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Faltando ainda um mês e meio para virar o semestre e os carros zero km já sofreram até três altas nos preços em 2019. Os reajustes vão na contramão das vendas, que têm crescido regularmente - aumento de 10% no primeiro quadrimestre -, o que mostra que o consumidor não deixa de comprar um zero km, mesmo com a etiqueta mais salgada.

Com auxílio da Jato Dynamics, consultoria especializada no setor automotivo, levantamos as variações nas tabelas sugeridas de fábrica dos dez carros mais vendidos no Brasil. E constatamos que a maioria teve alteração média para cima, com diferença que chega a R$ 4,2 mil de dezembro de 2018 para cá.

É justamente o caso do Volkswagen Polo, 10º veículo mais emplacado no Brasil. No fim do ano passado, a configuração 1.6 automática saía por R$ 62.690. Em janeiro, subiu para R$ 64.850 e em março pulou para R$ 66.890, com a chegada da linha 2020 às lojas.

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A nova geração do Polo estreou no Brasil em 2017. Foto: Volkswagen/ Divulgação
A nova geração do Polo estreou no Brasil em 2017. Foto: Volkswagen/ Divulgação

Todo o catálogo da nova geração do hatch 'premium' ficou R$ 1,6 mil mais caro. A configuração de entrada 1.0 MPI, por exemplo, variou de R$ 50.670 para R$ 53.590 no período de quatro meses - diferença de quase R$ 3 mil.

Um dos motivos que justificaria essa alta no valor do Polo é a adoção do controle de estabilidade e de tração, do assistente de partida em subida e do bloqueio de diferencial também nas versões 1.0 e 1.6 (dispositivos já presentes nas opções com motores 1.0 turbo). Na configuração 1.0, o computador de bordo também virou item de série.

E deixar o veículo mais recheado impacta diretamente nos preços à medida que a linha é atualizada, segundo o consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive. Para ele, além do acréscimo de itens de série, há outros fatores que compõem a variação no preço do automóvel. Esta equação leva em conta a mudança de linha e até o percentual de conteúdo importado em cada modelo.

"Muitos componentes de conectividade e tecnologia, mesmo de carros produzidos aqui, são tarifados em dólar. E a alta da moeda americana acaba sendo repassada ao consumidor", salienta o especialista.

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O consultor ressalta ainda que na conta final entra também a flutuação no valor do aço e do alumínio, presentes na carroceria e no motor, e o custo da mão de obra (reajustes salariais), que todo ano é corrigido pela inflação, no mínimo.

Reposição de preços defasados

O Volkswagen Gol acompanhou a alta do irmão maior e registrou uma elevação de até R$ 3,5 mil, praticada pela versão 1.6 automática. Seu preço era de R$ 54. 580 em dezembro passado, passou para R$ 57.260 no mês seguinte e a R$ R$ 58.120 em maio, curiosamente um mês depois de mudar para a linha 2020 e sem nenhum acréscimo de equipamentos.

O veterano Gol é o modelo mais vendido da Volkswagen no Brasil. Foto: VW/ Divulgação
O veterano Gol é o modelo mais vendido da Volkswagen no Brasil. Foto: VW/ Divulgação

A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com a Volkswagen do Brasil em busca de explicações mais detalhadas sobre os reajustes feitos em 2019, mas até o fechamento desta matéria não obteve as respostas.

Um dos questionamentos feitos à montadora alemã é se a forte queda nas exportações, em decorrência da crise na Argentina, teria refletido nas mudanças praticadas no mercado brasileiro como forma de compensação.

A Volks é a marca que mais exporta no Brasil, sendo que 60% da produção da marca destinada a este fim vão para o consumo argentino.

Garbossa lembra também que diante a insegurança da economia em anos anteriores, as montadoras represaram os preços dos veículos em 2017 e 2018 para não perderem mercado e retomar o crescimento.

Com o aquecimento das vendas esses preços estão sendo revisados. Na opinião dele, há uma adequação natural e periódica das fabricantes para recuperar os valores defasados.

