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Foto: Gazeta do Povo
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O tema do momento é o deputado federal Jair Bolsonaro e a saga patrimonial da sua família, revelada em série de reportagens do jornal Folha de S. Paulo. Mas, a 10 meses da eleição presidencial, é impossível falar sobre Bolsonaro (e seus imóveis) sem mencionar seu suposto arquirrival, Lula. Porque, se eles polarizam os corações e intenções de voto dos brasileiros, têm de ter as vidas públicas tornadas cada vez mais públicas.

E aí vem a primeira questão crucial: ir atrás da explicação da construção do patrimônio do clã Bolsonaro não é um fetiche doentio da imprensa. Jair, o pai agora presidenciável, recebe salário como parlamentar (logo, pago por você, contribuinte) desde 1989. Começou essa trajetória declarando à Justiça Eleitoral ter um Fiat Panorama (uma perua do Fiat 147, um dos piores carros fabricados no Brasil), uma moto e dois lotes em Resende.

Atualmente, ele e dois filhos parlamentares, Carlos e Eduardo, têm juntos um patrimônio de R$ 15 milhões. Sem Jair, eles não teriam entrado tão facilmente na política, logo, colocar os dois na conta faz todo sentido. A Folha usou declarações patrimoniais formais dos três e documentos de cartórios para produzir as reportagens.

Aí vai a segunda questão crucial: o que se espera dos Bolsonaro é que eles contestem o conteúdo desses documentos (ou ao menos apresentem respostas plausíveis). Atacar a Folha (chamada pelos seus seguidores de “Foice de São Paulo”), a imprensa tradicional ou seus “jornalistas esquerdopatas” é a velha tática juvenil de mirar o mensageiro – e não a mensagem. Prestar contas faz parte da democracia e é da conta do contribuinte conhecer a conduta dos funcionários pagos por ele.

A família se negou a falar com a Folha antes da veiculação da matéria, no domingo ((7). Depois, o jornal publicou as 32 perguntas enviadas ao trio previamente e não respondidas deliberadamente. Bolsonaro preferiu publicar a primeira resposta no blog “Família Bolsonaro”, em que se disse alvo de calúnia.

Um dia depois, os três usaram seus canais em redes sociais para se defender. Bolsonaro pai falou sobre “assassinato de reputação”. Carlos disse que “gostaria de ver a mídia fazendo levantamento de bens no mesmo estilo com outros presidenciáveis” e encerrou: “isso aqui não é uma democracia imparcial”.

Agora é a deixa para falar do “outro presidenciável”. No dia 24, Lula será julgado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) pela aquisição do tríplex no Guarujá. Se a corte referendar a condenação da primeira instância, proferida pelo juiz Sergio Moro, Lula estará fora da eleição.

Uma busca no site da Folha com as palavras-chave “Lula” e “tríplex” dá o retorno de 729 conteúdos sobre o assunto. Mas não é só isso: Lula tem vários outros enroscos imobiliários amplamente noticiados pela imprensa e que também desencadearam processos judiciais: aluguel de apartamento em São Bernardo, sítio em Atibaia, compra de terreno para o Instituto Lula.

Que fique claro: cada caso é um caso e boa parte das ações que envolvem Lula estão relacionadas à corrupção. Sobre os Bolsonaro, a evolução patrimonial pode parecer estranha, mas nada até o momento aponta ligações com corrupção.

A questão, do ponto de vista de interesse público, é que Lula também detesta a mídia tradicional, mas quase nunca é omisso em dar respostas a seus embaraços jurídicos (se elas fazem sentido, é outra história). E quando não se dá por satisfeito em jogar o jogo do jornalismo livre, monta um palanque, convoca o time de advogados, contesta perícias com outras perícias.

Toda vez que o grito supera a argumentação, a democracia regride uma casa. Bolsonaro é, indiscutivelmente, um fenômeno de popularidade. Se não quiser ser relevante apenas por isso, precisa aprender a ser mais que um deputado do baixo clero.

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