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Vereadores não pagam “para trabalhar”: pagam para se reeleger
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O vereador Chico do Uberaba (PMN) causou espanto nesta terça-feira ao dizer que os integrantes da Câmara de Curitiba estão “pagando” para trabalhar. A fala, dita no plenário da câmara, foi reproduzida por tevês e rádios. E, lógico, gerou revolta.

Veja o que o vereador disse:

“Olha só o que um vereador de Curitiba tem: um carro, 200 litros de gasolina e um selinho. Nada mais. Não tem verba de gabinete, não tem verba de nada. Então, onde essa Casa está pecando? A infraestrutura para um bom andamento de um vereador.”

“Nós pagamos tudo. Estamos pagando para ser vereador hoje. É lamentável a forma que está sendo feito. O décimo terceiro ninguém fala nada. O Senado recebe, a Câmara Federal, a Assembleia, os nossos funcionários recebem, só os vereadores não.”

A parte que mais chamou a atenção no comentário do vereador foi o pedido do décimo terceiro salário. Há pelo menos dois anos os vereadores têm brigado com os presidentes da Câmara para receber o salário adicional.

Paulo Salamuni (PV) chegou a cogitar pagar. A população reagiu, dizendo que o Tribunal de Contas não recomendava o pagamento, e ele recuou. Agora, o novo presidente, Aílton Araújo (PSC) também não deve pagar. E isso revolta alguns vereadores.

Claro que a revolta não faz o menor sentido. O salário de R$ 15 mil é alto. Mesmo com os descontos, sobram R$ 11,4 mil.

Mas a principal reclamação do vereador é de que falta “infraestrutura” para o trabalho dos vereadores. Ou seja: não é só o salário. O que os vereadores querem, segundo Chico do Uberaba, é mais condição de fazer “atendimento” à população.

Quase todos os vereadores trabalham do mesmo jeito. Além do gabinete na Câmara, em que podem manter até sete funcionários pagos com dinheiro público, têm um gabinete no bairro em que atuam. Lá, recebem pedidos da população. Se forem casos de assistencialismo, são proibidos por lei. Mas, mesmo quando os pedidos são legalmente atendidos, trata-se de uma espécie de serviço de despachante.

O vereador recebe um pedido de asfalto, de creche, de semáforo na esquina. E vai anotando. Transfere o pedido para a prefeitura, usa seu peso político e, muitas vezes, consegue o benefício para a região. Com isso, tenta garantir a reeleição.

Parece tudo certo? Nada. Isso tem seu preço. De um lado, transforma vereadores, que deveriam ser legisladores e fiscais da prefeitura, em engrenagens de uma estrutura destinada a perpetuar o poder – do prefeito e dele próprio.

De outro, custa caro. Porque é para isso que os vereadores querem cada vez mais “infraestrutura”. Traduzido, isso quer dizer mais verbas, mais funcionários, mais selos, mas dinheiro de telefone, mais “atendimentos”.

O que alguns vereadores querem, no fundo, é mais dinheiro para a permanente campanha de reeleição que gerenciam em seus gabinetes públicos. Querem fazer tudo isso com verba do erário. Eles não pagam para trabalhar. Pagam para se reeleger. E acham terrível ter que fazer isso com dinheiro do próprio bolso.

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