O dia em que Ziquita renasceu e eu ajudei a lenda do Atlético criar um autógrafo
Era 2004 e eu respondia como repórter que cobria o Atlético-PR no jornal Arquibancada, de curta duração. Foi quando acabei destacado pelo editor Julio Tarnowski para encontrar, e convidar, ídolos do Furacão para uma promoção do periódico para o aniversário de 80 anos do Rubro-Negro.
A ideia era trazer alguém de impacto. Um ídolo fora do circuito, que não desse sopa nos jogos do clube ou no calçadão da Rua XV. De cara, surgiram os nomes do bicampeão mundial Djalma Santos, que passou pela Baixada no final dos anos 60, e o lendário Ziquita, do fim dos 70.
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Até então, naqueles tempos em que rede social era o Orkut e celular ainda tinha a tela verde, Ziquita era, mais ainda, uma lenda. Aquele cara que os atleticanos da velha guarda invocavam nos minutos finais de derrotas iminentes. Uma espécie de divindade sem que ninguém soubesse exatamente qual a cara dele.
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Eis que descobri Gilberto de Sousa em Governador Valadares, Minas Gerais, estado onde nasceu. Um tanto esquecido, cinquentão, com muitos quilos a mais do que aquele centroavante que também defendeu o Atlético-MG, conhecido pela força, rude no trato com a bola, mas com faro de gol.
Fui buscar Ziquita no hotel Del Rey, no centro de Curitiba. Encontrei alguém que, acostumado à vida pacata do interior, e há décadas longe do Atlético, não fazia ideia da dimensão do mito que havia sido criado em torno do feito que completa 40 anos.
Humilde, com aquele jeitão de boleiro da antiga, sapato, calça e camisa social, corrente dourada no pescoço e o bigode guarnecendo o lábio. O Atlético organizara um almoço com os cracks do passado e a imprensa. Em minutos, o artilheiro dos quatro gols relâmpagos virou a sensação do encontro.
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Fomos ao palco da Baixada e Ziquita reencontrou a porção de grama que o fez mito. Explicou com extrema simplicidade como fez aquilo que jamais outro jogador repetiu. Simples: um gol assim, outro por aqui, uma cabeçada e pronto. Batemos fotos em frente da meta que o consagrou na velha Baixada.
O grande momento, entretanto, estava por vir. Um grupo de atleticanos promovia uma celebração de aniversário em frente da Arena e quando Ziquita foi anunciado pelos microfones os torcedores não acreditaram: não era lenda, aquele grandalhão ali em cima do palco que fez tudo.
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Imediatamente, vieram as fotos, na mesma máquina de algum sortudo que estava equipado no momento. E, para o espanto de Ziquita, e só dele, os pedidos de autógrafos. Meio sem jeito, o goleador foi rabiscando o apelido sem muita convicção, mão destreinada.
Até que, em dado momento, a euforia arrefeceu e o astro virou para mim: “André, acho que preciso melhorar o meu autógrafo”. Sem fazer a menor ideia do que responder, eu que só autografei documento, sugeri a inclusão de um número 9.
A partir daí, todos passaram a ser grafados assim. E quem pôde reencontrar Ziquita, levou para casa o nome do atacante das missões impossíveis, acompanhado do número da camisa abençoada naquela tarde inesquecível de 1978.
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