A velha máxima de que "time que está ganhando não se mexe" não serve para o Renegade. A Jeep foi outra marca a inflacionar a tabela. Subiu o preço do utilitário em até R$ 3 mil, o que não impediu que o SUV compacto mantivesse a liderança do segmento, conquistada em janeiro.

Só que a montadora do grupo FCA usou como estratégia segurar os valores das versões mais acessíveis para não comprometer o volume de vendas. Com isso a opção de entrada 1.8 Sport automática continua oferecida a R$ 69.990 desde o ano passado, no limite do preço para atender o público PcD (pessoa com deficiência), que hoje representa uma boa fatia nas vendas diretas de vários modelos.

Os aumentos significativos aparecem nas versões intermediárias e mais completas do Renegade, com preços que vão de R$ 100 mil a R$ 140 mil.

Geração nova, preço em queda

A Hyundai foi mais uma marca a rever a tabela em 2019. O HB20 teve R$ 580 de acréscimo em sua linha. A maior alta foi da versão 1.6 Premium automática, a segunda mais cara da gama. Subiu de R$ 66.790 em dezembro de 2018 para R$ 68.990 em maio (R$ 2,2 mil de majoração). Nas opções intermediárias, a valorização ficou entre R$ 1 mil e 1,4 mil.

No começo deste ano o hatch incorporou a central multimídia de 7” com TV Digital e espelhamento com Android Auto e CarPlay em quase todas as versões, exceção apenas à de entrada Unique.

De qualquer forma, a alta soa estranha, uma vez que o modelo ganhará um facelift no segundo semestre. A regra de mercado diz que quando há reestilização ou nova geração pela frente, a tendência é de que os preços reduzam.

É o que ocorreu com o Chevrolet Onix, por exemplo, um dos três exemplares do top 10 que tiveram queda nos preços. O modelo mais vendido do país mudará de geração e ganhará motores turbo em breve.

O hatch registrou uma diminuição nos preços de até R$ 1,4 mil entre dezembro e maio. As mudanças na tabela do Onix têm uma particularidade. A maioria das alterações feitas ao longo deste primeiro semestre elevou o preço do Chevrolet, porém, a ser comparado com o tíquete de 2018, a tabela regrediu.

É o caso da configuração 1.0 LT. Ela baixou de R$ 48.890 no fim do ano passado para R$ 47.490 em abril ( -R$ 1,4 mil). Das 10 versões do Onix disponíveis, nove tiveram redução. A única que destoou foi a de entrada 1.0 Joy, que saltou de R$ 44.990 para R$ 46.590 (+R$ 1,6 mil).

"Quando a montadora anuncia que lançará um carro novo até fim do ano, se ela mantém o preço lá em cima, no mesmo patamar dos concorrentes, o cliente tende a não comprar à espera da novidade. Agora se o valor baixa, motiva o consumidor a comprar ", analisa Garbossa.

Já o Argo não prevê uma atualização a curto prazo, mas a Fiat promoveu descontos generosos na tabela de algumas versões do hatch. A 1.8 Precision automático, por exemplo, teve um alívio de R$ 5,4 mil desde dezembro - e de R$ 6,4 mil na mudança da tabela de março para abril.

A topo de linha 1.8 HGT automático, a queda foi R$ 3,8 mil - de R$ 5 mil de nos últimos dois meses. A marca italiana afirmou que pretende fechar 2019 com o Argo na quinta posição no ranking dos carros mais vendidos no Brasil - atualmente é o sétimo.

E essa meta passa por incentivar a compra das opções mais completas do Argo, descolando as etiquetas do rival direto VW Polo. Nas opções mais acessíveis, o hatch da Fiat vai muito bem nas vendas, tanto que a Fiat se deu ao luxo de aumentar a tabela em R$ 1,7 mil na de entrada 1.0 (de R$ 47.290 para R$ 48.990) e e R$ 2,4 mil na 1.0 Drive (de R$ 50.290 para R$ 52.290).

