Evangelino volta para falar com Samir e Petraglia
Curitiba era uma cidade fria e cinzenta.
Ruas estreitas, gente bem agasalhada para enfrentar as baixas temperaturas – a gozação era de que Curitiba tinha duas estações: a ferroviária e o inverno –, os cafés sempre cheios. Cinemas, jogos de futebol e corridas de cavalo como diversões obrigatórias da maioria.
O prefeito Ivo Arzua entrou no embalo do excelente governo Ney Braga no inicio dos anos 1960 e mexeu com a infraestrutura curitibana. Ruas foram alargadas, modernas avenidas construídas e surgiu uma nova face da “Cidade Sorriso”.
Jaime Lerner virou o jogo de vez. Desde o seu primeiro mandato como prefeito da capital, liderando uma equipe de arquitetos, engenheiros e planejadores criativos, beirando a genialidade, tudo mudou.
Surgiram os parques, os bosques, as áreas verdes, as atrações turísticas e um sistema de transporte revolucionário até mesmo para os padrões do chamado Primeiro Mundo.
E a cultura local também foi privilegiada. Houve uma série de iniciativas que elevaram o padrão cultural, mas nada tão popular como as “Parcerias Impossíveis” no Teatro Paiol. Marcou época.
Acompanhando as peripécias da dupla Atletiba, na Copa do Brasil, lembrei o quanto algumas parcerias impossíveis teriam utilidade para o nosso futebol.
Certa feita alguém sugeriu um imaginário encontro entre William Shakespeare e Miguel de Cervantes. No Céu, por óbvio. Ambos morreram há mais de quatrocentos anos, justo no mesmo dia – 23 de abril -, deixando portentosa obra literária para a eternidade terrena.
Chargistas adoram imaginar encontros como Clark Gable e Gary Cooper saudando a chegada de Robert Taylor em celestial nuvenzinha. Três dos maiores ídolos de Hollywood morreram relativamente moços para os atuais padrões de longevidade.
Ouvindo a entrevista do jovem presidente Samir Namur, após a eliminação do Coritiba, e as explicações do técnico Fernando Diniz após mais uma fraca apresentação do time principal do Atlético, imaginei encontros memoráveis e úteis com a presença de um único personagem póstumo: Evangelino Neves (1925-2008).
Licença poética do primeiro ao último instante das reuniões.
O campeoníssimo presidente coxa-branca desembarcaria ao Alto da Glória e encontraria o principiante Namur. O encontro poderia ser em qualquer lugar próximo ao vestiário. Se bem que, no seu longo reinado, Evangelino tenha preferido comandar as ações da sua sala na sede da rua Ubaldino do Amaral. Só descia para os lados da rua Mauá em ocasiões especiais. E quando ia era para decidir a parada destituindo um técnico ou mesmo um diretor de futebol.
O “Chinês” teria muito a ensinar ao entusiasta e bem intencionado novo presidente do Coxa. Principalmente que roupa suja deve ser lavada em casa, para não comprometer a imagem do clube. Para o respeitável público apenas a fantasia do futebol com a formação de equipes competitivas e conquista de títulos.
O ilustre visitante bem que podia aproveitar o ensejo e dar um pulinho até a Baixada para conhecer a nova arena atleticana.
Ouviria a exposição do jovem treinador Fernando Diniz, mas deveria se dirigir mesmo ao presidente Mario Celso Petraglia. Talvez lamentassem o fato de não terem vivido o auge de suas existências no mesmo período. Mais ainda: não terem torcido pelo mesmo time.
Já imaginaram que parceria perfeita seria Petraglia na administração, marketing e expansão patrimonial e Evangelino no futebol ?
Teríamos um Barcelona em Curitiba.
Os sonhos dos torcedores rumariam juntos aos campos elísios.
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