Eu me revolto quando vejo jogador de direita, diz Juninho Pernambucano
Juninho Pernambucano, 43 anos, foi um jogador acima da média. Com atuações memoráveis pelo Vasco, depois de ser revelado pelo Sport, migrou para o Lyon, da França, onde se consagrou. Está entre os maiores estrangeiros a jogar bola no país de Zidane e Platini.
Em 2014, momentos após encerrar a carreira, surgiu na Rede Globo como comentarista de futebol, sobretudo dos times cariocas. Seria apena mais um ex-boleiro a ganhar espaço no segmento, não fosse seu estilo de falas longas e o potente sotaque nordestino – algo que deu charme e trouxe contraste ao padrão da TV brasileira.
Após quatro anos de Globo, Juninho rompeu com a emissora de forma constrangedora. Atacou ao vivo no SporTV os setoristas de clube, aqueles que cobrem diariamente os treinos de determinados times. Depois do seu ataque, ouviu uma nota oficial da emissora lhe contrariando. Sem clima, pediu demissão.
A história ele conta em detalhes na edição online do El País, uma entrevista interessante em que Juninho reafirma suas posições políticas. Não passará impune ao que disse, especialmente em um momento de radicalismo. Muito provavelmente vai figurar entre um dos nomes mais odiados de uma parcela significativa do eleitorado. Por outra via, figura das mais admiradas por outra fatia da nação.
No melhor estilo Sócrates e Casagrande, assumiu a retórica de esquerda para defender suas posições, algo legítimo e democrático – concorde com elas ou não.
“Muitos brasileiros ignoram que outros foram torturados e assassinados na ditadura. É desesperador ver gente apoiando intervenção militar. O Exército existe para defender o país, proteger as fronteiras, não para matar brasileiro na favela. Eles não foram treinados pra isso”, comentou.
“Dizem que eu defendo bandido. Mas a gente tem que parar com essa história de achar que todo crime é igual. Uma coisa é assassino, outra é o cara que rouba. Não posso colocar um jovem de 18 anos que roubou num presídio. Ali é categoria de base para o crime. Quando o cara sai, ele quer se vingar da sociedade. Por isso que eu me revolto quando vejo jogador e ex-jogador de direita. Nós viemos de baixo, fomos criados com a massa. Como vamos ficar do lado de lá? Vai apoiar Bolsonaro, meu irmão?”
Juninho não se esquivou de polêmicas ao El País. Chegou a criticar a onda contra Lula de forma explícita, amealhando ainda mais inimigos e apoiadores. “Nunca me envolvi com nenhum político, nunca fiz campanha pra ninguém. Conheci o Lula pessoalmente quando o Brasil jogou contra o Haiti, em 2004. Ele foi lá, agradeceu a gente e deu uma carta para cada um. Foi a única vez que estive com ele. Eu o admiro muito. Ninguém vai apagar o que ele fez por esse país. O Lula é um senhor de 72 anos que está sendo massacrado”.
Para o ex-jogador, o líder petista seria vítima do preconceito brasileiro, algo que ele também aponta existir nas arquibancadas do Maracanã, com ingresso a R$ 180, quando atletas nordestinos e negros são os mais perseguidos pelo público de elite.
“Por que as pessoas odeiam o Lula? O que odeiam nele é a aparência, a origem, o sotaque, a história e a popularidade. Se fizer um teste de ódio nas ruas, colocando um boneco do Lula ao lado de um do Aécio, vai sobrar para o Lula. Nem se compara. A elite exerce um domínio mental”, disse.
Em uma opinião, ao menos, Juninho não vai dividir opiniões. “O futebol está tão perdido quanto o Brasil. A diferença é que o futebol ainda tem o talento a seu favor e pode demorar menos para sair do buraco.”
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