Crescimento x lucratividade

No momento atual do mercado, algumas montadoras buscam a retomada do crescimento nas vendas, abrindo mão do pilar da lucratividade em segmentos de entrada. Com isso, a rentabilidade recai sobre produtos de maior valor agregado, analisa Antônio Jorge Martins, coordenador do MBA em Gestão Estratégica de Empresas da Cadeia Automotiva da FGV.

Hoje as marcas estão muito concentradas nos SUVs, que viraram o sonho de consumo dos brasileiros", cita o professor, em referência a produtos mais rentáveis que os modelos de entrada.

"Eu vejo as montadoras atualmente buscando mais escala do que rentabilidade nas vendas. É lógico que o lucro é importante, mas de uma forma geral não tem como priorizar os dois pilares", pontua.

Há casos em que a forte demanda em relação a um determinado produto permite que marcas consigam reajustar os preços, mesmo que seja em pequenos percentuais.

Antônio Jorge cita o exemplo do Renault Kwid, quinto carro mais licenciado do mercado nacional. Para ele, o sucesso de uma montadora está relacionado a boa aceitação do mercado de pelo menos um dos seus automóveis. "É uma forma de a marca ficar sempre na boca do povo", frisa.

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Renault Kwid. Foto: Rodolfo Buhrer / La Imagem / Renault
Renault Kwid. Foto: Rodolfo Buhrer / La Imagem / Renault

O professor da FGV lembra que o Captur ainda não caiu no gosto do consumidor, comprometendo uma melhor rentabilidade no segmento de SUVs. Assim, cabe ao Kwid assumir tal papel. Por isso, a Renault mexeu na tabela do subcompacto em até R$ 800 e ainda ampliou o portfólio com o lançamento da versão aventureira urbana Outsider.

"A inovação no processo de venda do Kwid via internet fez o modelo ser bem aceito pelo público", destaca.

Desvalorização do real

A Toyota deixou de figurar com um modelo entre os 10 mais vendidos - o Corolla é o 15º -, mas a fabricante japonesa chamou a atenção por também aumentar os valores de sua linha de produtos.

Em alguns modelos e versões a etiqueta encareceu cerca de R$ 6 mil em apenas cinco meses. É o caso da versão de entrada do Toyota Yaris hatch, cujo preço sugerido era de R$ 60.290 em dezembro do ano passado, passou para R$ 61.590 em janeiro deste ano, e abriu maio a R$ 66.190 - uma elevação de 10%. A variação média na linha do modelo foi de R$ 3,5 mil.

Yaris Sedan, Hilux, SW4 e Etios também ficaram mais caros no mesmo período. A versão topo de linha da SW4 registrou o maior salto, de R$ 270.374 em dezembro de 2018 para R$ 274.790 em maio - diferença de R$ 4,4 mil. A variação média em toda a linha do SUV grande foi de R$ 3,5 mil.

"Os reajustes nos preço fazem parte da estratégia comercial de qualquer empresa, naturalmente. Mas é inegável que a desvalorização do real e a variação inflacionária tendem a pressionar os custos de produção, uma vez que a cotação de muitos insumos e matérias-primas oscilam de acordo com a taxa de câmbio", justific Vladimir Centurião, diretor de Marketing, Vendas e Pós-Venda da Toyota do Brasil.

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O executivo diz que a empresa monitora atentamente o mercado automotivo e o movimento da demanda dos clientes para garantir a sustentabilidade dos negócios no país. Apesar das altas nos preços, Centurião avalia que a retomada do mercado é reflexo das melhoras macroeconômicas como a queda da taxa de juros e o ascensão ao crédito, que estimulam as compras, aquecendo o setor.

Seja para cima ou para baixo, o consumidor está de olho nesta flutuação e mais exigente na compra do automóvel, de acordo com Paulo Garbossa. Ele tem feito uma pesquisa prévia nos valores dos modelos desejados e, caso haja discrepância na tabela de carros similares, tende a buscar o mais em conta ou exigir da concessionária um preço mais parecido ou então condições vantajosas para a aquisição.

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