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Camerata Antiqua de Curitiba apresenta obras inéditas de Schubert
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O compositor Franz Schubert

Franz Schubert (1797-1831) é um dos compositores favoritos do grande público e foi um artífice de enorme importância na transformação da linguagem musical no século XIX. Além de ter elevado a Miniatura Pianística a um nível tão alto quanto as grandiosas sonatas (Improvisos, Momentos Musicais, Danças Alemãs)foi aquele que colocou num status elevadíssimo o Lied, a canção acompanhada basicamente por um piano. Tornaram-se monumentos desta arte os ciclos Viagem de inverno, A Bela moleira, e uma centena de suas canções que permanecem como os itens mais populares do gênero por quase 200 anos. A vida pessoal de Schubert foi a mais trágica de todos os grandes compositores. Não reconhecido durante sua vida teve uma doença incurável na época, a sífilis, que lhe levou à prematura morte. Sua absoluta necessidade de compor mesmo não tendo a menor ideia de quem viria a executar suas composições fez com que por décadas fossem descobertas obras inéditas dele depois de sua morte. A certeza de que o fim chegaria a qualquer momento faz com que cores claras e escuras convivam o tempo todo em sua obra. No último ano de sua curta vida, 1828, ele compôs uma quantidade de obras que surpreende. A certeza da morte fez com que ele colocasse no papel tudo o que seu espírito criador concebera. Cartas enviadas sem esperança de resposta.

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O grande poeta alemão Goethe

Goethe e Schubert

Diversas obras de Schubert utilizam textos de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), demonstrando uma compreensão profunda do grande poeta alemão. Aconselhado pelo músico medíocre Carl Friedrich Zelter (1758-1832) Goethe desprezou as obras de Schubert, mas este desprezo não foi compartilhado por ninguém. Contra a opinião do poeta e do músico medíocre a poesia de Goethe tornou-se até mais popular graças às magníficas invenções musicais de Schubert. O ponto culminante desta junção Schubert/Goethe é a obra para coro masculino e quinteto de cordas “Canto dos espíritos sobre as águas”. A poesia foi escrita em 1779, e a música composta em 1721. Eis o texto numa tradução de Paulo Quintela:

A alma do homem
É como a água:
Do céu vem,
Ao céu sobe,
E de novo tem
Que descer à terra,
Em mudança eterna.

Corre do alto
Rochedo a pino
O veio puro,
Então em belo
Pó de ondas de névoa
Desce à rocha liza,
E acolhido de manso
Vai, tudo velando,
Em baixo murmúrio,
Lá para as profundas.

Erguem-se penhascos
De encontro à queda,
— Vai, ‘spúmando em raiva,
Degrau em degrau
Para o abismo.

No leito baixo
Desliza ao longo do vale relvado,
E no lago manso
Pascem seu rosto
Os astros todos.

Vento é da vaga
O belo amante;
Vento mistura do fundo ao cimo
Ondas ‘spumantes.

Alma do Homem,
És bem como a água!
Destino do homem,
És bem como o vento!

A obra de Schubert é uma das páginas mais experimentais do mestre, e foi um grande fracasso na única apresentação ocorrida durante sua vida, em 1821. Em primeiro lugar destaca-se o uso de cinco cordas graves: duas violas, dois violoncelos e um contrabaixo. A escrita vocal a oito vozes opõe o céu, para onde a água evapora, através dos tenores, e o chão, onde a água corre, através dos baixos. A transmutação da alma humana comparada à água que evapora faz Schubert utilizar harmonias nunca antes vistas, harmonias que só encontraremos muitas décadas depois na obra de Anton Bruckner (1824-1896).

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A pintura “Manhâ” de Friedrich parece se ajustar bem com a obra prima de Schubert

Impossível não fazer paralelo nesta reflexão filosófica da poesia e da música com a pintura do maior mestre alemão desta arte naquela época: Caspar David Friedrich (1774-1840).

Obra desconhecida entre nós será apresentada em Curitiba

Obra tão essencial é completamente desconhecida no Brasil. Pesquisando dados com pessoas bem informadas creio que esta obra nunca foi apresentada em nosso país. Nos dias 24 e 25 deste mês de maio este monumento à reflexão será apresentado junto com outras obras pouco conhecidas por aqui (desconfio que três delas em primeira audição nacional) pelo Coro e Orquestra da Camerata Antiqua de Curitiba na Capela Santa Maria, sede da Camerata, sob minha regência. É a minha humilde colaboração para que novas composições, mesmo de autores antigos, frequentem os repertórios de nossa vida musical.

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