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General Braga Netto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
General Braga Netto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil| Foto:

Não é nem de longe má ideia tirar o comando do combate à criminalidade no Rio de Janeiro de um aparato estadual falido e colocar nas mãos das Forças Armadas, instituição que detém o maior índice de confiança da população brasileira. Eu, você e a torcida do Flamengo seríamos capazes de sugerir essa solução, tão brilhante como a proposta de contratar Neymar para resolver a falta de gols do ataque do seu time. Como convencê-lo, pagá-lo e fazê-lo carregar nas costas os outros dez perebas da equipe é algo muito mais complexo de tirar do papel.

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Na última sexta-feira (16), o presidente Michel Temer adotou a solução Neymar. E conseguiu a proeza de personificar a estratégia. O nome do Exército responsável pela intervenção federal, Walter Souza Braga Netto, é um craque em sua plenitude: general de quatro estrelas com carreira militar impecável de 43 anos, doutor em política e estratégia, supervisor das Olimpíadas de 2016, observador da ONU no Timor Leste, estudioso e ‘colecionador’ de mapas e dados sobre a bandidagem fluminense.

O erro (ou risco friamente calculado) de Temer não está no “quem”, mas no “como” e “quando”. Braga Netto estava de férias quando recebeu a convocação presidencial, quinta-feira (20). Quase não abriu a boca na entrevista coletiva do dia seguinte, ao lado dos ministros da Defesa e do Gabinete de Segurança Institucional, Raul Jungmann e Sérgio Etchegoyen.

O currículo indica que ele sabe o que fazer. O retrospecto das ações militares anteriores no Rio, como na Copa do Mundo e nas Olimpíadas, também dá um roteiro do que teremos pela frente. A situação vai melhorar, mas por quanto tempo?

Chefe de Braga Netto, o general e comandante do Exército, Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, descreveu, em junho de 2017, como é a experiência dos militares nesse tipo de situação:

“Um dia me dei conta. Os nossos soldados atentos, preocupados – são vielas –, armados. E passando crianças, senhoras, eu pensei: ‘Estamos aqui apontando arma para a população brasileira. Nós somos uma sociedade doente’. E lá ficamos [na favela da Maré] 14 meses. Do dia em que saímos, uma semana depois tudo havia voltado ao que era antes.”

Ao que consta, Braga Netto concorda com o comandante. Dois meses depois da fala de Villas Bôas, deu palestra no Rio em que tratou dos danos psicológicos provocados pelo emprego de militares em ações de segurança pública. O que não compromete a missão: Braga Netto vai cumprir as determinações da “guerra do Rio”, mas se algo der errado, ele e, por consequência, as Forças Armadas, vão pagar o pato.

Nessa circunstância, Temer e seu staff jogam de maneira extremamente egoísta. Presidente mais impopular da história, ele está num buraco tão profundo que não tem mais para onde descer, ao contrário dos militares. Pesquisa Datafolha de julho de 2017 mostra que 83% dos brasileiros confiavam muito (40%) ou pelo menos um pouco (43%) nas Forças Armadas, a instituição mais bem avaliada do país à época. Apenas 3% disseram confiar muito na Presidência da República.

A ideia de aventura bélica de Temer é muito mais política que de segurança pública, em si. Além de ter escondido o fracasso da reforma da Previdência, encurrala de uma vez só três adversários políticos. A jogada, se surtir efeito até as convenções partidárias, entre julho e agosto, tira do páreo a candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).

Mas o alvo mesmo é Jair Bolsonaro (PSC), capitão da reserva e que desponta atualmente como favorito nos cenários de disputa presidencial sem Lula. Se Temer for o civil que põe os militares para trabalhar, o papo linha-dura de Bolsonaro se torna inócuo. Se o plano der errado, é culpa dos militares e Bolsonaro também é esvaziado.

Não à toa, o deputado já reagiu: “Temer já roubou muita coisa aqui, mas o meu discurso ele não vai roubar, não.”

Nesse tiroteio da politicagem, só resta a torcida para que não respinguem balas perdidas nas Forças Armadas. E que os generais continuem sendo as vozes mais sensatas de todo esse processo.

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