Lula, como já se previa há meses, está indo para a cadeia. É bom, ruim? Os adjetivos ficam ao gosto do freguês.
Quem se agarra demais a apenas um deles, porém, não percebe o quanto nos transformamos em vítimas do sistema prisional que virou nossa democracia. O transe de amor e ódio ao ex-presidente sequestrou nossa capacidade de diálogo e, por consequência, de sair da indigência política. Somos, na média, falantes demais e ouvintes de menos (quando nos dispomos a ouvir alguma coisa).
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A prisão de Lula será nossa libertação? Inicialmente, tudo indica que não. A médio e longo prazo, há boas chances que sim. Se isso acontecer, mesmo que demore, será infinitamente melhor do que a mera prisão do petista.
Mas como chegamos a essa situação?
Lula, o PT e seus aliados de partidos satélites como PDT e PCdoB são responsáveis pelo alicerce dessa cadeia de horrores. Seus opositores diretos do PSDB, além dos fisiológicos de sempre de MDB, PP, PSD e afins, construíram paredes sólidas e colocaram as grades para que o xadrez não caísse. Mal sabiam eles que uma onda de novos aproveitadores de discurso radical fácil, puxados por Jair Bolsonaro à direita, seriam capazes de construir uma ala novinha para encher com novos prisioneiros do discurso político fácil e rasteiro.
Em um primeiro momento, a prisão de Lula não vai esfriar esses ânimos. Pesquisas indicam que parte do eleitorado do petista, inclusive, flerta com Bolsonaro, dentro da ideia de que é melhor entregar o país para ele do que para traidores de partidos como o MDB de Michel Temer. Outros podem migrar para o campo oposto de Guilherme Boulos (PSOL), que, com as bênçãos de Lula, tenta posar de novo radical de esquerda.
Lula e anti-Lula, esquerda contra direita, pobre contra rico, Deus contra o diabo… Tudo isso é conversa para boi dormir. Não será o radicalismo que melhorará a vida das pessoas, apesar de parecer o caminho mais curto.
A prisão de Lula ocorre exatamente seis meses antes do primeiro turno das eleições de 2018. Este sábado (7) também é a data-limite para as filiações partidárias, ou seja, para sabermos quem estará legalmente no páreo. Um semestre na política pode parecer pouco, mas na política é uma eternidade.
Dá para aproveitar esse tempo para parar de olhar para trás e achar algum horizonte. Há infinitas lições a se aprender. Muito melhor do que a prisão de Lula será chegar à eleição não falando mais de Lula.
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