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Precisamos falar sobre a bandeira do Brasil
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No Dia da Bandeira o presidente do Brasil não hasteou a bandeira, não cantou o Hino à Bandeira Nacional, não se dirigiu à nação. A Presidência da República não promoveu nenhuma cerimônia específica, não houve um único desfile cívico. A comemoração se resumiu a um retweet de publicação da Força Aérea Brasileira que ressaltava a ideia de Augusto Comte de amor pelo Brasil. E aí eu me pergunto: onde fica escondido esse amor?

Desde quando eu me entendo por gente as Forças Armadas têm sido as fiéis guardiãs dos símbolos pátrios e da ideia de amor pela nossa pátria. Eu nasci durante a ditadura militar, quando este era o governo, natural que fosse assim. A questão é por que os governos subsequentes abandonaram sua missão de zelar pelo patriotismo e pelo amor e respeito aos nossos símbolos, às nossas raízes, à nossa cultura e à nossa história?

Michel Temer se embrenhou em uma Cúpula Internacional daquelas feitas para discutir muito e não resolver nada em pleno Dia da Bandeira do Brasil. Não foi o único. Pense no último presidente da República que você viu conduzir o povo brasileiro na comemoração da data. É capaz de você nunca nem ter comemorado a data.

A partir da abertura democrática, o Brasil passou a ser dominado por uma elite intelectual e cultural que confunde a pátria e o povo com seus governos. Foram enfiados em um liquidificador o amor pela pátria, os símbolos pátrios e os desmandos cometidos pelos governos militares. O resultado da mistura foi a tentativa de disseminar um sentimento de que é cafona amar o Brasil ou homenagear a pátria e seus símbolos.

Chegamos a essa situação absurda de que hoje, em pleno Dia da Bandeira, não há comemorações. O povo não vibra. Ninguém ostenta a bandeira. Não há desfile. Não levamos nossos filhos às celebrações. Não passamos essa tradição às próximas gerações. Não explicamos por que a bandeira é do jeito que é. Não fossem as Forças Armadas e meia dúzia de gatos pingados, nem post em rede social teria hoje.

O culto aos símbolos da nossa pátria, da nossa gente, da nossa terra é tão típico da natureza humana que atravessa todas as barreiras ideológicas e culturais. Povos de todos os pontos do globo, de todo tipo de regime político, de todas as religiões e dos mais diferentes costumes celebram com festas muito alegres o Dia da Bandeira Nacional. O principal mandatário fala, o povo vai às ruas, os artistas se manifestam e até quem vive em outro país participa das festividades.

Fiz uma compilação que reúne os mais diferentes tipos de povos comemorando seu Dia da Bandeira. Após os vídeos, vamos à reflexão sobre o caso do Brasil.

Canadá

Curaçao

Dominica

 

Emirados Árabes Unidos

Estados Unidos

Etiópia

Haiti (refugiados comemorando em Miami)

Índia

Libéria (comemorando em Nova Iorque)

 

Samoa Americana

Suécia

Só sairemos do atoleiro econômico, social e moral em que o nosso país se encontra quando tivermos amor pelo Brasil. Quem ama – e só quem ama – cuida. A falta de compromisso com o povo e a coisa pública têm uma relação íntima com falta de amor à Pátria. Menosprezar o Brasil enquanto se vive das suas riquezas e da produtividade de sua gente é um esporte de muitos.

A falta de patriotismo tem gerado filhotes do oposto dessa moeda, o nacionalismo. Quando falta o amor pela própria pátria, cresce o medo ou a repulsa pela pátria alheia. Ao não entender o que é o amor pátrio porque não sentem, muitos brasileiros confundem com ataque, rivalidade. Vivemos uma era de dualidades, em que a ideologia é colocada acima do Brasil. Outro efeito da falta de patriotismo: nenhum patriota considera sua ideologia mais importante que sua Pátria.

CONHECENDO A BANDEIRA DO BRASIL

Prometi na LIVE de hoje uma pequena contribuição para que todos conheçam e possam passar às crianças da família um pouco de informação sobre a nossa bandeira. Vamos lá! Começo com a postagem do Ministério da Defesa, que fala bastante da história:

A bandeira é tão importante para um povo porque ela é a representação visual dele. Pode representar uma nação, um Estado, uma cidade ou até uma família muito importante. Aquele grupo definido não apenas por um território, mas por uma unidade soberana reconhecida pela tradição ou por outras entidades soberanas tem diversos símbolos, sendo os mais importantes e mais utilizados o nome e a bandeira.

Para se ter ideia da importância disso, o 4º decreto emitido pela República brasileira foi definindo a bandeira e alguns outros símbolos nacionais. Assinado em 19 de novembro de 1889, dizia exatamente o seguinte:

O Governo Provisorio da Republica dos Estados Unidos do Brazil:

Considerando que as côres da nossa antiga bandeira recordam as luctas e as victorias gloriosas do exercito e da armada na defesa da patria;

Considerando, pois, que essas côres, independentemente da fórma de governo, symbolizam a perpetuidade e integridade da patria entre as outras nações;

DECRETA:

Art. 1º A bandeira adoptada pela Republica mantem a tradição das antigas côres nacionaes – verde e amarella – do seguinte modo: um losango amarello em campo verde, tendo no meio a esphera celeste azul, atravessada por uma zona branca, em sentido obliquo e descendente da esquerda para a direita, com a legenda – Ordem e Progresso – e ponteada por vinte e uma estrellas, entre as quaes as da constellação do Cruzeiro, dispostas da sua situação astronomica, quanto á distancia e o tamanho relativos, representando os vinte Estados da Republica e o Municipio Neutro; tudo segundo o modelo debuxado no annexo n. 1.

