamentos do mercado do boi são favoráveis para o crescimento no longo prazo. Minimizando os riscos da recessão, as empresas querem atrair pecuaristas interessados em assegurar produtividade. O desafio, dizem, é aumentar a sua base de clientes, convencendo fazendeiros de médio porte que o investimento em sanidade animal é importante para a profissionalização da pecuária.

A Zoetis, antiga subsidiária da Pfizer, avalia a atual turbulência econômica e política como um "soluço" e diz que segue investindo no País. A MSD Saúde Animal, da norte-americana Merck & Co., está preocupada com o crédito mais limitado, mas diz que o agronegócio é tido como "porto seguro" na crise.

O presidente da MSD no Brasil, Edival Santos, lamenta o aperto monetário, que eleva juros e restringe o acesso ao crédito. "Há riscos para o nosso segmento devido à situação macroeconômica. Muitos produtores dependem de crédito e houve um aumento da inadimplência", afirma o executivo. Santos não cita o porcentual da clientela que tem atrasado pagamentos, mas indica que o movimento ainda é pequeno. "É preciso estar atento, então temos sido mais rigorosos [com os clientes]", ressalva. Fora do país, a queda na atividade econômica também preocupa. "É um ponto a ser observado. Eu também quero entender mais sobre a desaceleração na China e os efeitos no consumo de proteínas", afirma Santos.

O diretor da unidade de negócios bovinos da Zoetis, Angelo Melo, garante que as operações brasileiras prosseguem mesmo diante das dificuldades enfrentadas pelo país. "Ficaremos aqui independentemente da turbulência macroeconômica e da situação política. Nossos planos continuam", afirma. Para Melo, os fundamentos para a produção de bovinos são sólidos e competitivos no médio e no longo prazo, em um cenário global. "Em nossas análises, consideramos que o segmento de bovinos é um em que a Zoetis precisa ficar", diz o representante.

Dólar

Um dos efeitos da instabilidade político-econômica é a alta do dólar, que superou a marca de R$ 4 à vista no balcão na última terça-feira e atingiu o maior valor desde a criação da moeda brasileira. A mudança cambial impacta o resultado final das empresas, que até registram queda nas receitas aos olhos de suas matrizes, ainda que tenham expandido suas operações no período.

A Zoetis, por exemplo, gerou US$ 131 milhões no Brasil no primeiro semestre de 2015, resultado 11% menor que o do mesmo período do ano passado (US$ 147 milhões). Isso porque o avanço operacional (11%) foi apagado pela variação cambial do período, que foi de 22%. A Merck não divulga dados por país, mas teve faturamento de US$ 840 milhões em sua divisão animal no segundo trimestre deste ano, resultado 4% menor no comparativo com 2014. Em seu balanço, a farmacêutica destaca que teria expandido suas receitas, se não fosse o impacto negativo da variação cambial, estimado em 14%.

A valorização do dólar incentiva a exportação e eleva os custos com parte dos insumos, o que deve impactar os preços dos produtos de saúde animal no Brasil. Na questão da alta preços, Melo, da Zoetis, indica que a companhia tem maior resiliência neste cenário, pois tem parte de sua produção no país, com uma fábrica em Campinas e outra em Guarulhos, que é dividida com a Phibro. "Não posso dizer que o câmbio não nos impacta, mas temos ferramentas para mitigar essa situação", afirma. A MSD também possui laboratórios dedicados a produtos de saúde animal no país.

A queda do real favorece os embarques de carnes e lácteos, o que aumenta os rendimentos dos produtores e ajuda a cadeia de saúde animal a crescer. "A exportação é boa como um todo, pois reduz a oferta disponível no mercado interno [elevando preços]", observa Melo. O diretor da Zoetis pontua que multinacionais do segmento têm auxiliado o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e entidades a destravar mercados e a mitigar riscos de imposição de barreiras comerciais e sanitárias. Segundo Melo, a Zoetis aplica no Brasil medicamentos que são registrados em mercados-chave, o que é um ponto positivo na hora de avaliar a sanidade do rebanho nacional.

Fundamentos

Os executivos acreditam que as dificuldades econômicas e políticas não devem impactar seus negócios em moeda local no curto prazo. "Nosso objetivo para este ano é crescer acima de 10% e isso só não vai ocorrer se tivermos um desastre", afirma Santos, da MSD. A projeção também considera os negócios em animais domésticos e outros mercados. A Zoetis não divulga guidances para o ano, mas Melo afirma que os resultados da divisão de bovinos seguem "dentro do planejado", mesmo ante a crise.

Os motivos por detrás da expansão são a ampla base de clientes ainda a ser explorada pelas farmacêuticas e as perspectivas positivas para a produção de carnes no País. "O alicerce da produção de proteína no Brasil é muito forte", diz o presidente da MSD. Detentor do maior rebanho comercial do mundo, estimado pelo Mapa em 210 milhões de cabeças, o Brasil passa por mudanças na atividade pecuária que demandam maior eficiência, aquecendo a demanda por produtos de saúde animal. "A pecuária tem que ocupar menos área, cedendo espaço para a soja e o milho, então é preciso aplicar tecnologia", afirma Santos.

Nesse ponto, a dificuldade é captar clientes que não atuem apenas em fazendas de grande porte - perfil atual da maior parcela dos compradores. Para cativar e fidelizar a clientela, ambas as companhias apostam no contato direto com os produtores. Consultores visitam propriedades e estabelecem laços profissionais com seus proprietários, ajudando-os a encontrar saídas para ampliar sua rentabilidade - uma delas passa pela saúde animal. "Precisamos trabalhar para que as tecnologias cheguem aos produtores de pequeno e médio porte. Optamos por estar perto de nossos clientes e sermos parceiros em escolhas para alavancar a sanidade do rebanho", diz Melo, da Zoetis.

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