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Fitas cassetes voltam coloridas e com melhor qualidade sonora.
Fitas cassetes voltam coloridas e com melhor qualidade sonora.| Foto:

Desaparecidas desde a popularização dos CDs, nos anos de 1990, fitas cassete entram na onda ‘vintage’ e começam a rodar novamente nos velhos e bons walkmans

Com os walkmans e as fitas cassete, as pessoas passaram a ouvir música em qualquer lugar.

Quarenta anos atrás, o rádio do carro era a forma comum de ouvir música e circular ao mesmo tempo pela cidade ou pelas estradas. Para quem não tinha automóvel, o jeito era recorrer ao hoje aposentado radinho a pilha. Outra opção era a vitrola e o disco vinil, que prendiam a turma na sala de casa para curtir o som da banda ou do músico preferido.

Isso tudo mudou a partir dos anos de 1970. Após o surgimento de uma caixinha de plástico com uma fita magnética dentro, o jeito de ouvir música mudou completamente. As fitas cassete, também conhecidas de K7, revolucionaram os costumes da época. Com elas, as pessoas podiam levar música na bolsa, na mochila, na pasta da escola para ouvir onde bem quisessem. E com um gravador, era possível selecionar uma sequência de “baladas” do momento, apesar da qualidade das gravações caseiras não ser nada boas para os padrões de hoje.

Nos anos de 1980, com a evolução dos fones de ouvido e a invenção do walkman, pela Sony, as fitas cassete viraram febre. Pela primeira vez era possível caminhar no meio da multidão enquanto se ouvia música sem incomodar as pessoas próximas. Os toca-fitas portáteis e as fitas cassete deram a liberdade para escutar o som dos seus ídolos no ônibus, no carro, no metrô ou no quarto enquanto outras pessoas dormiam.

Era uma época de U2, The Smiths, A-Há, Legião Urbana, RPM, Barão Vermelho e Ira!, só para citar alguns cantores da juventude da época. Era também tempo de Rock In Rio – o primeiro foi em 1985. Ter um walkman e sair por aí com um punhado de fitas para ouvir as canções favoritas, baladas e rock pesado era o sonho de todo jovem e também de muitos não tão jovens assim.

Como tudo em tecnologia logo é superado, aquele embalo durou pouco. As fitas cassete entraram em declínio no início dos anos 90 com o surgimento dos CDs e rapidamente viraram peça de museu.

Agora, nesses tempos em que uma onda ‘vintage’ conquista a cabeça de jovens e a nostalgia parece contraminar os mais antigos, a velha fita magnética dá sinais de que a ferrugem do metal incrustado no poliéster ainda não a destruiu completamente. Assim como os discos de vinil, que voltaram a rodar nas vitrolas mundo afora, as fitas cassete começaram a viver um momento retrô de um ano para cá.

Novo momento

No Brasil, a aposta na nova tendência é da Polysom, conhecida por ser uma das mais importantes fábricas de discos de vinil da América do Sul. Após quase um ano de preparação, a gravadora começou em maio deste ano a fabricar cassetes em escala industrial para atender um público que só vem crescendo.

“O movimento que vislumbramos já vem ocorrendo no exterior, associado com o aparecimento de duplicadoras antigas que estavam disponíveis para serem restauradas. A repercussão tem sido bem acima do esperado”, explica João Augusto, executivo da Polysom.

A empresa tem capacidade para produzir até 4 mil fitas por mês, mas inicialmente deverá colocar no mercado 2 mil. As fitas vão reproduzir os álbuns como foram gravados originalmente, independentemente do artista. As fitas a venda até o momento custam R$ 49,90. Entre os nomes da lista estão Pitty, Planet Hemp, Arctic Monkeys, Nando Reis, Elza Soares e Fernanda Takai.

Sobre a qualidade do som, que no passado era muito questionada, João Augusto diz que o produto atual será bem superior. “O controle de qualidade pelo qual passarão e o grau de exigência mais elevado do consumidor vão garantir um produto melhor”, argumenta.

Mesmo com o impacto da onda ‘vintage’, a expectativa é de que o mercado das fitas cassete ficará restrito a um nicho bem menor que o dos discos de vinil. Um dos problemas é que cassetes não tem o grande apelo visual dos LPs.

Independentemente do som, do visual e do charme ‘retrô’, a ideia de ter o disco da banda ou do artista de quem é fã em todos os formados – vinil, cassete, CD – atrai muita gente.

