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Pastor Praczyk “deu” uma lição a todos: a política é o espaço mais machista da sociedade brasileira
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Em março de 2014, quando já estava fora da Casa Civil, a senadora Gleisi Hoffmann (PT) deu uma declaração que mostra um pouco como a banda toca na política brasileira quando o assunto é machismo.

Gleisi disse que um dos problemas velados (mas preponderantes) no relacionamento do governo Dilma com o Congresso foi o “estranhamento” causado pela montagem de um time feminino no Planalto. Além de Gleisi e Dilma, Ideli Salvati foi ministra de Relações Institucionais durante boa parte do primeiro mandato.

A constatação da senadora é a seguinte: em um ambiente masculinizado como o de Brasília prevalece a tradição de que as conversas políticas precisam passar por lugares informais, como bares e restaurantes, em horários fora do expediente normal.

“Como o homem está presente na vida pública há mais tempo, ele estende esse espaço de trabalho para fora do espaço formal”, disse. “Nós [mulheres] temos uma jornada diferenciada, podemos até não executar serviços domésticos, mas temos o comando das relações da casa, principalmente das relações afetivas. Aí para você conseguir, como se diz no jargão político, tomar um uísque para articular, é uma coisa muito mais difícil.”

Antes de mais nada, guarde as pedras no bolso, essa não é uma defesa nem uma crítica à gestão Dilma Rousseff.

A verdade é que Gleisi até que pegou leve. Não tem nada mais machista que a política brasileira. E a paranaense talvez seja ainda mais.

Atualmente, a Câmara Federal têm 50 deputadas. É menos de 10% do total de 513. A bancada paranaense tem 2 deputadas, menos de 7% do total.

Para refrescar a memória, Gleisi, eleita em 2010, foi a primeira senadora da história do estado. O estado só foi eleger uma deputada em 2002. Mas a bancada feminina do estado na Câmara nunca superou duas cadeiras.

Os números ainda dizem pouco sobre a realidade das mulheres – afinal, temos uma presidentA, não? No fundo, são raríssimos os casos de políticas paranaenses que subiram na carreira sem serem ligadas a um marido poderoso. É a situação da própria Gleisi, esposa do ex-ministro do Planejamento e Comunicações, Paulo Bernardo.

A atual vice-governadora, Cida Borghetti (Pros), é mulher do deputado federal Ricardo Barros (PP). Emilia Belinati (PP), primeira ex-governadora do estado, era casada com o popular (ou popularesco) ex-prefeito de Londrina, Antonio Belinati (PP).

No plano nacional, mãe Dilma só cresceu à sombra do pai Lula. E por aí vai.

A essa altura seria moleza jogar a culpa no eleitor, que não vota em mulheres. O fato é que o machismo da política brasileira deriva da mediocridade da política interna partidos, que funcionam essencialmente como instrumentos de proteção de oligarquias. Que, invariavelmente, são comandadas por um coroné mui macho.

Por tudo isso não chega a ser surpreendente o discurso do deputado estadual Edson Praczyk (PRB), que atacou anteontem a jornalista da RPC, Paola Manfroi, pela reportagem sobre o bloqueio de bens do parlamentar. Praczyk subiu à tribuna para questionar o que Paola “deu” para conseguir as informações.

Praczyk sentiu-se à vontade para falar o que falou porque o ambiente para o discurso era adequado. Tanto que, na hora, a fala nem gerou grande repercussão. O constrangimento ficou para o dia seguinte, muito em função da cobertura do caso.

No fundo, o deputado, que é pastor evangélico, apenas fez o favor de jogar na cara dos paranaenses uma realidade que sempre esteve bem diante dos nossos narizes. No Brasil, lugar de mulher não é na política. E talvez por isso nossa política está do jeito que está.

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