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André Pugliesi
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CAP Mitagens e Oséas e Washington, os ‘baianos preguiçosos’ do Atlético

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André Pugliesi
25/10/2018 20:35 - Atualizado: 29/09/2023 23:42
Arquivo Gazeta do Povo
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Uma página chamada CAP Mitagens fez uma postagem antes do jogo do Atlético-PR pela Sul-Americana com a seguinte frase: “dia de bater em baiano preguiçoso“. O canal no Facebook tem mais de 38 mil curtidas, número expressivo que, se convertido em torcedores no estádio, daria quase para encher a Arena da Baixada — o que seria ótimo, afinal, o Joaquim Américo vive vazio.

A postagem repercutiu mal, com diversas reações negativas, e os moderadores decidiram excluir o conteúdo. Ficaram incomodados com as acusações de xenofobia, preconceito, para ficar apenas nas classificações mais óbvias. O estrago, entretanto, já estava feito, e o print está sempre por aí para que nada seja esquecido.

Agora, você sabe, nem tudo é tão ruim que não possa piorar. Um dos moderadores justificou o conteúdo. De acordo com um dos autores da “mitagem”, não há nada de errado em chamar baiano de preguiçoso, é só uma “fama histórica”. Ainda segundo um dos “mitos”, que não se identificou, se alguém chamasse “paranaense de preguiçoso não teria repercussão”.

É evidente, como já dito acima, que a postagem é xenófoba e preconceituosa — reverbera, já que estamos falando de mitos, uma visão estereotipada quanto ao povo nordestino. Não bastasse, ainda é violenta ao usar “dia de bater”, mesmo no sentido figurado. Mas tem mais, ainda escancara a completa ignorância sobre a história do próprio clube.

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Invariavelmente, páginas de Facebook são tocadas por jovens. Pouca idade, no entanto, não é sinônimo de estupidez — e taí o Google para sempre dar uma força. Em todo o caso, conhecessem o mínimo da história do Atlético e não teriam feito a “gracinha”. Dois dos grandes artilheiros da história do clube, vejam só, são baianos: Washington, camisa 9 dos anos 80 e início dos 90, e Oséas, da metade dos 90.

Washington chegou ao Furacão com o meia-atacante Assis, vindos do Internacional, e os dois formaram uma das principais duplas de ataque dos mais de 90 anos da instituição. O baiano de Valença, falecido em 2014, vítima de uma doença degenerativa, foi o goleador do campeonato de 82, com 23 gols, e um dos principais nomes da equipe que, por pouco, não foi campeã nacional em 83.

A história de Oséas, baiano de Salvador, é mais recente. Formou também outra grande dupla de ataque, ao lado de Paulo Rink. Na metade dos anos 90, subiu com o Furacão da Segunda Divisão para a Primeira e foi um dos principais símbolos da reconstrução do Atlético. O dinheiro da negociação dele com o Palmeiras, inclusive, ajudou na construção da Arena reaberta em 99.

Vi Washington e Oséas jogar e não me pareciam “preguiçosos”. Como também não parecem “preguiçosos” os diversos jogadores “não sulistas” do atual elenco do Furacão. Tais como o goleiro Santos (paraibano), zagueiro Ivaldo (alagoano), zagueiro Wanderson (baiano), lateral-esquerdo Márcio Azevedo (paraibano), entre outros.

Também não me pareciam “preguiçosos” os campeões nacionais de 2001. Do time-base, só o volante/meia Kléberson era “sulista”, de Uraí-PR. Todos os demais eram “de fora”, de São Paulo para cima: Flávio (Maceió-AL), Nem (Recife-PE), Adriano Gabiru (Maceió-AL) e Kléber (Peri Mirim-MA), para citar só alguns.

Em resumo, dá para considerar tudo um lamentável episódio de preconceito e arrogância, afinal, a postagem só foi tirada por causa de algumas reclamações, já que parte do grupo que sustenta a CAP Mitagens não viu nada grave. Felizmente, atleticanos também repudiaram a postagem, ou melhor, a “mitagem” que não teve a menor graça.

Foi só revelador de um tipo de conteúdo que está em alta, tosco, que só reforça preconceito, sob a justificativa de estar sendo “politicamente incorreto”, quando é só imbecil mesmo. E que, sempre quando contestado, arrega e reclama de que “hoje está tudo chato” e, poxa vida, não dá nem mais pra fazer uma piadinha racista sem que alguém venha encher o saco.

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