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Cwb Live Entrevista – Xutos & Pontapés, rock português com alma brasileira
| Foto:
Reprodução/Manuel Lino
Zé Pedro, 33 anos com o Xutos & Pontapés

No último Rock in Rio, realizado em 2010, o público brasileiro se surpreendeu com o show feito em parceria entre os Titãs e a banda portuguesa Xutos & Pontapés. A sinergia entre os integrantes e o casamento perfeito entre os estilos dos dois grupos chamou muito a atenção.

Na primeira matéria de 2013, o Cwb Live apresenta uma entrevista exclusiva com o fundador do Xutos, o guitarrista Zé Pedro, e com o guitarrista dos Titãs, Tony Bellotto, falando sobre a amizade entre os grupos e sobre os mais de 30 anos de estrada da banda lusitana.

Torre de Babel

Durante muitos anos o Brasil foi “fechado” para o rock internacional. Era raro um artista que não fosse dos Estados Unidos ou do Reino Unido chegar aos ouvidos dos brasileiros.

Desde os anos 1990, quando os Paralamas do Sucesso fizeram uma versão da canção “Trac, trac”, do músico argentino Fito Paéz, isso vem mudando.

O show conjunto entre Xutos & Titãs provou, na prática, uma velha máxima que afirma: “a música é universal”. Mas essa não foi a primeira vez que as duas bandas tocaram juntas. Segundo Zé Pedro, a amizade com os brasileiros existe há muitos anos. “A parceria com os Titãs surge de um convite do Zé Ricardo, responsável do palco Sunset do Rock in Rio. Já conhecíamos os Titãs pessoalmente e eles já tinham estado em Portugal abrindo concertos para nós”, conta.

Realmente, as trajetórias das duas bandas são paralelas, como explica Tony Bellotto. “A parceria Titãs/Xutos é antiga, começou na década de 1980 quando fizemos uma turnê com eles em Portugal. Nossas histórias são parecidas, bandas punks e lusófonas, com influências comuns, como o The Clash, e sobreviventes em um mercado cruel. Em Portugal dizem que somos os Xutos brasileiros e aqui dizem que eles são os Titãs portugueses”, conta.

Com tantas características em comum, porque os dois grupos não realizam uma turnê juntos? Zé não descarta essa possibilidade. “Foi muito bom tocarmos com os nossos amigos dos Titãs. Eles são uma banda paralela à nossa aí no Brasil. Se dependesse de nós músicos, tenho a certeza que já estávamos aí a fazer uma boa tour com estes nossos amigos Titãs”, afirma.

Tony Bellotto conta que a ideia também passa pela cabeça dos brasileiros e que já foram realizadas algumas reuniões “etílicas” para discutir o assunto. “Fizemos os dois Rock in Rio, no Rio e em Lisboa, e gostaríamos de tocar mais vezes com eles. Temos um projeto em comum, meio utópico, nascido em mesas repletas de garrafas de vinho, de fazermos juntos uma grande turnê por todos os países de língua portuguesa. Quem sabe…”, revela.

Mais de três décadas de rock and roll

Os portugueses têm 33 anos de estrada, 13 discos de estúdio lançados e muitas batalhas travadas. As dificuldades que uma banda de rock enfrenta em Portugal são muito parecidas com a realidade dos grupos brasileiros. “Os tempos sempre foram de luta para se conseguir um lugar na história do rock. Quando se consegue, a luta continua para mantê-lo. Mas é assim que nós gostamos e sentimos o rock. É o que nos faz ter vida e energia”, explica Zé.

O guitarrista acredita que a comercialização exagerada da música, atualmente, não faz o caminho das bandas de rock mais difícil. “Quanto aos artistas descartáveis, sempre houve e sempre haverá e não são eles que fazem a vida difícil. It’s a long way to the top if you want rockn’roll”, afirma fazendo referência à um dos maiores clássicos do AC/DC, “é um longo caminho até o topo se você quer o rock and roll”, diz a letra.

As dificuldades encontradas ao longo do caminho não desanimam o grupo. Mais uma semelhança com a realidade do Brasil. “Estes 33 anos de rock and roll são a nossa vida, com momentos bons, outros ótimos e outros bastante difíceis de ultrapassar. Mas foi, é e será a vida que escolhemos e que nos faz felizes e realizados”, afirma Zé.

Internet

Hoje, as gravadoras estão tentando fechar o cerco contra a troca de músicas pela internet. No último mês de setembro, nos Estados Unidos, Jammie Thomas-Rasset foi condenada a pagar uma indenização de US$ 222 mil. O crime? Ter baixado e compartilhado 24 canções pelo programa de compartilhamento de arquivos Kazaa.

Para as bandas que não estão dentro do esquema das grandes gravadoras, a internet é um dos melhores meios de divulgação. Mas, segundo Zé Pedro, a esperança de que a rede mundial de computadores torne um artista conhecido nem sempre se concretiza. “A internet é uma tentação. Acha-se sempre que o sol vai abrir com um vídeo ou uma música na net, mas não é assim”, argumenta.

A construção de uma carreira consistente, na visão do guitarrista, é uma condição necessária para uma banda se aventurar com sucesso na rede mundial de computadores. “Primeiro é preciso ganhar nome com a atitude que temos perante a música e, depois, podemos ter a internet para divulgar aquilo que fizemos e o que vamos fazer. Podemos dizer que pode ajudar como pode atrapalhar, mas, hoje em dia, temos de utilizar”, analisa Zé.

Como as grandes gravadoras só se interessam por artistas que tragam retorno financeiro alto e rápido, o Xutos, assim como muitas bandas brasileiras, resolveu trilhar um caminho próprio. “Sempre lutamos pela nossa liberdade e independência. Hoje em dia, temos a nossa organização que trata tudo o que se refere aos Xutos. Não temos contrato discográfico. Nós gravamos os discos e depois negociamos com alguém. À minha maneira, foi um êxito na nossa carreira”, explica Zé.

Um novo trabalho está sendo pensado pela banda, que já trabalha em algumas canções. Vivendo em meio a tantas dificuldades, e em um país que tem tantas semelhanças com a realidade brasileira, o Xutos & Pontapés é mais uma prova de que, para fazer música, não é preciso se vender. “Achamos que é nos momentos difíceis que fortalecemos a nossa união e aproveitamos muito bem os bons momentos que esta vida nos dá”, finaliza Zé.

Confira o vídeo da música “À minha maneira” da apresentação que Titãs e Xutos & Pontapés fizeram no Rock In Rio 2011.

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