Art. 2º As armas nacionaes serão as que se figuram na estampa annexa n. 2.

Art. 3º Para os sellos e sinetes da Republica, servirá de symbolo a esphera celeste, qual se debuxa no centro da bandeira, tendo em volta as palavras – Republica dos Estados Unidos do Brazil.

Art. 4º Ficam revogadas as disposições em contrario.

Sala das sessões do Governo Provisorio, 19 de novembro de 1889, 1º da Republica.

Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisorio
Q. Bocayuva
Aristides da Silveira Lobo
Ruy Barbosa
M. Ferraz de Campos Salles
Benjamim Constant Botelho de Magalhães
Eduardo Wandenkolk

Essa lei prosseguiu assim até 1968, quando foram cogitadas mudanças nos símbolos pátrios por meio da Lei 5443/1968. No final das contas, foram mantidos os símbolos e feita uma legislação bem mais detalhada sobre o uso deles, a Lei 5700/1971, que recebeu pequenas emendas ao longo do tempo e permanece em vigor até hoje. Vem dessa lei, por exemplo, o preceito de jamais cortar o Hino Nacional pela metade, algo que o brasileiro instintivamente segue, cantando à capela nos estádios em competições internacionais.

O desenho oficial da Bandeira do Brasil é este aqui:

Parece muito simples, mas tem uma ciência aí, mais precisamente a matemática, que está todinha na lei:

Art. 5º A feitura da Bandeira Nacional obedecerá às seguintes regras (Anexo nº 2):

I – Para cálculo das dimensões, tomar-se-á por base a largura desejada, dividindo-se esta em 14 (quatorze) partes iguais. Cada uma das partes será considerada uma medida ou módulo.

II – O comprimento será de vinte módulos (20M).

III – A distância dos vértices do losango amarelo ao quadro externo será de um módulo e sete décimos (1,7M).

IV – O círculo azul no meio do losango amarelo terá o raio de três módulos e meio (3,5M).

V – O centro dos arcos da faixa branca estará dois módulos (2M) à esquerda do ponto do encontro do prolongamento do diâmetro vertical do círculo com a base do quadro externo (ponto C indicado no Anexo nº 2).

VI – O raio do arco inferior da faixa branca será de oito módulos (8M); o raio do arco superior da faixa branca será de oito módulos e meio (8,5M).

VII – A largura da faixa branca será de meio módulo (0,5M).

VIII – As letras da legenda Ordem e Progresso serão escritas em côr verde. Serão colocadas no meio da faixa branca, ficando, para cima e para baixo, um espaço igual em branco. A letra P ficará sôbre o diâmetro vertical do círculo. A distribuição das demais letras far-se-á conforme a indicação do Anexo nº 2. As letras da palavra Ordem e da palavra Progresso terão um têrço de módulo (0,33M) de altura. A largura dessas letras será de três décimos de módulo (0,30M). A altura da letra da conjunção E será de três décimos de módulo (0,30M). A largura dessa letra será de um quarto de módulo (0,25M).

IX – As estrêlas serão de 5 (cinco) dimensões: de primeira, segunda, terceira, quarta e quinta grandezas. Devem ser traçadas dentro de círculos cujos diâmetros são: de três décimos de módulo (0,30M) para as de primeira grandeza; de um quarto de módulo (0,25M) para as de segunda grandeza; de um quinto de módulo (0,20M) para as de terceira grandeza; de um sétimo de módulo (0,14M) para as de quarta grandeza; e de um décimo de módulo (0,10M) para a de quinta grandeza.

X – As duas faces devem ser exatamente iguais, com a faixa branca inclinada da esquerda para a direita (do observador que olha a faixa de frente), sendo vedado fazer uma face como avêsso da outra.

AS ESTRELAS NA BANDEIRA: UMA CIÊNCIA

Reparou que “Ordem e Progresso” tem de escrever em VERDE? Pois é… Além disso, as estrelas estão em 5 tamanhos diferentes. Tem uma razão de ser, muito linda aliás:

As constelações que figuram na Bandeira Nacional correspondem ao aspecto do céu, na cidade do Rio de Janeiro, às 8 horas e 30 minutos do dia 15 de novembro de 1889 (doze horas siderais) e devem ser consideradas como vistas por um observador situado fora da esfera celeste.  

Isso está na lei brasileira e é poesia pura a forma que se encontrou de representar visualmente nossa pátria: é a forma como se viu de fora da esfera celeste, ou seja do Céu – talvez por Deus -, as estrelas que estavam sobre o Brasil no momento exato da Proclamação da República na capital do país. Cada estrela representa uma unidade da federação, um dos Estados do Brasil.

E quando se cria, se extingue ou se divide um Estado? Uma estrela nova surge ou some da bandeira. Isso mesmo. Comparem a bandeira de antes e depois do surgimento do Tocantins: mudou. Os tamanhos são 5 diferentes para retratar exatamente como seria a visão do céu naquele momento. E é interessante a representação da Federação por meio de estrelas, que são os guias dos portugueses até o Brasil. Mais interessante ainda é o que a lei estipula para o desenho:

Se você quiser ver em tamanho maior, segue aqui o link oficial da Casa Civil com o documento. A disposição e o tamanho das estrelas se repete no Selo Nacional do Brasil. Aproveite o feriado para contar a história das estrelas na nossa bandeira às crianças da família. Brinque de achar os Estados que já visitou ou quer visitar.

A nossa bandeira tem uma história linda, da qual a próxima geração talvez se orgulhe o tanto quanto deve para cuidar do Brasil com o amor que o nosso povo merece.

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