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Voluntariado Consciente e Sociedade: de que maneira e intensidade eu me dedico ao próximo?
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“Infelizmente a sala já está lotada. Se o senhor quiser voltar daqui a 40min nós iremos realizar uma sessão extra da palestra para atender todos vocês”.

Essa frase foi ouvida por inúmeras pessoas que procuraram o CAV – Centro de Ação Voluntária de Curitiba – nos primeiros dias de palestras em 2017. Surpreendentemente todas as cadeiras foram ocupadas em poucos minutos por homens, mulheres, jovens e idosos e muitos ainda ficaram para fora aguardando as sessões extras que foram realizadas.

Há alguns anos o CAV tem uma procura média de 30 pessoas por palestra, que acontece semanalmente em Curitiba, para quem quer começar um trabalho voluntário. Em 2016 essa média começou a aumentar e neste ano a procura cresceu ainda mais.

Num primeiro olhar nossos corações se enchem de alegria por cada vez mais pessoas estarem dispostas a ajudar o próximo, a olhar para “fora da janela” e doar um pouco de seu tempo e talento para a melhoria da sociedade.

Num segundo momento nos pegamos pensando: o que será que está causando este aumento tão impactante? Será que está relacionado com o aumento do desemprego? Será que as pessoas estão se organizando melhor e tendo mais tempo para dedicar-se ao próximo? Será que a sociedade está exigindo mais das pessoas com relação às suas atuações sociais?

Muitas podem ser as causas, e até acredito que seja a soma de todas elas, mas o que mais me preocupa é quão consciente estamos de como o voluntariado pode ou não ajudar neste contexto e quanto nossas escolhas podem impactar as iniciativas sociais.

Nós do CAV temos a certeza de que o ser voluntário é muito mais uma postura de vida do que fazer um trabalho gratuito para alguém. Ser voluntário é ser movido pela vontade genuína de ajudar e se dedicar para atender as necessidades do “outro” e não somente as nossas. É claro que a motivação inicial para o trabalho voluntário parte de nossas próprias necessidades: necessidade de preencher um tempo, de sentir-se útil, de devolver ao mundo o que recebeu, de colocar seus talentos em prática ou até mesmo de desenvolver novas habilidades e talentos; entretanto depois de identificarmos nossa motivação inicial precisamos colocar o outro em foco, entender o que ele realmente precisa e ser bem sincero e transparente em dizer o que nós realmente podemos dar e por quanto tempo.

Digo isso, pois muitas pessoas começam um trabalho voluntário enquanto estão desempregados, assumem enormes responsabilidades e geram uma grande expectativa nas instituições e em todas as pessoas que estão envolvidas, e, quando em pouco tempo conseguem um emprego, simplesmente desaparecem, causando um impacto totalmente inverso e negativo na instituição em questão. Isto não significa que enquanto estamos desempregados não podemos fazer trabalho voluntário, muito pelo contrário, o voluntariado nestas situações traz ganhos para todos – o indivíduo preenche o tempo com algo transformador enquanto está procurando uma nova colocação profissional, desenvolve novas habilidades, aumenta sua rede de relacionamento e colabora pra a transformação social; a instituição recebe pessoas qualificadas, aumenta o número de voluntários e também sua rede de contatos; e a sociedade tem cada vez mais pessoas ativas, atuantes e ocupadas com a transformação social. A questão é com que consciência e transparência lidamos com as responsabilidades que assumimos neste cenário.

O convite é para as seguintes reflexões: O que realmente me motiva nesta busca pelo trabalho voluntário?  Por quanto tempo estou disposto a me dedicar a este trabalho? Estou sendo sincero comigo mesmo e com todos os envolvidos? As respostas para estas perguntas não precisam ser “bonitas”, precisam ser verdadeiras.  É a partir de relações sinceras, transparentes e verdadeiras que o voluntariado também nos convida a mudar o mundo.

Que venham novas palestras lotadas e com filas de espera, cheias de pessoas conscientes de como suas escolhas e relações realmente impactam na transformação social!

 

*Artigo escrito por Alcione Andrade, voluntária do CAV – Centro de Ação Voluntária de Curitiba, instituição parceira do Instituto GRPCOM.

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