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Um caso de amor ! Minha homenagem ao bicentenário de Richard Wagner
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O compositor Richard Wagner pintado por Renoir

Hoje, 22 de maio, é o bicentenário do nascimento de uma das mais fortes personalidades da história da música, e homenageá-lo não é algo inusitado. Em abril de 1933 o escritor Thomas Mann (1875-1955) terminou de escrever o ensaio (de mais de 200 páginas) “Sofrimentos e grandezas”. É um livro revelando o seu amor por Richard Wagner (1813-1883), quando se lembrava, naquele ano, do cinquentenário da morte do grande compositor. Neste livro o grande romancista explica sua admiração pelo compositor de uma forma incondicional, e esta admiração fica testemunhada até nos títulos de algumas obras do grande romancista: “Tristan” de 1903 e “O sangue dos Wälsungen” de 1921. Não pretendo me comparar a Thomas Mann, mas o impulso de escrever este pequeno texto tem certa semelhança com “Sofrimentos e grandezas”. Eu também fui, e continuo sendo, um apaixonado pela obra de Richard Wagner. A razão disso é que existe mais de um ponto que faz com que me maravilhe frente a este gigante da história da música ocidental.

Admiração

Tudo o que mais prezo Wagner prezava também, sobretudo a função da arte como um instrumento de aprimoramento espiritual. O compositor sonhava que uma obra de arte não fosse um entretenimento, uma distração. Escolheu o teatro lírico como meio de expressão, o mesmo teatro lírico que era uma máquina de gerar fortunas através de mecanismos voltados ao sucesso imediato, custasse o que custasse. Desde 1842, quando compôs “O navio fantasma”, Wagner se rebelou contra o sistema. Não fez fortuna como os outros compositores de ópera da época como Rossini, Verdi ou Donizetti, e se seu caráter o levou a viver sempre daqueles que admiravam seu trabalho, isto não o tornou nunca um compositor em busca de um reconhecimento fútil. Sempre admirei os compositores que escreveram uma obra prima sem ter a menor noção de que elas viriam a ser executadas. Isso aconteceu com o grande compositor em diversas ocasiões. Ao compor Tristão e Isolda, para muitos sua obra prima, Wagner não tinha a menor ideia de quem a executaria, quem seria capaz de cantar e de tocar aquela obra tão inovadora. Oito anos depois de composta, esta obra teve sua estreia em Munique somente pela vontade de um homem com grande poder, o rei da Baviera, que custeou aquilo que para todos era um delírio. Mas quem assistiu àquela estreia em junho de 1865 reconheceu que ali estava um dos pontos máximos da arte daquela época. Wagner teve o ideal de refletir sobre a impossibilidade do amor com uma harmonia e uma orquestração completamente novas, algo que foi muito além das “árias de bravura” num eterno ¾ de realejo que visavam o sucesso fácil. Wagner renovou a linha de canto, e o desenvolvimento temático que ele herdou de Beethoven. Como não posso me apaixonar por alguém que sozinho modificou toda uma arte? Leciono harmonia há quase quarenta anos, e não me canso de mostrar aos meus alunos as infindáveis belezas dos acordes do mestre e para meus alunos de orquestração nunca deixo de citar as invenções fantásticas de Wagner neste campo. E seu talento dramático também não passa despercebido nesta minha paixão, pois os personagens de Wagner são de uma atualidade estonteante. Posso citar alguns deles, travestidos de figuras mitológicas. Wotan, o chefe dos deuses, é a melhor expressão da parte má do ser humano. Ele provoca a morte, rouba, mente, trapaceia, tudo para conseguir o poder. Mas há uma esperança no universo wagneriano: sua filha Brünhilde, ao perceber o mal que seu pai personifica faz com que os deuses sejam destruídos, imolando-se na pira funerária do mais inocente dos heróis.

Além de grande compositor um grande dramaturgo

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Wotan. O cantor Bryn Terfel personifica este personagem que resume o lado negro da humanidade

A obra dramática de Wagner, para mim, compara-se ao que de melhor a dramaturgia teve até hoje: a tragédia grega e o teatro de Shakespeare. Wagner além de ser um gigante da composição musical foi um dramaturgo que restaurou os ideais dos grandes autores do passado helênico: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Ler seus textos e ouvir sua música nos faz refletir em muitos mitos que povoam a nossa existência. Com duzentos anos Wagner continua vivo como nunca!

Para quem quer ler um pouco mais sobre Wagner convido à leitura de meu artigo sobre o compositor publicado no dia 19 no jornal “Gazeta do Povo”.

Cinco minutos preciosos de Thomas Mann falando sobre “Lohegrin”

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