No mesmo dia e local da debacle da candidatura Lula (PT), um dos principais nomes do PSDB, o ex-governador do Paraná e candidato ao Senado Beto Richa, foi preso. Em termos políticos, não é mera coincidência. Após quase três décadas de sangue, suor e lágrimas na disputa pelo poder, petistas e tucanos conseguiram se enfiar na mesma espiral de destruição que tem Curitiba, a capital da Lava Jato, como ponto de encontro.
O PT programou uma “festa”, às 14h30 desta terça-feira, na frente da Superintendência da Polícia Federal, onde Lula está preso desde abril, para celebrar a troca do ex-presidente por Haddad como cabeça de chapa. Será o marco para o encerramento da cortina de fumaça que ronda a campanha até o momento. Por mais que a militância tente tornar o evento épico, trata-se de uma cartada de sobrevivência cujo efeito não se sabe no que vai dar.
O último Datafolha, realizado e divulgado nesta segunda-feira (10), mostra uma queda de 20% para 9% das citações espontâneas de Lula como preferido para a Presidência. Na estimulada, Haddad tem 9%, numericamente na rabeira do pelotão que disputa uma vaga com Bolsonaro no segundo turno – liderado por Ciro Gomes (PDT), 13%, Marina Silva (Rede), 11%, e Geraldo Alckmin (PSDB), 10%. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Somados, os dois principais nomes da esquerda, Ciro e Haddad, têm 22%, dois pontos a menos que Bolsonaro (24%).
No momento, o fruto da estratégia de manter Lula o máximo possível divide os votos esquerdistas, a menos de um mês da eleição. Ciro, que perdeu aliados como PCdoB e PSB por obra de Lula, venceria Bolsonaro com relativa facilidade no segundo turno por 45% a 35%. Já Haddad sofreria bem mais: teria 39% contra 38% do capitão da reserva.
O mesmo prédio do último baile da candidatura Lula passou a dar guarida nesta terça a presos pela Lava Jato ligados a Richa. Os convidados de última hora, indiretamente, jogam mais uma pá de cal na possibilidade de sucesso de Alckmin.
A cada debate, entrevista, sabatina, palestra que faz durante a campanha, Alckmin é confrontado com enroscos éticos que seu partido enfrenta. O principal fantasma continua sendo Aécio Neves, mas o caso Richa tem potencial para minar ainda mais o ex-governador paulista em um front congestionado por Jair Bolsonaro (PSL) e Alvaro Dias (Podemos): o Sul do Brasil.
Quando escolheu a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos (PP) como vice, Alckmin esperava especialmente pela conquista do eleitorado sulista. Richa surge agora como um antídoto às avessas para esse avanço. É mais uma pedra no sapato de um candidato que queria 10 dias de campanha na tevê para mostrar seu potencial.
Além de não conseguir, Alckmin e o PSDB têm sido colocados cada vez mais na mesma vala comum do PT. E mais do que a própria demolição, ambos os partidos conseguiram ter a paternidade de outro fenômeno: o ambiente antissistema que catapultou Bolsonaro para a dianteira das pesquisas.
Metodologia
Pesquisa realizada pelo Datafolha no dia 10 de setembro com 2.820 entrevistados (Brasil). Contratada por: GLOBO E FOLHA DE SÃO PAULO. Registro no TSE: BR-02376/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
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