Para chamar a atenção da meninada que gosta de experimentar o passado e também os nostálgicos, em busca de reviver os tempos da juventude, as ‘novas velhas fitas’ têm seus encantos. Para fugir do tom pastel ou preto do plástico do passado, são coloridas e as artes dos rótulos são impressas diretamente nas fitas.

Tudo começou há mais de um século

As origens da fita cassete têm mais de 100 anos. Uma invenção do dinamarquês Valdemar Poulsen (1869-1942), em 1900, foi a primeira nota musical dessa história. Ele não inventou a fita e sim um fio, ou melhor, um arame, que serviu para as primeiras gravações magnéticas. O problema da invenção revolucionária de Poulsen, apresentada no salão de Paris, era que, quando o fio torcia, a gravação era interrompida.

Passaram-se mais de 20 anos até que um engenheiro alemão, Fritz Pfleumer, de Dresden, apresentou uma engenhoca que usava fita de papel revestida com aço em pó para gravar. O aparelho foi batizado com o nome de magnetofone. Era uma evolução e tanto.

A barreira da gravação magnética parecia vencida, mas a invenção de Pfleumer estava longe de chegar ao grande público. O passo seguinte veio mais de uma década depois. Em 1934, a alemã Basf criou a fita magnética como se conhece hoje. No lugar do arame e do papel, a empresa usou um plástico recém-inventado, ao mesmo tempo resistente e flexível – o poliéster –; e no lugar do pó de aço colocou óxido de ferro.

O uso da fita da Basf ainda dependia de outras invenções para se popularizar. Em 1935, a alemã AEG apresentou o primeiro gravador de rolo, equipado com a nova fita de poliéster e de óxido de ferro. Estava tudo pronto para o grande salto na forma e no costume de ouvir e gravar músicas, mas o equipamento era muito caro, pesado e relativamente difícil de utilização. Apenas profissionais utilizavam o aparelho em emissoras de rádio e estúdios de gravação.

No começo de 1960, no entanto, os pesos e preços caíram quando os tubos a vácuo foram substituídos por transistores. Gravadores de rolo se tornaram acessível às pessoas, mais ainda assim eram presentes em uma pequena quantidade de casas.

O sucesso só viria a partir de 1963, quando a holandesa Phillips lançou o áudio cassete compacto. Com os minicassetes e gravadores portáteis a forma de ouvir e gravar música definitivamente nunca mais foi a mesma. (CM)

Nostalgia americana

Nos Estados Unidos a onda nostálgica que desenterrou o disco vinil começa a atingir também as fitas cassete. Segundo números de venda da Nielsen Music, o velho jeito de ouvir música está passando por uma pequena revolução. Apenas em 2017, a venda de fitas cassete apresentou um aumento de 35% comparado com 2016, totalizando 174 mil novas fitas cassetes vendidas. É um número pequeno, mas muito interessante quando se trata de um formato que já estava morto.

“Cassete Culture”

Novas bandas independentes e também músicos consagrados estão ajudando a reavivar as velhas fitas cassete. Nos EUA há um movimento nomeado de “Cassete Culture”. Bandas conhecidas como Pearl Jam, Foo Fighters e Goldfrapp já aderiram ao movimento e recentemente lançaram trabalhos em cassete. No país há atualmente 101 selos que lançam fitas cassetes.

Canal underground

Em um artigo para o site Rizhome, a escritora norte-americana Ceci Moss lembra que nos anos 80 as etiquetas de cassetes desempenharam um papel vital na distribuição da música underground. Fáceis e relativamente baratas de produzir, os cassetes tornaram-se um formato comum para a circulação de músicas fora da mídia tradicional. “Embora as grandes produtoras também produzissem cassetes, muitos dos produtores dessas marcas underground viam seu modelo de negócios como uma posição contra a ganância da indústria musical”, escreveu. Para a escritora, na época atual, o interesse em lançamentos de cassetes hoje pode, em parte, ser entendido como uma reação à proliferação de mídias digitais.

CDs deram fim aos cassetes

Além de permitir ouvir música em qualquer lugar, as fitas cassete fizeram sucesso por permitir que uma pessoa gravasse a sua seleção de músicas favoritas. Era uma nova forma de selecionar e armazenar som. A decadência veio com a chegada dos CDs, que permitiam armazenar 700 MB de dados, tinham qualidade de áudio muito superior, permitiam mudar as faixas rapidamente e possuíam vida útil bem mais longa. Com a evolução dos celulares e o armazenamento de músicas em nuvem, acessíveis a qualquer momento online, foi a vez de os CDs entrarem em declínio. Mas isso é outra história, a das mudanças no mundo digital.

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