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Foto mostra barracão típico de armazenagem dos EUA, de cor branca e com telhado em forma de metade de um losango. Na parede frontal uma bandeira americana. Ao lado do barracão, um silo. No primeiro plano, um cavalo pasta em relva verde.
Produtores americanos enfrentam o maior atraso de plantio já registrado desde 1980.| Foto: Arquivo / Gazeta do Povo

O agricultor Clay Govier sabe que não poderá levar as plantadeiras a campo nos próximos dias por que o solo estará encharcado, de novo, por uma chuva torrencial prevista para o Meio-Oeste e as Grandes Planícies dos Estados Unidos.

Apesar de ganhar uma folga indesejada no trabalho, o produtor se manterá ocupado na resolução de um dilema: quando a chuva passar, precisará ter decidido se é mais lucrativo plantar milho ou soja. Ou então não plantar nada e dar entrada no pedido do seguro rural. Para piorar o cenário, ainda há muita confusão sobre como funcionará o pacote de ajuda governamental para os agricultores atingidos pela guerra comercial com a China.

“No momento, até parece um enigma”, disse Govier em entrevista por telefone. É uma decisão que todos os agricultores americanos terão de tomar nos próximos dias, depois de uma temporada de chuva ter provocado atraso histórico no cronograma de plantio de milho. Apesar de o clima úmido ter elevado os preços do grão em Chicago ao patamar mais alto em um ano, não se espera uma correria para plantar milho quando o sol abrir.

Os produtores precisam se certificar de fazer o cultivo dentro do calendário exigido pelas políticas de proteção das safras, que garantem indenização em caso de queda de preços ou frustração da colheita. O plantio atrasado também pode diminuir a produtividade das lavouras, uma vez que empurrará fases críticas de desenvolvimento para o auge do calor do verão.

Existe um velho adágio que diz que “perde-se por dia um balaio quando se planta milho depois de meados de maio”. Michael Cordonnier, da consultoria Soybean & Corn Advisor, de Illinois, diz que as coisas não são tão simples. Para o plantio de 20 a 25 de maio, as perdas de produtividade do milho, por acre, podem ser de apenas um terço ou meio bushel. De 25 a 30 de maio, a possível redução é de três quartos de bushel. De 1º a 5 de junho, a redução salta para até dois bushels por acre. “As perdas aceleram na medida em que se avança no calendário”, aponta Cordonnier.

Outra opção para os produtores é acionar a política de seguro rural para casos de “impossibilidade de plantio”, que indeniza quem não consegue fazer a semeadura devido a condições climáticas extremas.

Simplesmente "pegar dinheiro"
Para o estrategista de commodities agrícolas da Bloomberg Intelligence Mike McGlone, “o menor percentual de cultivo de milho para este período desde 1980, o clima mais úmido já registrado e os temores de agravamento da guerra comercial são fortes incentivos para, simplesmente, pegar o dinheiro da ajuda do governo”.

Isso se o produtor não mudar a intenção de plantio para a soja, que tem um ciclo produtivo mais curto e minimiza o risco de a colheita não estar pronta antes de o inverno chegar. Apesar de o plantio de soja também ter atrasado por causa da chuva, a decisão de migrar do milho vai depender do programa de ajuda do governo Trump aos produtores atingidos pela guerra comercial com a China.

Segundo uma fonte do governo, discute-se nos bastidores a proposta de pagamento de dois dólares por bushel aos produtores de soja e quatro centavos de dólar por bushel aos produtores de milho. Para produtores como Clay Govier, esses valores podem fazer valer a pena a migração para a soja.

Até que seja oficialmente anunciado, o pacote de ajuda ainda pode ser ajustado a qualquer momento pelo presidente Trump. “Os detalhes do novo programa de mitigação de danos comerciais virão à tona em breve, mas queremos evitar que possam distorcer as decisões de plantio em qualquer sentido”, diz uma nota oficial do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Segundo a secretária de Imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, “o governo quer assegurar que os agricultores estejam protegidos na medida em que se avança no processo de negociar novos acordos agrícolas”.

O produtor Robb Ewoldt, que cultiva milho e soja numa propriedade rural no leste de Iowa, próximo ao rio Mississipi, plantou até agora apenas 20% do milho e 60% da soja. Mas parte da soja terá de ser replantada. Ele nunca pediu indenização antes por impossibilidade de plantio, mas também nunca esteve tão atrasado com a semeadura. Ewoldt diz que todas as opções estão abertas.

Ajuda financeira não é “algo que se deva desprezar”, diz Ewoldt. “Vem aí uma nova semana de chuva e teremos bastante tempo para refletir sobre isso. Vamos fazer cálculos”.

Para Karl Setzer, consultor da Agrivisor, em Bloomington, Illinois, ainda falta conhecer os detalhes do pacote de ajuda do governo, antes de analisar seus efeitos. “Não sabemos em que base serão feitos os pagamentos, se pelo impacto no plantio ou pela produção do ano passado”.

Se os pagamentos forem vinculados à produção de 2018/19, poderá haver um forte incentivo ao cultivo da soja – avalia Scott Irwin, economista da Universidade de Illinois. “Será exatamente o oposto do que precisamos hoje no mercado, que já está com excesso de oferta de soja”, salienta.

O produtor Clay Govier acredita que poderá ser mais lucrativo recorrer ao seguro rural para áreas que não conseguiu cultivar do que optar pela soja. Por enquanto, com a chuva caindo, ele acha que o milho é uma carta fora do baralho. “Querendo ou não, vamos ter que tirar uma folga no feriado do Memorial Day (27/05)”.

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