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Stravinsky,manifestações em São Paulo, alienação
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paroutudo.com
Manifestações em frente ao Teatro Municipal de São Paulo

O jornalista João Luiz Sampaio em seu Blog no jornal Estado de São Paulo postou ontem, dia 19 de junho, um texto extremamente patético sobre um evento ocorrido no Teatro Municipal de São Paulo enquanto ocorriam manifestações próximas ao referido Teatro. Estava sendo apresentada a ópera “A carreira de um libertino” de Stravinsky. Em tom patético ele descreve o que ocorreu.

Segundo o texto “cerca de 300 pessoas” era o público daquela noite (a lotação do TM de São Paulo é de 1600 lugares), assistindo uma récita de ópera enquanto milhares de pessoas protestavam do lado de fora. A descrição a seguir me lembrou o filme La Nuit de Varennes de Ettore Scola, que descreve a tentativa de fuga da família real francesa quando a revolução começou em 1789, ou mesmo a lenda dos “Músicos do Titanic”, aquele grupo de instrumentistas que, ao que parece, ficou tocando mesmo quando o conhecido navio afundava. Diz o texto: “Por volta de 21h30, terminou o primeiro ato da apresentação. O público deixou a sala de espetáculo em direção ao hall do teatro. As portas estavam fechadas e, do lado de fora, era possível ver fogueiras na rua Xavier de Toledo e um grupo pequeno de pessoas com o rosto coberto por camisetas. A segurança do teatro, apreensiva, pediu ao público que não ficasse perto das portas e janelas e voltasse para a sala de espetáculo. As luzes do hall foram apagadas. Um grupo que tentou ir embora durante o intervalo foi conduzido para uma porta lateral mas, do lado de fora, a correria e a fumaça (não é possível saber, de onde estávamos, pelo que foi causada) fizeram com que os seguranças voltassem a fechar as portas e orientassem as pessoas a não deixar o teatro naquele momento”. Por que “as luzes do hall foram apagadas”? Para esconder dos manifestantes o luxo interno do Teatro? Esta é uma dúvida que me inquieta.

Com a história toda fiquei extremamente triste com duas coisas: a pichação que aconteceu no teatro nas paredes e vitrais (teatro que amo demais por minha história pessoal e profissional), e com a alienação de meus colegas músicos. Havia sentido de ter uma récita de ópera no meio das manifestações? A récita não ter sido cancelada demonstra uma falta de consciência por parte daqueles que poderia decidir sobre isso, e a situação acabou colocando a nu que se o Teatro foi atacado, como a sede da prefeitura do outro lado do Viaduto do chá, é porque ele é sinônimo de algo oficial, algo do governo, que está sendo hostilizado nestas manifestações. A pérola maior está na frase “…o presidente da Fundação Teatro Municipal já estava a caminho do prédio e que, se fosse necessário, um cordão de isolamento seria montado para garantir a segurança da plateia durante a saída do espetáculo”. Você já imaginou o ridículo de pessoas elegantes saindo escondidas enquanto o povo urrava do lado de fora?

Qual não foi minha surpresa ao ver postagens no Facebook de duas cantoras líricas (que conheço bem, e com quem já trabalhei) amaldiçoando as manifestações que impediram o público de absorver a arte enquanto o povo se manifestava lá fora. Isso é alienação. Isso depõe contra quem trabalha com música clássica. Estas 300 pessoas no teatro fizeram algo tão reprovável quanto o enorme público dos estádios desta Malfadada Copa das Confederações, que prestigiam um evento danoso para nossa nação. Estamos num momento histórico no país, e se o preço das magnificas demonstrações pacíficas pelo fim da corrupção é o quebra-quebra de uma minoria, temos que saber que muitos proveitos podem ser obtidos por nosso sofrido povo. E que os governantes não achem que o que a nação quer é somente “20 centavos a menos”. Queremos muito mais! Aqui o link para ler integralmente o texto que comento.

PS: o que me fez escrever este post foi um comentário de um leitor lá no blog do Estadão. Acentua ainda mais o patetismo da cena:

“Independentemente da posição sobre os protestos e do julgamento sobre os manifestantes, pacificos ou não, e os não-manifestantes,foi uma cena peculiaríssima; sair para o intervalo de uma ópera, todos os senhores e senhoras chiquíssimos tomando cafézinho, as luzes internas do Municipal apagadas, e os manifestantes gritando e batendo na porta.
E a gente lá na ópera, se sentindo marias antonietas.
Na volta do intervalo, Jamil Maluf falando a frase que deixa qualquer um meio desesperado: ”por favor mantenham a calma’. Na saida, algumas senhoras vestidas de jeito muito chique querendo ir até o metro no bolo de estudantes de musica, e a cidade meio vazia, meio esquisita, com helicopteros passando com luz”. Foi assinado por uma pessoa identificada como Arqueiro. Arqueiro, estou com você.

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