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O dia 8 de outubro de 2016 entrará para a história do automobilismo brasileiro e da vida do curitibano André Moreira Rodrigues, 55 anos. A data marca o primeiro recorde de velocidade registrado em um deserto na América do Sul.

O paranaense estava ao volante quando o Nebulous Theorem Brazil 1 atingiu a média de 270 km/h num trajeto de quase 5 quilômetros sobre a maior planície de sal do mundo, na região de Potosí e Oruro, no Sudoeste da Bolívia.

A velocidade nem parece tão impressionante assim, já que um Dragster nas provas de arrancada consegue ultrapassar a 400 km/h. Mas o grande feito está no ambiente em que ele aconteceu e no tipo de desafio disputado.

André Moreira trabalhou quatro anos neste projeto de organizar um prova de velocidade no deserto de sal de Uyuni, na Bolívia.Arquivo pessoal/Divulgação

O Salar de Uyuni, coberto por uma crosta de sal, recebeu de forma inédita um evento de velocidade extrema. Batizado de Uyuni 3600, em referência à altitude do local - fica a 3.656 metros acima do nível do mar -, a disputa é uma espécie de versão sul-americana da tradicional competição que ocorre no deserto de sal de Boneville, em Utah (EUA).

Por lá, os veículos chegam a superar os 600 km/h. Em 2010, o brasileiro Cacá Bueno bateu o recorde de velocidade com um carro da Stock Car Brasil, alcançando 345 km/h.

Atmosfera ideal

O deserto de sal oferece condições apropriadas para as disputas de velocidade extrema e tem sido a referência mundial na modalidade.

As condições planas, piso regular, amplitude da área e ausência de fauna e flora são algumas das características necessárias para oferecer segurança ao evento.

VEJA O VÍDEO DO RECORDE

A ideia de André Moreira e do clube Curitiba Roadsters, grupo de modelos Hot Rod do qual ele faz parte e que foi a responsável pela organização do evento, é transformar a Uyuni 3600 numa prova anual.

“Já temos o apoio do governo boliviano e o interesse da mídia e de equipes da Europa, além de Japão e EUA. Competições lá fora chegam a reunir 700 equipes”, ressalta o curitibano, que, curiosamente, não tem a pilotagem como sua atividade profissional - ele ganha a vida como dentista na capital paranaense.

Além do Nebulous Theorem Brazil 1, participaram carros de arrancada da Bolívia, além de motos. “Tinha uma motocicleta de apenas 50cc que atingiu 250 km/h de média”, conta.

A lenda norte-americana Jack Costella (agachado, de boné) orienta André Moreira antes da prova.Arquivo pessoal

O carro de Moreira, na verdade, integra a equipe de Jack Costella, piloto norte-americano de 82 anos, referência mundial em velocidade e colecionador de mais de uma centena de recordes pelo mundo.

“Jack me ajudou muito nesta conquista e disse que a Uyuni é a melhor pista do mundo”, diz Moreira, que foi e voltou da Bolívia de carro e trazendo na bagagem a lenda Costela, também criador do desenho Nebulous Theorem Brazil 1. O americano fará uma palestra em Curitiba nesta terça-feira (18).

Grudado ao chão

O projeto desenvolvido por André Moreira é uma evolução do estilo Belly Tank, protótipos feitos a partir do tanque de combustível, especialmente de aviões da Segunda Guerra Mundial.

O carro feito com carenagem em fibra de vidro tem 7,20 metros de comprimento, 68 cm de altura e vão livre do solo de apenas 2,5 cm. O peso é de 650 kg, o suficiente para manter o veículo grudado ao chão.

André Moreira ficou deitado dentro do cockpit, seguro por um cinto de 7 pontos.Arquivo pessoal

As rodas dianteiras em alumínio não possuem pneu e são de 13 polegadas, enquanto as traseiras são de 24", contando os pneus.

Ele não traz sistema de suspensão, nem volante (usa-se um guidão igual ao de moto) e radiador (a refrigeração é feita por meio de um circuito fechado). Tudo para deixá-lo o mais leve e aerodinâmico possível.

O freio de estacionamento é traseiro, mas o que faz o veículo parar mesmo após chegar à velocidade extrema é um para-quedas na extremidade detrás.

“Com exceção do cinto de sete pontos,para-quedas e ponto do eixo, que vieram importados, o restante dos componentes do carro foram feitos em Curitiba”, orgulha-se o recordista.

O motor que equipe a máquina foi emprestado de uma Suzuki GSX R, ano 1991, de 1.100 cc e 170 cavalos. Moreira explica que o conjunto mecânico de motocicleta favorece esse tipo de veículo, pois a quantidade de giro é muito alta. “São quase 80 km/h por marcha”, salienta.

Ele explica que o trabalho aerodinâmico é mais importante do que a força do propulsor. Segundo o piloto, o Nebulous Theorem Brazil 1 é capaz de passar dos 400 km/h, porém as condições do local e o preparo do motor não ajudaram para que tal velocidade fosse obtida. “Mas não deixa de ser uma boa marca”, diz.

A organização do evento teve a responsabilidade do clube Curitiba Roadsters, que levou o aparelho de medição e as marcações da pista.Arquivo pessoal

Veículo paranaense atinge 270 km/h em pista de sal

É a primeira vez na América do Sul que tal velocidade é registrada nesse tipo de superfície

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Costella é reconhecido mundialmente pelas centenas de recordes registrados a bordo de seus bólidos estilo ‘lakester’, que motivou a criação da equipe Nebulous Theorem.

Boa parte das marcas em desertos de lagos secos como El Mirage e Muroc, ambos na Califórnia (EUA), e, principalmente, no deserto de sal Boneville, em Utah (EUA), quando teve a primeira experiência em 1969.

A lenda também é um aficionada pelo movimento Hot Rod - carros geralmente das décadas de 1920, 30 e 40 modificados, que incluem rodas largas, pintura chamativa e motores potentes, na maioria das vezes V8.

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