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Embarque de soja no Porto de Nova Palmira, no Uruguai: países sul-americanos são a alternativa da China para o grão norte-americano.
Embarque de soja no Porto de Nova Palmira, no Uruguai: países sul-americanos são a alternativa da China para o grão norte-americano.| Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo

A guerra comercial do presidente Donald Trump deve mudar para sempre a forma como a maior importadora de produtos agrícolas, a China, compra sua soja. Essa é a opinião da Archer-Daniels-Midland (ADM), uma das maiores traders de commodities agrícolas do mundo.

A disputa tarifária, que já encolheu as compras de grãos oriundos dos Estados Unidos, provavelmente significará que a China tentará reduzir sua dependência do grão norte-americano comprando de outros lugares e melhorando os rendimentos de sua própria produção, conforme análise do diretor-financeiro da ADM, Ray Young.

"Não devemos ser ingênuos em assumir que a longo prazo a China não vai querer tornar-se mais autossuficiente em seu próprio suprimento de produtos agrícolas", disse ele durante um simpósio do Fed Ag realizado nesta semana (16/07). "Acho que esse tem sido um alerta para eles em termos de entender o relacionamento entre os EUA e a China e como eles verão a segurança alimentar no futuro", complementou.

O país asiático impôs tarifas retaliatórias de 25% sobre a soja americana há mais de um ano, interrompendo os embarques antes de algumas compras eventuais realizadas em dezembro de 2018 e no início deste ano. Desde então, o país passou a comprar da América do Sul, em especial do Brasil e da Argentina.

Ao mesmo tempo, a propagação da peste suína africana na Ásia reduziu as necessidades de soja da China, por causa da redução dos planteis de suínos. Com isso, as importações chinesas da oleaginosa provavelmente ficarão entre 80 e 85 milhões de toneladas. Antes da guerra comercial, da peste suína e da desaceleração econômica chinesa, as expectativas eram de compras de 100 milhões a 105 milhões de t, segundo Young.

"Entrando na guerra comercial, pensava-se que a China não poderia sobreviver sem comprar qualquer soja norte-americana", afirma o consultor. "Está errado. A China pode sobreviver sem comprar soja norte-americana, em parte devido à questão da peste suína que se desdobrou."

Por outro lado, a ADM diz acreditar que a briga comercial será resolvida em algum momento, resultando mais compras de commodities agrícolas dos EUA, incluindo soja e etanol. Mas a longo prazo, os norte-americanos precisarão se afastar da China e encontrar outros usos para soja e milho, segundo a empresa.

O lucro com a soja na China é um pouco mais do que a metade do valor nos EUA, e a nação asiática procurará melhorar esses números, segundo Young. A China também está realizando uma reforma agrária, que deve consolidar fazendas em estruturas maiores e permitir mais melhorias agronômicas.

"Houve uma razão pela qual a ChemChina [estatal química chinesa] comprou a Syngenta; eles estão trazendo a tecnologia para melhorar o rendimento lá, então você vai ver todo o setor agrícola na China melhorar em termos de produtividade", afirma Young. "Quando você começa a consolidar fazendas, você leva tratores John Deere para lá e gera uma produtividade significativa."

Em uma tentativa de depender menos de empresas como ADM e Cargill, a China criou a Cofco International, uma companhia formada a partir da aquisição da trading holandesa de grãos Nidera e da divisão agrícola do Noble Group, conforme explica Young. O braço comercial da maior empresa de alimentos da China já é um importante player na América do Sul.

"A agricultura dos EUA terá de depender menos da China como destino para a soja e outros produtos agrícolas", sentencia o diretor financeiro da ADM. "Quando pensamos sobre a psicologia dos relacionamentos entre os EUA e a China, chegamos a essa conclusão de que eles vão tentar descobrir como se tornar menos dependentes dos EUA a longo prazo", finaliza.

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