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André Pugliesi
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Mamica, um goleiro de verdade: boca suja, espetacular e frangueiro

Por
André Pugliesi
26/10/2018 21:28 - Atualizado: 29/09/2023 23:42
Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Ser goleiro não é para qualquer um. Trata-se da mais especializada função do futebol, quase uma anti-posição. Está lá para evitar o que todo mundo quer ver, o gol. É o cara que silencia os estádios, afoga o grito das arquibancadas. Claro, tudo isso quando não está tomando um frangaço.

Dos arqueiros com quem joguei, o maior de todos, no bom e no mau sentido, foi o moleque Mamica. Apelidado assim por causa do excesso de peso, claro, que lhe conferia peitos grandes, moles e com mamilos protuberantes. Aparentemente, não se importava com a crueldade da alcunha.

Mami, como passou a ser carinhosamente chamado, era o filho da zeladora do Colégio Cristo Rei. Morava numa casa de madeira, quarto, sala e banheiro, quase ao lado do agora Colégio Elias Abrahão. Para os padrões do bairro, a morada humilde era considerada uma favelinha.

Rodrigo, seu nome de batismo e pelo qual nunca foi chamado, era ainda criança um goleiro de verdade. Tinha só um uniforme. Camisa, calção e meiões de marcas “alternativas” que a piazada de prédio, frequentadora da Fedato, desconhecia completamente.

Fardamento, possivelmente, herdado de outro camisa 1 autêntico como o Mami. Algum cara mais velho que o ensinou a entrar arregaçando nas divididas, com a maldade devida, mesmo que o atacante fosse um molequinho fantasiado pela mãe de jogador de futebol.

Exibia ainda outras habilidades, como um arsenal de palavrões mais abrangente e obsceno para a faixa de idade que ocupava. E xingava como um adulto, com fúria. Ao menor vacilo da zaga, saia cuspindo e vituperando, brandindo os braços com a autoridade de quem é o responsável pela meta.

Também empregava nas peladas a malícia adquirida nas brigas no pátio do Cristão, como o colégio era conhecido, e com as revistinhas de sacanagem que distribuía, quando possível, aos amigos. Cedo, já sabia fazer cera, fingir contusões, ganhar laterais no grito com sua street credibility.

Fui um dos amigos mais próximos do Mami. Frequentava a casa dele, onde cansei de apanhar no futebol de botão. Certa vez, forjamos assinaturas dos maiores craques do futebol mundial, como se fossem autógrafos numa camiseta, para impressionar, os colegas. Ninguém botou fé.

Como todo goleiro que se preze, Mamica também era capaz das maiores patacoadas. Normalmente, quando tentava sair driblando e desafiando as leis da física. Era pródigo em defesas impossíveis e, mais ainda, em tomar perus escabrosos, o que não é incomum para a posição.

Não lembro quando perdi o contato com o Mamica. Não o vejo há mais de 20 anos e, provavelmente, não o reconheceria se trombássemos na rua. A não ser que o encontro fosse como nos velhos tempos, numa pelada qualquer no campinho da Rodrigo Otávio ou na cancha do Morgenau.

Da série #Memórias de quem só queria jogar bola

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