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Perícia feita pela polícia civil no carro em que chegaram dois jovens armados e encapuzados que invadiram a Escola Estadual Professor Raul Brasil e disparam contra os alunos, em Suzano, São Paulo.
Perícia feita pela polícia civil no carro em que chegaram dois jovens armados e encapuzados que invadiram a Escola Estadual Professor Raul Brasil e disparam contra os alunos, em Suzano, São Paulo.| Foto:

Minutos depois de Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25, assassinarem oito pessoas e deixarem onze feridos e cometerem suicídio dentro da Escola Estadual Raul Brasil em Suzano, na Grande São Paulo, nesta quinta-feira (13), uma série de análises sobre as motivações do crime foram levantadas.

A barbárie e o banho de sangue chocam a sociedade de uma forma tão latente que é necessário encontrar imediatamente respostas a algo tão repugnante e condenável.

Com as redes sociais, em pouco tempo as imagens tomaram o mundo e cada pessoa começou a conjecturar o que levaria dois jovens a cometerem os assassinatos.

Em entrevista ao blog A Protagonista, o psiquiatra forense Guido Palomba diz que passadas as primeiras horas é necessária cautela para formar opiniões. “Mas o que podemos saber com absoluta certeza é que esse crime foi praticado por doente mental. Não há outra possibilidade. Qualquer outra possibilidade está errada”, garante.

Segundo o especialista, uma pergunta comum é: “mas dois doentes mentais juntos?”. E a resposta, segundo ele, é afirmativa. E isso é explicado pela literatura médica como o fenômeno da ‘loucura a dois’, do original em francês ‘folie à deux’.

Tal transtorno é caracterizado por sintomas psicóticos compartilhados por duas pessoas da mesma família ou próximas. “Na dinâmica deste crime, um dos dois certamente foi o indutor e atraiu o induzido. Esta é a característica básica da ‘loucura a dois'”, diz Palomba.

O psiquiatra diz que as investigações devem mostrar quem teria qual papel nessa patologia que culminou no crime.

No entanto, muito além que lamentar o fato, Guido Palomba deixa claro que os sinais podem ser facilmente vistos para evitar novas tragédias.

“Com absoluta certeza, pelo menos o indutor – que é o doente mental verdadeiro – não premeditou isso em pouco tempo. Ele vem mexendo nisso há tempos. E, direta ou indiretamente, manifestou isso para alguém. O que ocorre é que ninguém prestou atenção, ninguém levou a sério”, conta o especialista.

Palomba ainda frisa que a sociedade torna-se vítima dessa patologia. “Provavelmente os sinais foram dados, mas não souberam ver ou não tiveram a capacidade. Se alguém tivesse tido a mínima desconfiança teria procurado um amigo, ajuda médica ou policial”, conclui.

Os policiais que cuidam do caso já atestam que a dupla pretendia matar mais pessoas que as 13 do massacre de Columbine, registrado há quase 20 anos, nos Estados Unidos. Além disso, já foi identificada a participação de outro adolescente, ao menos, na elaboração do massacre.

A base da polícia se concentra em indícios que levam ao lado mais perverso da tecnologia: as buscas feitas na internet por Guilherme e Luiz remontam a como se sucedeu o ataque em Columbine. Através da deep web – considerada uma internet obscura por trás da usada comumente – os jovens encontraram fóruns e pessoas que fomentam esse tipo de crime, discurso de ódio e intolerância.

Os peritos analisarão os computadores e outros eletrônicos usados pelos dois, além dos objetos levados por eles até a escola, como as armas e as garrafas que poderiam ser coquetéis molotov.

Outros problemas cotidianos
Para Ariel de Castro Alves, advogado especialista em direitos humanos, outros fatores devem ser levados em consideração, quando nos deparamos com crimes dessa magnitude.

“A segurança nas escolas públicas é precária. Não existe a obrigatoriedade de uso de uniforme, não tem controle de entrada com carteirinhas magnéticas ou mesmo carteirinha com fotos. Muitas vezes não tem nem funcionários nas portas de entrada verificando quem é ou não aluno”, aponta.

Ariel de Castro Alves diz que a falta de estrutura das escolas e a violência, como o bullying, favorecem essas tragédias. “O Estado terá que indenizar as famílias das vítimas, já que estavam sob a responsabilidade do Governo do Estado, que deveria garantir a integridade e a vida delas.”

Nesta quinta-feira, 14 de março, o governador João Doria informou que pagará indenização de R$ 100 mil para cada uma das sete famílias vítimas do ataque na Escola Estadual Raul Brasil. Se as famílias aceitarem, deverão assinar documento se comprometendo a não entrar com ação contra o Estado.

Para o educador Dante Donatelli também é necessário repensar a cultura da violência no Brasil. “Hoje ela é parte do discurso. No dia do crime o senador Major Olímpio (PSL-SP) fala em Brasília que se os professores tivessem armas isso não aconteceria. Não podemos ir pela força ao invés do diálogo. Está institucionalizada a violência como forma de resolução de problemas”, pontua.

Há superação?
O psicólogo Tiago Tamborini salienta que esse tipo de crime deixa perplexo pela doença que a sociedade vive.

“Falar sobre as causas são teorias da conspiração e não levarão a nada. Podemos falar de fatores múltiplos, mas precisamos falar de quem ficou. As feridas cicatrizam, mas estão lá e não somem”, diz.

Para o especialista, é necessário união daquele grupo, de quem forma a Escola Estadual Raul Brasil. Até mesmo certos ‘rituais’ onde se coloque para fora os traumas em formas de desenhos ou redações. “Vale lembrar que cada pessoa tem seu tempo. E isso pode ser tão severo que demandará apoio de psicólogos e psiquiatras. Universidades, por exemplo, podem colaborar com seus alunos gratuitamente. A solidariedade e união tem que acontecer”, conclui.

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