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Fábrica de carros elétricos da Tesla, em Fremont, Califórnia, nos EUA.
Fábrica de carros elétricos da Tesla, em Fremont, Califórnia, nos EUA.| Foto: Christie Hemm Klok/NYT

O sedan elétrico Model 3 da Tesla foi anunciado neste ano pela Consumer Reports como o carro mais satisfatório do mercado. Mas os proprietários começaram a se queixar de que os carros haviam chegado com vidros trincados, vazamentos ou telas de vídeo pouco confiáveis. Resultado: em alguns lugares, a Tesla lançou mão de oficinas locais para reparar arranhões e outros defeitos de pintura antes que os carros fossem entregues aos clientes.

Em Rocklin, na Califórnia, perto de Sacramento, a Kniesel's Collision costuma retocar os carros zero quilômetro para o centro de entrega da Tesla da região. "Às vezes, o transporte danifica a tinta. Às vezes, há problemas de fábrica", disse Justin Kniesel, diretor de operações da cadeia.

A Tesla diz que fez melhorias de design e fabricação nos últimos meses que reduziram significativamente os problemas de qualidade. Mas a empresa e seu executivo-chefe, Elon Musk, estão tendo de lidar com alguns problemas mais básicos e a Tesla está realmente sendo colocada a prova.

A demanda do sedan de luxo Model S e do SUV Model X está tão baixa que a montadora recentemente diminuiu os preços para atrair compradores. Alguns dos apoiadores mais determinados da empresa se sentem um tanto pessimistas. Nos três primeiros meses do ano, a empresa de investimento T. Rowe Price, que já foi uma das maiores acionistas, vendeu 80% de suas ações da Tesla, de acordo com documentos regulatórios.

No início da semana passada, as ações passavam pela maior baixa dos últimos três anos. A situação melhorou um pouco após relatos, em duas publicações on-line, de um crescimento de vendas no segundo trimestre, uma probabilidade que Musk mencionou em um e-mail para os funcionários em maio. Mesmo assim, as ações caíram mais de 40% nos últimos seis meses, uma perda de quase US$ 30 bilhões.

A Tesla continua a ser uma força na indústria. O Model 3, no mercado há apenas um ano, é o carro de luxo de médio porte mais vendido, ultrapassando modelos populares movidos a gasolina, como o BMW 3 Series e o Mercedes-Benz C-Class. Audi, Mercedes e Jaguar produziram modelos elétricos, mas nenhum deles se equipara ao poder da bateria da Tesla.

E, no começo do ano, os maiores problemas da empresa pareciam ser coisa do passado. Após as dificuldades iniciais de produção com o Model 3, sua linha de montagem em Fremont, na Califórnia, começou a liberar o novo sedan, e os clientes lotavam as lojas. Houve lucro no terceiro e no quarto trimestres de 2018. Musk estava confiante o suficiente para prever que a empresa permaneceria rentável "em todos os trimestres daqui para a frente".

Mas o negócio meio que descarrilou. Em primeiro de janeiro, o crédito tributário federal disponível para clientes da Tesla caiu de US$ 7.500 para US$ 3.750. Isso efetivamente aumentou o custo dos carros e fez as vendas diminuírem nos Estados Unidos. As vendas do Model 3 na Europa e na China tiveram um início acidentado. Depois de despedir 7% de sua força de trabalho, a Tesla relatou uma perda de US$ 702 milhões no primeiro trimestre. A empresa acredita que perderá dinheiro novamente no segundo trimestre.

Os dados mais recentes sugerem que as vendas continuam difíceis nos Estados Unidos. De acordo com o Dominion Cross-Sell Report, uma compilação feita a partir de registros estaduais de veículos motorizados, os registros de novos carros Tesla melhoraram desde o início do ano, mas permanecem abaixo dos níveis do quarto trimestre.

Em abril, 11.707 novos Teslas foram registrados nos 23 estados abrangidos pelo relatório. Esses estados incluem Califórnia, Texas, Flórida e Washington, grandes mercados da Tesla. Em janeiro, os registros nos mesmos estados totalizaram 23.310 carros. Esses números tendem a refletir as entregas do mês anterior, porque os dados são frequentemente compilados algumas semanas depois que os carros são realmente vendidos.

