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Trabalhador haitiano vítima de violência em Curitiba. Foto: Bruno Covello/Gazeta do Povo.
Trabalhador haitiano vítima de violência em Curitiba. Foto: Bruno Covello/Gazeta do Povo.| Foto:
Trabalhador haitiano vítima de violência em Curitiba. Foto: Bruno Covello/Gazeta do Povo.

Trabalhador haitiano vítima de violência em Curitiba. Foto: Bruno Covello/Gazeta do Povo.

O repórter Felippe Aníbal prestou grande serviço para a discussão da realidade da imigração em Curitiba nos últimos dois dias. Primeiro, fez bela matéria mostrando que houve recentemente em Curitiba pelo menos 13 casos de espancamento de haitianos. Eles foram procurar atendimento em uma ONG – provavelmente há muitos outros casos de quem não procurou ajuda.

Nesta terça, mostrou uma pesquisa relativa ao caso dos migrantes. Realizada pela Brain Inteligência de Mercado a pesquisa perguntou a 414 curitibanos o que eles pensam sobre os imigrantes. Claro: é um universo pequeno, mas a ciência social e a estatística estão aí para isso mesmo: extrapolar amostras pequenas e mostrar o quanto isso explica da população como um todo.

Uma das perguntas parece ser especialmente reveladora sobre o pensamento que pode estar levando os haitianos a serem vítima de preconceito. “Você é favorável à imigração?”, pergunta o questionário. Pouco mais da metade (51%) da amostra respondeu que “sim, sempre”. Outros 36% disseram que “depende do tipo do imigrante”. E 13% disseram que são sempre contra.

Os 13% que são sempre contrários podem ter uma aversão inata a qualquer um que venha de fora. Sã uma minoria importante, caso o número esteja certo: são 1 em cada 8 curitibanos, neste caso, o que (se a pesquisa estiver certa), equivale a 200 mil pessoas que são contra qualquer tipo de imigração para a cidade.

Os 36% de “depende” também são preocupantes. Não há no levantamento uma separação para saber quais tipos de imigrantes seriam mais aceitos do que outros. Pode-se especular. E nesta especulação podemos usar algumas informações sobre migração recente para nossa região.

Não só temos um certo orgulho em Curitiba de sermos uma terra de migrantes como temos recebido bem as levas recentes de trabalhadores europeus que vêm para cá. Exemplo clássico é o caso da Renault. Com a vinda da montadora para o Paraná, há uma década e meia, vieram a Curitiba e região muitos franceses. Não são muitos os casos conhecidos de pessoas que os evitam, e embora tenha havido crimes contra franceses, não parece que tenham relação com sua origem étnica ou de nacionalidade.

O caso dos haitianos, que podemos entender que estão entre os imigrantes que alguns (muitos!) curitibanos veem como imigrantes “indesejáveis” tem duas diferenças óbvias. Uma, racial. Outra, social.

Os trabalhadores haitianos (surpresa!) são negros. Essa pode ser uma explicação simples para não serem bem aceitos, serem espancados e serem mau vistos (eles relatam que há gente que não aceita sequer dividir com eles um banco de praça ou um elevador). O racismo não nos é estranho, é preciso admitir.

Uma outra explicação é econômica. Os haitianos em geral (nova surpresa!) são gente pobre que, premida pela miséria do país, especialmente após o terremoto de quatro anos atrás, deixa o Haiti em busca de oportunidades mínimas de sobrevivência. Curitiba, para eles, é uma chance de recomeço, um lugar onde tentar a vida. No Haiti, a taxa de pessoas abaixo da linha da pobreza é de, pasme, 80%. Ou seja, são 80% de pessoas vivendo com menos de R$ 1,25 por dia.

Mais: eles precisam sair de lá para enviar dinheiro para quem fica. As remessas de haitianos que estão fora do país equivalem a 20% do PIB do país hoje (os dados são do livro “Economics: a User’s Guide”, de H.J. Chang, ainda inédito no Brasil).

Assim, os haitianos talvez sejam vistos como “roubando” empregos de brasileiros, ou como gente que quer se aproveitar de nossa situação. Não é bem assim, claro. O mesmo Chang afirma que dificilmente os imigrantes prejudicam a economia que os recebe. A lógica é que, se eles vêm, é porque são necessários: ocupam vagas que ninguém quer, ou há uma situação de emprego aqui que, pelo menos permite a competição.

De qualquer modo, nada justificaria, é claro, as agressões contra eles. Nosso dever, em nome da civilização e da humanidade, é aceitarmos o diferente e sermos minimamente solidários com quem precisa. Ninguém deixaria seu país à toa, nem viria para cá sem necessidade. Seria ridículo que recebêssemos bem os executivos franceses da Renault e não soubéssemos aceitar os haitianos.

Um livrinho que andou fazendo sucesso por aí dizia em seu título que nós, brasileiros, não somos racistas. Está na hora de demonstrarmos isso.

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