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Mil dias pelas Américas: no Sul da Minas Gerais
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Ana e Rodrigo aproveitam as formações rochosas no Abanador, Carrancas, para fazer boas fotos.

Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

O sul de Minas é uma região de muitas montanhas e também muita água. Circuitos turísticos foram criados para organizar as milhares de atrações da região. O Circuito das Águas, conhecido por suas águas termais, Circuito Histórico, entre outros menores e não menos importantes. A Região da Serra do Sul de Minas possui uma das maiores concentrações de cachoeiras do Brasil.

Nesta região um dos destaques é a cidade de Carrancas. Uma cidade tranquila, com povo acolhedor, rodeada de montanhas e cachoeiras maravilhosas. A 40 minutos da cidade fica a Serra das Broas, localizada a 1500m de altitude passando por riachos, ribanceiras de pedra e estradas de terra que só carros 4 x 4 e fuscas valentes conseguem enfrentar. Lá, pedra sobre pedra formam paisagens maravilhosas. No caminho, diversas fazendas de gado, árvores como jacarandás, paineiras, mangueiras, figueiras, todas muito frondosas e vistosas.

Lá no alto da serra todas as terras são fazendas dedicadas ao cultivo e pesquisa da Candeia, árvore utilizada para a indústria cosmética. A Candeia gosta de solo seco e arenoso e é uma senhora árvore também usada para a produção de antibióticos e de madeira muito forte e duradoura. Pena que tudo que é bom dura pouco. As plantações são também área de pesquisa para o manejo sustentável, pois a maioria já foi extraída pelo homem. Infelizmente sempre voltamos à mesma questão, até quando vamos extrair e acabar com os recursos naturais do planeta, sem avaliar o impacto que isso terá no ambiente e até mesmo para nós?

Arquivo pessoal
A 4×4 apelidada de “Fiona” posando para foto no caminho da Serra das Broas, Carrancas – MG.

Depois de esquentarmos o corpo, caminhando pela serra, descemos para as cachoeiras — principal atração da região, 54 já foram mapeadas. O Complexo da Zilda e o escorregador possuem a água límpida e convidativa, mesmo no inverno. Andamos 15 minutos até a margem e continuamos subindo pelas pedras que formam uma paisagem sensacional. Paredões de pedra de 30 metros de altura e mais 5m submersos, formam o cânion estreito e em cada corredor, poços de água verdinha. Vale ressaltar aqui que o acesso não é tão simples e quem não conhece pode se machucar. Algumas agências de aventuras organizam tours para lá e os donos das terras estão se reunindo para organizar a exploração turística do local, oferecendo infra-estrutura, guias e equipamentos.

O próximo complexo de cachoeiras é o Vargem Grande. Uma pérola a apenas 15 minutos de Carrancas, sem dúvida um dos lugares de rios e cachoeiras mais bonitos da região. A grande atração é a Cachoeira das Esmeraldas, de água, verde e transparente, desce em uma laje imensa fantástica, formando diversas cachoeiras e poços esmeralda. A Fumaça, situada em outro complexo próximo à cidade, é uma cachoeira com volume imenso de água, porém é poluída. Parte do esgoto da cidade de Carrancas ainda é despejado neste rio. Todo o Complexo da Cachoeira da Fumaça já se tornou um Parque Municipal e está em processo para se tornar uma área de preservação. Na Prefeitura de Carrancas já existem verbas destinadas ao tratamento da água e esgoto. Para variar uma solução tardia, mas como dizem “antes tarde do que nunca”.

O mesmo lugar que está explodindo pelo turismo ecológico, ainda vive em torno do agronegócio, por isso fomos conhecer uma grande fazenda da região. A fazenda fica no pé da Serra das Bicas, mais de 1800 hectares com criação de gado, plantação de milho e soja e ainda abriga a estrutura da antiga fazenda que foi um dia um grande engenho de açúcar. Este engenho produzia açúcar e aguardente, tonéis de 10 mil litros de pinga ainda podem ser vistos guardados nos antigos galpões. A Casa Grande com mais de 15 cômodos entre quartos, salas, cozinhas e apenas um banheiro, têm suas paredes pintadas à mão com cenas cotidianas, paisagens e lembranças de Portugal. Hoje a casa está em reforma e o novo dono pretende restaurá-la, mantendo as pinturas originais.

Arquivo pessoal
Complexo da Zilda com água límpida e convidativa em Carrancas.

