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O olhar de Lélio #4 – Paulo Leminski, meu amigo
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O blog está publicando, desde a semana passada, textos e ensaios do crítico curitibano Lélio Sotto Maior Jr., que foi retratado na reportagem da série Perfil, da Gazeta do Povo, no dia 2 de maio.

A série de posts, intitulada O olhar de Lélio, busca resgatar a presença e a paixão deste curitibano pelo cinema, que cativou uma geração de cinéfilos principalmente nas décadas de 1960 e 70 e até hoje é lembrado como um dos maiores incentivadores da sétima arte por essas bandas . O único problema é que a produção de Lélio é dispersa e não catalogada, o que nos impede de cravar exatamente quando e em que veículo os artigos foram publicados. Mesmo assim, os textos são atemporais e merecem ser degustados com calma.

As belíssimas fotos que acompanham os posts são do colega Marcelo Andrade, da Gazeta do Povo.

Dessa vez, no lugar de uma crítica, trago um texto bem pessoal e revelador em que Lélio escreve sobre Paulo Leminski, de quem foi amigo próximo e com quem formou o Grupo Áporo no fim da década de 1960 (na reportagem do Perfil há mais detalhes sobre essa parceria).

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Paulo Leminski, meu amigo

O Paulo que liderou o Grupo Áporo (Ivan da Costa, Alice Ruiz, Wilson Bueno, Neiva e Pedro Leminski, Carlos João, Paquito Modesto, Cristo Dikoff, Flávio Meirinho e eu), que pretendia revolucionar a província. O Paulo que me ensinou a importância de viver, citando Budd Boetticher (o campeão do Western B). O Paulo que me levou a conhecer o A Rebours, de Huysman.

O Paulo que adorava o refrão “While I kiss the sky” (enquanto eu beijo o céu), do Purple Haze, de Jimi Hendrix. O Paulo que adorava The Sound of Silence, de Simon & Garfunkel. O Paulo que curtiu Roger Corman e seu cinema gótico (O Homem dos Olhos de Raio-X era o seu preferido).  O Paulo que tinha uma verdadeira loucura por faroeste italiano.

O Paulo que concordou comigo sobre a beleza de Cleópatra, de Joseph L. Mankiewicz. O Paulo que entendeu a grandeza de My Fair Lady, de George Cukor, num artigo lindo. O Paulo que gostou muito de O Eclipse, de Michelangelo Antonioni. O Paulo que dizia que a guitarra elétrica tem uma batida (beat) especial.

O Paulo que me leu Poe no original. O Paulo que me explicou a hiper-sensibilidade de Proust. O Paulo que dizia que O Ano Passado em Marienbad, de Alan Resnais, é um filme de terror. O Paulo que me deu a devida dimensão dos irmãos Campos. O Paulo que adorou Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.

O Paulo que respeitava o talento de Roberto Carlos. O Paulo que admirava o popstar Donovan (hoje esquecido). O Paulo que me fez compreender a música italiana. O Paulo que estimava os Rolling Stones e seu rock efervescente.

O Paulo que me fez compreender a grandeza do Catolicismo. O Paulo 100% Zen no tatâmi do Judô. O Paulo que tinha um artigo genial sobre Godard (não publicado).

E, para finalizar, o Paulo que era fã do Jerry Lewis. E venerava Bob Dylan. E que me ensinou a magia da alma eslava.

Leia também:

O olhar de Lélio #1 – As luzes de Vertigo

O olhar de Lélio #2 – O desprezo de Godard

O olhar de Lélio #3 – Orson Welles, o cinema genial

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