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Treinamento do “Mensalinho do Twitter” ensinava a compartilhar notícias de Lindbergh e Tiburi
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O Procurador Regional Eleitoral Auxiliar de MG, Bruno Nominato de Oliveira, determinou hoje o início de uma investigação com duração de 60 dias para apurar o “Mensalinho do Twitter”. Foi determinado às empresas que disponibilizaram os aplicativos Follow e Brasil Feliz de Novo que revelem as identidades dos que baixaram e requeridas também as identificações de usuários do twitter que divulgaram notícias. Empresas e participantes da operação serão ouvidos pelos procuradores eleitorais nessa fase das investigações.

Embora as investigações sejam iniciadas em Minas Gerais, sede das empresas que produziram os aplicativos, as transmissões de vídeo-aulas dos recrutadores pela internet mostram que o principal foco era a campanha do Rio de Janeiro, mais precisamente do candidato ao Senado Lindbergh Farias e da candidata ao governo do Estado Marcia Tiburi.

Nós resumimos duas transmissões de mais de uma hora em dois vídeos, um de 5 minutos e um de 10 minutos, para que você entenda como o esquema funcionava. Havia dois tipos de recrutamento: um era o dos “influencers”, as pessoas muito conhecidas buscadas pela agência Lajoy com proposta de pagamento fixo. A outra era de pessoas comuns, com poucos seguidores, que deveriam baixar os aplicativos. As vídeo-aulas eram destinadas ao último grupo, mais numeroso.

Eles começaram a “trabalhar” no aplicativo chamado Follow, um agregador de notícias que podiam ser distribuídas por Facebook, Twitter e Whatsapp e depois tiveram de migrar para outro, de nome sugestivo: “O Follow não existe mais. Agora a gente tá só com O Brasil Feliz de Novo”, diz a recrutadora no vídeo.

Ela aparece ao lado de Breno Nolasco, ex-assessor do deputado Miguel Corrêa Junior, envolvido com as empresas de tecnologia que protagonizam a operação.

Quem estivesse nos aplicativos deveria participar do grupo de WhatsApp. “É obrigatório, tá, galera? Não é opcional. Quem estiver trabalhando com os aplicativos Follow e Brasil Feliz de Novo, todos eles têm de estar presentes no grupo de WhatsApp”, diz Bruno Nolasco. Também havia obrigatoriedade de compartilhar em determinadas redes sociais: “As redes obrigatórias de compartilhamento são as redes que aparecem lá no aplicativo, que é WhatsApp, Facebook e o Twitter. Então, quem não tem o Twitter tem que criar para poder compartilhar nas 3 redes”, complementa.

No vídeo, é ensinado o que fazer para receber o pagamento completo, R$ 500 por mês: “É simples, vão aparecer missões por dia dentro do aplicativo. Então, é simples. Hoje é dia 21, você vai entrar na campanha do Lindbergh, vão ter 2 ou 3 notícias com pontuação. Essas notícias vocês são obrigados a compartilhar nas suas redes. Essa sim é a meta de vocês.”

Também havia a remuneração para quem captasse mais participantes para o aplicativo, mas o valor variava. Em uma vídeo-aula se falava em R$ 3 por pessoa. Em outra, o valor subia para R$ 5 por pessoa.

“Os R$ 500 são o início do nosso projeto, os melhores ativistas, eles vão muito além disso.”, promete Breno Nolasco. Um participante comenta que “amigos estão com receio de entrar, espero que depois do resultado positivo eles entrem”.

Não houve resultado positivo e, depois do escândalo, várias pessoas disseram que não receberam um tostão pelas notícias postadas. No segundo vídeo, há um compacto com diversas reclamações sobre falta de pagamento ou confusão com dados bancários. O tempo todo os recrutadores prometem resolver os problemas rapidamente.

As promessas iam além: mais que dinheiro, Breno Nolasco dizia que era possível obter um emprego fixo na empresa caso a pessoa fosse realmente engajada no projeto. “Galera, o tempo todo vocês são avaliados. Então amanhã, depois de amanhã, eu preciso contratar uma pessoa para dentro da empresa para fazer um trabalho específico, eu vou buscar aí. Ôh, quem que realmente tem ajudado, quem que realmente cumpre as missões, quem que realmente criou uma rede grande de ativistas? Então, essas pessoas vão ser sempre valorizadas”. 

Este conceito específico, o de que a colaboração no aplicativo Brasil Feliz de Novo poderia ser a porta para um emprego fixo, era repetido. “O trabalho, galera, não é até a eleição. Nós temos escritório aqui no Rio de Janeiro, nós vamos até fazer um convite para vocês virem nos visitar para conhecer a nossa estrutura e… nosso trabalho é para o resto da vida. Então, os melhores, as pessoas que compartilham mais, mais pontuam, mais participam, mais participam das atividades, as pessoas que mais cumprem as missões – igual, essa semana a gente teve uma missão no sábado, infelizmente poucas pessoas participaram – então, essas pessoas, elas estarão sempre com a gente quando precisar e essas pessoas terão a oportunidade de vir trabalhar no nosso escritório também”. 

A atração para o aplicativo Follow, o primeiro, que foi desativado, não dizia exatamente que se tratava de compartilhamento de pautas políticas. Por isso, nas lives, eram frequentes as perguntas sobre a existência de pautas além da política. Breno Nolasco explicou assim:

“O aplicativo Brasil Feliz de Novo é de um contrato que nós temos com uma campanha de esquerda, que é o Brasil Feliz de Novo, no caso aqui do Rio de Janeiro nós estamos falando do Lindberg, da Marcia e vamos fazer de alguns deputados, ok?”

No exemplo, era cogitada a possibilidade de aparecer uma outra campanha, de segundo turno. Nesse caso, não seria feita pelo aplicativo Brasil Feliz de Novo, o que é usado agora. Ela seria rodada pelo antigo, o Follow, para distribuir materiais de outro candidato. “Mas aí, tem a possibilidade de ser sem ser notícias políticas? Tem.”, diz Breno.

No vídeo, ele mostra com um celular como fazer para compartilhar uma notícia. “Aqui embaixo, onde tem essa estrela, vocês clicando, vai aparecer outras campanhas. Então aqui, no caso, dá para vocês verem? Tá vendo? Tem várias porque o meu usuário é de teste, vamos dizer assim. Mas no de vocês tem que aparecer o do Lindbergh e o da Marcia”, explica.

Os recrutadores também dialogam explicando o que são as missões extras, aquela específica que ocorreu no sábado e que não foi atendida por muitas pessoas:

“A missão era fácil, né, Henrique? Era comentar em uma publicação pré-determinada que nós fizemos e chamar os amigos para comentar usando a hashtag do nosso aplicativo e com nome e sobrenome do ativista que estava participando.”

“E aí até 3 pessoas podiam levar qual prêmio?”

“100 contos, né? 100 contos já salva aí uma cerveja no final de semana, né?”

“Ô, como salva!”

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