• Carregando...
Educação, cultura digital e cidadania
| Foto:
Hugo Harada/ Gazeta do Povo

É comum ouvirmos que as novas gerações estão completamente ligadas às tecnologias digitais e suas ferramentas e que a escola e a formação de professores precisam se integrar a essa realidade. Alguns estudiosos do campo da educação e comunicação perguntam sobre os saberes ou currículos das escolas atuais, além dos cursos de formação. Eles questionam de que modo escolas acompanham profundas modificações que estão ocorrendo nas formas de interação e na construção das identidades de crianças, jovens a partir de suas experiências com as tecnologias digitais.

Tal reflexão nos instiga a pensar se estamos dando atenção para isso. Considerando que toda a sociedade educa, a responsabilidade com a formação de crianças e jovens interpela a todos nós: escola, família, mídia, poder público, espaços de cultura e outras instituições. Desde a função mais elementar sobre construção de vínculos e valores até os espaços sociais e culturais de socialização de experiências e conhecimentos que envolvem tanto o âmbito formal como informal.

Se crianças e jovens estão inseridos em uma sociedade da informação, do conhecimento ou sociedade multitela, só para mencionar algumas denominações que caracterizam nossa sociedade atual, educar para a cultura digital é também educar para a cidadania. Para tal, precisamos ir além do mencionado “atraso” e “descompasso” da escola e pensar uma formação que seja qualificada no sentido de diminuir distâncias da escola diante dos novos desafios colocados pela cultura digital.

A web é hoje considerada um espaço legítimo de conhecimento, e não podemos nos furtar a ela. No entanto, suas práticas de uso implicam selecionar de forma criteriosa o que ela apresenta e essa é uma competência a ser desenvolvida por todos nós. É importante ir além do deslumbramento inicial, ter um olhar crítico diante da explosão do comércio eletrônico e saber se situar diante das inúmeras possibilidades de comunicação através de sites diversos: seja de relacionamento nas redes sociais que também permitem estabelecer redes de conhecimentos a partir de certos critérios (amizade, interesse profissional, afinidade cultural) e compartilhar comentários, fotos, vídeos, depoimentos pessoais e comunidades de interesse; seja o correio eletrônico e suas listas de discussão como os programas de comunicação pessoal e tantos outros.

Diante do grande número de acesso a blogs e de pesquisa em sites como Youtube, Wikipedia, Flickr e suas inúmeras ferramentas disponíveis na criação e no compartilhamento de informações, filmes, imagens, músicas, documentos, calendários, livros, etc, parece que compartilhar é a palavra de ordem na web 2.0. Mas qual a real necessidade deste compartilhar? Se compartilhar não significa apenas “mostrar/fazer/ver”, mas também integrar informações e trabalhos colaborativos, precisamos discutir também a questão da autoria, tema cada vez mais difícil de definir nesse contexto de produções coletivas, de releituras e de remix.

Por outro lado, ao mesmo tempo em que se afirma a necessidade de construir competências digitais no sentido de desenvolver habilidades operativas e instrumentais para uso das ferramentas tecnológicas a fim de compartilhar e buscar informações de forma confiável, outro desafio que se coloca à escola é entender as tecnologias como cultura. Isso implica ir além de “saber usar a tecnologia” e aponta a necessidade de desenvolver competências de reflexão crítica sobre os conteúdos e seus processos construídos nas práticas midiáticas e culturais.

Na perspectiva da mídia-educação, a relação entre educação, tecnologia e cultura digital é mais do que saber o conteúdo da chamada “informática pedagógica” ou da “tecnologia educativa”, é o desenvolvimento de atitudes relacionadas ao pensamento crítico, é entender a tecnologia como possibilidade de acesso seletivo e consciente à informação. Nesse contexto, educação para a cidadania hoje implica também um uso ético e responsável da tecnologia na escola e fora dela.

>> Monica Fantin é Doutora em Educação, Professora do Curso de Pedagogia da UFSC e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Linha de Pesquisa Educação e Comunicação, PPGE/UFSC. Confira seu blog aqui.

>> Quer saber mais sobre educação, mídia, cidadania e leitura? Acesse nosso site! Siga o Instituto GRPCOM também no twitter: @institutogrpcom.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]