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Fábrica da Renault - projetos de redução de custos de produção -  competição anual chamada Copa Redução de Custos, que premia as melhores ideias dos funcionários - Diretor de fabricação, Luiz Quinalha
Fábrica da Renault - projetos de redução de custos de produção - competição anual chamada Copa Redução de Custos, que premia as melhores ideias dos funcionários - Diretor de fabricação, Luiz Quinalha| Foto:

São já parte do folclore da vida brasileira os preços assustadores dos carros no país. Pagamos preços de veículos de luxo em outros países para comprar carros populares. As razões para a diferença de preços são muitas, inclusive a baixa eficiência da indústria. Por isso, é difícil entender como o bolsa-montadora foi renovado nesta semana pelo governo brasileiro.

O lobby das montadoras argumenta que é impossível investir no país com os custos que temos aqui porque a indústria nacional é muito pouco competitiva. São impostos demais, o tal custo Brasil e outras peculiaridades que conhecemos bem sobre a vida empresarial no país. Tudo isso é verdade, mas isso não significa que o estímulo anunciado pelo governo (o Rota 2030), que pode chegar a R$ 1,5 bilhão por ano durante 15 anos, seja a melhor saída.

A experiência do regime automotivo anterior acendeu o sinal vermelho na equipe econômica, que foi contra fechar um novo regime automotivo. A Fazenda vinha argumentando que não há espaço fiscal para abrir mão de arrecadação e que os benefícios do modelo de subsídio não são claros. O Inovar-Auto, que terminou no ano passado, atraiu investimentos em fábricas, muitas delas hoje ociosas, mas não garantiu a expansão do emprego nem a adoção de novas tecnologias. Estamos bem atrasados quando o assunto é direção autônoma, por exemplo, ou carros elétricos.

O programa automotivo lançado pelo governo até tem a boa intenção de estimular a maior eficiência energética. O problema é que ele tem novamente grandes chances de não colocar o Brasil na linha de frente do desenvolvimento de tecnologias novas, permitindo apenas que custe menos para as montadoras absorverem tecnologias desenvolvidas lá fora. Isso porque as novas fronteiras do desenvolvimento estão ligadas a softwares (automação, compartilhamento), à eletrificação e à manufatura 4.0. Nada disso garantido pelo programa, que vai valer por 12 anos. Quando o Rota 2030 acabar, a indústria automotiva será outra independente de ele existir ou não e são outros fatores que vão definir a inserção do Brasil.

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O que garante o desenvolvimento de tecnologias é uma combinação de competição com um bom ambiente de negócios. Esses são dois fatores que a indústria não defende diretamente quando negocia seus planos setoriais com o governo. Primeiro, porque ninguém quer mais competição no mercado – que viria com a abertura comercial. O Brasil impõe tarifas de 35% para carros importados, o máximo que pode, e ninguém no setor fala em mudar isso. E depois porque ambiente de negócios depende de tanta coisa que é mais fácil pedir apoio e ponto.

Sempre que reclama dos negócios no país, a indústria automotiva esquece de citar o grau de proteção de que desfruta. Também esquece de mencionar os inúmeros programas anteriores que a beneficiaram. Ou melhor, até citam para tentar renová-los, como acontece agora com as montadoras instaladas fora do Sul-Sudeste, que estão pressionando o governo para renovar um programa regional de estímulo.

Esse tipo de programa não sai de graça: direciona-se dinheiro de outros setores menos privilegiados, que pagam mais impostos, para estes beneficiados. Precisamos ter em mente que há a impossibilidade matemática de o governo estender uma mão amiga a todas as indústrias. Portanto, políticas setoriais concentram recursos em segmentos que têm acesso privilegiado ao sistema político. Com 5% do PIB na mão e o apoio de sindicatos fortes, o setor automotivo é um dos mais bem-sucedidos em Brasília. Na crise do fim de 2008, as montadoras foram rapidamente beneficiadas com um corte de impostos, para ficar em um exemplo mais ou menos recente.

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