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Ultras da Lazio e caso Juninho no Corinthians: a cultura machista do futebol

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Esportes Gazeta do Povo
24/08/2018 17:48 - Atualizado: 29/09/2023 23:46
Ultras da Lazio e caso Juninho no Corinthians: a cultura machista do futebol

Colaborou: Isabela Starepravo

A torcida da Lazio recebeu um comunicado no último sábado (17) dos Ultras (espécie de versão italiana das torcidas organizadas brasileiras) proibindo mulheres de ocuparem as dez primeiras fileiras do setor do Estádio Olímpico de Roma dominado pela facção.

“A curva norte é um lugar sagrado para nós, um ambiente com um código não escrito que deve ser respeitado. As primeiras fileiras do fundo sempre foram vividas como se fossem uma trincheira e, dentro delas, não admitimos mulheres, esposas ou namoradas e pedimos que elas se posicionem a partir da fileira 10”, dizia o folheto distribuído antes da derrota por 2 a 1 do time da casa para o Napoli, pela 1.ª rodada do Campeonato Italiano.

“Quem escolhe o estádio como alternativa para um passeio romântico que assista em outro setor”, complementava o texto.

Imediatamente contestado por outros torcedores do time e, dias depois, pela própria diretoria da Lazio, a exigência também viralizou nas redes sociais, com diversas pessoas ao redor do mundo criticando a ordem dos Ultras — conhecidos também por posicionamentos radicais que envolvem saudações fascistas e antissemitismo.

Reações negativas a situações como essa mostram que muitas pessoas combatem o machismo no futebol. Mas outras, infelizmente, continuam achando que o esporte é exclusivamente masculino.

Há duas semanas, o Corinthians desistiu de fechar um contrato de empréstimo com o atacante Juninho, do Sport. Motivo: o jogador responde desde o fim de 2017 a um processo por agressão, ameaça e injúria contra a ex-namorada.

Quando o clube anunciou o interesse no jogador, a torcida fez barulho nas redes sociais e exigiu a desistência do negócio.

Essa reviravolta rara reacendeu o debate do machismo no futebol.

Dois dias antes de anunciar a contratação do atleta, o Corinthians havia feito uma postagem nas redes sociais homenageando os 12 anos da Lei Maria da Penha, símbolo normativo para o combate à violência doméstica.

Os torcedores então promoveram a hashtag #JuninhoNoCorinthiansNão, acusando o Timão de ser hipócrita ao promover uma lei que protege a mulher e pouco tempo depois contratar um jogador envolvido em agressão à ex-companheira.

Desde pequenos os meninos que jogam futebol crescem num ambiente difícil que acaba por estimular a cultura machista.

Casos de abuso sexual a jovens atletas são comuns, como relatou ao jornal El País o ex-goleiro Alê Montrimas: “Quando descobre um caso de abuso envolvendo um diretor ou treinador, o clube apenas manda embora esse profissional, em vez de denunciá-lo às autoridades e discutir o problema na mídia”, disse o ex-atleta de Matonense, Bragantino e clubes pequenos de Portugal.

Crescendo com esses traumas, alguns atletas tendem a reproduzir na vida adulta o que sofreram na infância. De acordo com um estudo do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, meninos que sofreram abusos tendem a virar agressores. Assim, a tendência é que tratem outras pessoas como mercadorias, assim como foram tratados.

Expressões enraizadas no ambiente futebolístico acabam por agravar ainda mais este complicado cenário.  Ao se acostumarem a ouvir “não jogue como uma garota”, “não chore, assim você parece uma menininha”, dentre outras do mesmo gênero, jovens podem no futuro tratar mulheres como seres inferiores que servem apenas para o uso sexual dos homens.

Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma lista na qual o Brasil aparece como quinto colocado dentre os países com mais feminicídios no mundo. Os números são assustadores: 4,8 assassinatos a cada cem mil mulheres.

Um caso simbólico e assustador do progresso que ainda deve ser feito em relação a este problema é o do ex-goleiro Bruno, condenado por mandar matar Eliza Samúdio, mãe de seu filho. Ainda na prisão, Bruno recebeu propostas de diversos clubes profissionais e chegou a defender o Boa Esporte em cinco partidas em 2017.

Neste sentido, o caso Juninho foi louvável.

Ver que uma torcida com tamanho apelo popular como a do Corinthians pode fazer com que um acusado de agredir uma mulher sofra as consequências de seus atos dá esperança para um futebol mais igualitário.

A torcida pode ser também protagonista no combate à violência contra mulher. Não ficar passiva diante de jogadores que já cometeram algum tipo de ato hostil contra alguma mulher. Os fãs de futebol devem se mobilizar e promover o desenvolvimento do futebol, que ainda vive no século passado quando se trata da relação com mulheres.

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