Em um e-mail da empresa de 23 de maio, Musk disse que a Tesla havia recebido mais de 50 mil encomendas desde primeiro de abril e tinha "uma boa chance" de entregar mais de 90 mil carros neste trimestre "se trabalhasse duro". Mas a maioria dos analistas espera apenas de 70 mil a 80 mil entregas.

Em um follow-up em 29 de maio, Musk disse aos funcionários que a empresa deve ser mais rápida para atingir seu objetivo de vendas. "Precisamos concluir um monte de entregas de veículos para termos um trimestre de sucesso", disse ele.

Os relatórios que acompanharam as ações da Tesla no início de junho – dos sites "Electrek", que escreve favoravelmente sobre a Tesla e seus veículos, e "Inside EV" – ainda apontavam para taxas de vendas ou de registro aquém dos objetivos da empresa.

O Model 3 deveria se tornar um campeão de vendas sólido, mas isso também é algo incerto. O modelo básico, lançado em fevereiro, tem a mesma bateria usada por uma versão mais cara do carro, mas um software reduz seu alcance entre as cargas. O resultado é um carro mais barato, mas com o mesmo custo de produção.

Mesmo que o Model 3 de US$ 35 mil venda mais no segundo trimestre, a Tesla terá dificuldade em alcançar sua meta anual de entregar entre 360 mil e 400 mil carros. No ritmo de vendas atual, a empresa provavelmente precisará vender pelo menos cem mil carros no terceiro e quarto trimestres – um nível que nunca alcançou.

Em um e-mail de 16 de maio aos funcionários, Musk se mostrou preocupado quando pediu que todas as despesas fossem analisadas, "mesmo as menores", como parte de um corte de custos violento para reduzir as perdas.

"Todas as despesas de qualquer tipo em qualquer lugar do mundo, incluindo peças, salário, despesas de viagem, aluguel, literalmente todos os pagamentos que saem de nossa conta bancária devem ser revistos. É a única maneira de a Tesla se tornar financeiramente sustentável", escreveu ele.

Há outros obstáculos pela frente. Em primeiro de julho, o crédito fiscal para os compradores de carros da Tesla vai baixar novamente, para US$ 1.875, o que poderá dificultar ainda mais as vendas nos Estados Unidos, disse Jeffrey Osborne, do banco de investimentos Cowen & Co.

"A maioria das pessoas acha que é aí que as coisas se complicam, quando o desconto no imposto cai", disse ele.

Em 28 de maio, Osborne estabeleceu um novo preço-alvo para as ações da Tesla: US$ 140, US$ 10 abaixo da meta anterior. A principal razão: a Cowen vê uma demanda menor para o Model 3 neste ano e no próximo.

A Tesla não quis comentar os relatórios pessimistas dos analistas.

Mesmo com todos os contratempos, a empresa tem uma base de clientes fervorosamente leal e oferece tecnologia que nenhuma outra montadora consegue igualar. Tannia Schrieber, consultora de gestão de talentos da Pensilvânia, comprou um Model 3 preto, com tração nas quatro rodas, em setembro e gosta do modo como a Tesla adiciona recursos, como a duração estendida da bateria por atualizações de software, um recurso lançado pela empresa.

"A cada duas semanas há algo novo e bacana sobre o carro. Adoro isso tudo", disse ela.

E Musk não deixou que os desafios da empresa diminuíssem sua convicção de que é possível superar as adversidades. Em abril, em uma reunião com analistas chamada Dia da Autonomia, ele fez um anúncio ousado: no ano que vem, os carros da Tesla serão autônomos. Além disso, declarou, a Tesla terá cerca de um milhão de "robotáxis" operando em um serviço parecido com o Uber, que se tornaria um negócio mais lucrativo do que a venda de carros.

Embora a General Motors Co., a Ford Motor Co., a Waymo e a própria Uber tentem desenvolver táxis autônomos, acredita-se que a difusão desse recurso está a anos de distância. "Se Elon estiver certo, eles estão uma década à frente de todos", disse David Whiston, analista da Morningstar. Mas o desafio de Musk é provar essa afirmação. "O mercado está muito mais cético em relação a Elon e à Tesla agora. Há muito mais preocupação", disse Whiston.

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