De Carrancas, seguimos para São Tomé das Letras, cidade conhecida pelo seu misticismo e que acabou se tornando um refúgio famoso para músicos, pintores, hippies, índios xamãs, terapeutas alternativos e malucos de carteirinha. Rodeada por cachoeiras belíssimas, a cidade foi construída sobre um agrupamento de montanhas de formação rochosa diferenciada. A economia da cidade é baseada na extração desta rocha, a famosa pedra São Tomé. Muito usada para calçamento de piscinas, aqui é empregada no calçamento de ruas e construção das casas mais antigas, de pedras empilhadas.
Uma cidade pequena e pacata do interior de Minas, São Tomé está crescendo desordenadamente para os padrões da região. As pedreiras dominam a economia local e com isso alteraram toda a característica da região.

O misticismo, antes uma das grandes atrações turísticas da cidade, já se diluiu meio à população de pedreiros que trabalham nas mineradoras. Algumas casas mais novas ainda fizeram o revestimento externo de pedra, o que ajuda a manter o conjunto arquitetônico da cidade mais harmonioso. Porém no seu entorno novas casas mais simples se empilham, construídas aos pés das principais atrações turísticas da cidade, a Pirâmide e o Cruzeiro.

A montanha está completamente exposta, vista de longe quase parece uma montanha nevada, devido à coloração da rocha. A extração acaba com a mata nativa, deixando-a totalmente esburacada e formando novos montes de dejetos da extração. O pó da pedra possui uma sílica nociva à saúde, o índice de problemas de visão e insuficiência renal aumentou muito e é tópico de discussão nas reuniões comunitárias do município. Além de todos estes danos, a população local não é prioridade no quadro de funcionários das mineradoras, que buscam a maioria de sua mão de obra nos pequenos municípios vizinhos, para diminuição de custos.

Há pouco tempo houve um movimento liderado pelo Governo do Estado para que a extração da pedra fosse proibida. Foram feitas avaliações pelo Ibama e entidades competentes e ao que consta a maioria está regularizada. Muito já foi feito pela comunidade para tentar frear, porém o dinheiro sempre fala mais alto. A esperança fica depositada nas novas gerações, que além de não possuírem interesse algum nesta atividade, também devem lutar para preservar o meio-ambiente, antes que a cidade seja afundada em meio ao pó e às pedras que a batizaram. No seu entorno encontram-se inúmeras cachoeiras como o Vale das Borboletas, a Cachoeira do Flávio, Véu da Noiva, Eubiose, entre outras. Todas deliciosas e muito disputadas no verão e feriados.

Arquivo pessoal
Vista do alto do Complexo Vargem Grande, Carrancas.

Tivemos a grande sorte de chegar aqui em uma das semanas mais frias do ano, então decidimos explorar um arraial próximo, conhecido como Sobradinho. Nosso objetivo foi conhecermos a Gruta e Cachoeira de Sobradinho, Gruta do Labirinto e Poço das Esmeraldas. Este é um lago no meio de uma pedreira desativada, poços de água esmeralda formados artificialmente pela extração. No caminho entre eles, passamos pelo bairro que dizem ser parecido com São Tomé há 20 anos, pequeno e tranquilo. Congelando com o vento e o frio que a noite deve chegar perto de 0°C, artistas independentes tocam no Espaço Dois, abaixo de um dos céus mais estrelados que já encontramos na viagem. Depois de vários “toca Rauuuul” percebemos que pelo menos à noite São Tomé continua a mesma.

Seguimos viagem pelos Circuitos das Águas, mas desta vez ao invés de cachoeiras vamos buscar as águas milagrosas de Caxambu. Águas sulfurosas, com magnésio e sais minerais variados que curam diversas enfermidades há centenas de anos. Problemas intestinais, dermatológicos, hepáticos, oftalmológicos, emocionais e outros. Até a Princesa Isabel curou a sua esterilidade nestas fontes e como agradecimento ergueu uma das principais igrejas da cidade.

As Termas de Caxambu foram totalmente restauradas com suas características originais e acabaram de ser reinauguradas pelo Prefeito da cidade e o atual Governador Anastasia, porém só serão abertas ao público dentro de 15 dias. Em frente ao Parque de Águas fica o tradicional Hotel Glória, que ainda guarda em sua memória os grandes artistas e políticos que ali ficaram hospedados. É, as Minas Gerais guardam estas e muitas outras atrações, difícil é escolher qual delas conhecer primeiro.

Arquivo pessoal
Ana aproveita a Cachoeira das Esmeraldas, Carrancas – MG.

Semana que vem:
Na próxima semana seguimos para Airuoca, no Vale do Matutu, conhecer este remanso hippie e suas cachoeiras. Depois Visconde de Mauá e seus charmosos restaurantes para curtir o frio serrano.

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros.

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