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Precisamos reconhecer nossos heróis – e parar de valorizar malandro
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Estamos mergulhados e somos aviltados por desonestidades e vilipêndios tão monumentais que a falta de valores e as pequenas espertezas já nem nos parecem desvios de caráter. O bom malandro é figura quase poética, povoa até mesmo, bota incoerência nesse sarapatel de coruja que é o Brazyl, a cada vez mais barulhenta ala autodenominada conservadora das redes sociais.

O conservador que xinga mãe de família, mente para ganhar discussão, faz pequenas trapaças para sobrepor seu ponto de vista ao dos demais, não reconhece erros, enfim, o tradicional bom malandro que balbucia discurso conservador é daquelas coisas retorcidas que só mesmo a torção moral e a falta de princípios da nossa pátria de chuteiras pode criar. Não passa impune ao olho do conservador nem longe das orações dos cristãos.

Ficam no mesmo balaio e na mesma lista de preces dos libertários que chamam mamãe na delegacia após a passeata, levam roupa para lavar na casa dos pais quando ocupam a universidade, vivem de mesada e têm todas as soluções para um mundo sem capitalismo, já que nunca precisaram pagar um boleto.

O cinismo de quem brada com convicção um discurso totalmente divergente da forma como vive é um subproduto da sociedade onde o oportunista não tem reprimenda social e o malandro é herói.

Parece uma frase dura e cruel demais com a sociedade brasileira, mas as entranhas de algumas de nossas maiores empresas expostas pela Lava Jato contrapostas ao que esses executivos palestravam sobre meritocracia fala por mim, são fatos.

E tem mais: não há bandido famoso que tenha ficado sem homenagem artística neste país. Diga um homem da lei que tenha tido seu ato heróico devidamente retratado.

Por isso pareceu polêmica num primeiro momento a proposta do deputado Onyx Lorenzoni: reconhecer o gesto de bravura dos Policiais Militares que impediram o assassinato de uma juíza e um juiz num fórum no Rio Grande do Sul. Um deles estava depondo, acalmou toda a sala e, sem se intimidar com os disparos que os matadores já faziam no corredor, partiu de peito aberto para controlar a situação.

Aqui não estamos falando daquilo que o povo gosta de fingir que entende e de debater na internet porque é catártico e porque temos medo: armas, segurança pública, como reagir como atirar. Admito que é um risco que se corre na homenagem e que sinceramente me preocupa.

Vivemos numa sociedade que banalizou o mal, que o admite nos amigos ou para levar vantagem e que transforma facilmente o medo e a covardia em egoísmo para fingir bravura e coragem.

Mas aqui estamos falando de heróis e eles têm algo que esta cena mostra e que é uma característica presente nos policiais e rara nos humanos: a vocação de dar a própria vida, se necessário for, para defender a vida e a liberdade dos irmãos e da pátria.

O marinheiro não se conhece no xaveco – ou na gritaria de rede social – mas na tempestade. Quando os tiros começaram, a reação natural de todos – seria a minha, reconheço – é defender a própria vida, com ou sem arma na mão, no máximo a vida de quem se ama. A do herói é defender a vida dos demais, quem quer que eles sejam. É esse ato que o deputado Onyx Lorenzoni quer reconhecer oficialmente.

Precisamos reconhecer nossos heróis de verdade. Que acabe a era dos malandros e fanfarrões.

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