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Entrada do encontro do G-20 em Berlim, em 2017: Brasil pode ser o destaque entre as grandes economias. Rogério Melo/PR
Entrada do encontro do G-20 em Berlim, em 2017: Brasil pode ser o destaque entre as grandes economias. Rogério Melo/PR| Foto:

Na última década, o mercado superdimensionou a capacidade da economia brasileira na maioria dos anos. Mesmo conhecendo o ambiente político e de negócios, economistas consultados pelo Banco Central semanalmente tenderam a errar suas previsões para cima. Há boas razões para acreditarmos que 2019 será um ano fora dessa curva.

Uma combinação de fatores pode fazer com que o Brasil seja a história de sucesso de 2019 entre as grandes economias. Isso não depende apenas de acertos do governo Jair Bolsonaro, mas também de fatores anteriores a ele e do estado das outras grandes economias – a preocupação no momento é com a desaceleração das economias maduras e da China. Em outras palavras, estamos em um ponto do ciclo econômico em que é possível haver mais crescimento do que o esperado, desde que algumas expectativas se confirmem ao longo dos primeiros três ou quatro meses do ano, enquanto o cenário piora em outros países. Vamos por pontos:

1. Ajuste está sendo feito

O governo Michel Temer não foi exatamente o mais zeloso com as contas públicas. Ele permitiu, por exemplo, um reajuste para o funcionalismo em suas primeiras semanas de governo. Depois, não conseguiu reverter as correções salariais quando percebeu que teria apoio para isso. Seu governo também recorreu ao Congresso para aumentar a meta de déficit primário, ou seja, pediu para poder gastar mais. Mas o que importa é o resultado final. O déficit primário está em queda, com a meta sendo cumprida com uma folga de R$ 50 bilhões neste ano. Se o ritmo for seguido, podemos zerar o déficit em 2021. É verdade que o Congresso não tem colaborado, aprovando gastos extraordinários. O que se espera é que o novo governo consiga uma trégua de pautas-bomba e continue o ajuste fiscal.

2. Há muita ociosidade na economia

A recessão deixou as empresas operando abaixo da capacidade e, por isso, elas podem atender a uma demanda maior sem que isso pressione preços. Este fator está começando a entrar nas contas do mercado sobre inflação e juros para os próximos anos e pode ter colaborado para que a elevação nas cotações do dólar durante 2018 não tenha feito estrago na inflação. O Brasil poderia crescer bem por mais dois ou três anos apenas ocupando essa capacidade.

3. Os juros vão ficar baixos

O mercado ainda está entendendo melhor o que está acontecendo com a taxa básica de juros. As expectativas para 2019 estão começando a convergir para a manutenção dos atuais 6,5% ao ano e já tem gente falando que ela poderia cair ainda mais. É possível que a taxa neutra de juros (grosso modo, a necessária para crescimento moderado sem inflação) tenha caído com a política monetária da atual direção do BC. Os juros baixos refletem também a ancoragem das expectativas de inflação, que resultam da combinação de ociosidade na economia e crença na perseguição das metas pelo BC.

4. Inflação baixa

O momento é tão positivo que o mercado ancorou suas expectativas de inflação. Para 2021, ela está em 3,75%. Você pode dizer que o mercado sempre erra esse número porque o prazo é muito longo, mas não é o que importa agora. Queremos saber se os agentes veem algum risco que precise estar na conta inflacionária nos próximos anos e a resposta é negativa. Isso ajuda a manter os juros baixos e melhora a perspectiva para investimentos.

5. Otimismo

Os indicadores de otimismo de empresários e consumidores vêm melhorando desde 2016, mas só agora estão se firmando no lado expansionista da curva. Eles precisam ficar lá por muitos meses para se converterem em investimentos e para isso é necessário que continuem as reformas para melhorar o ambiente de negócios.

6. Reformas

Aqui entra o ponto no qual o governo Bolsonaro pode fazer sua contribuição. Há a expectativa de que ele anuncie rapidamente as reformas que serão prioridade no primeiro semestre de 2019. A mais esperada é a da Previdência, que é necessária para dar sustentabilidade de longo prazo às contas públicas. Também se espera um pacote arrojado de privatizações, uma reforma tributária e um programa de abertura comercial que vai acelerar o ganho de competitividade do Brasil. Como tudo isso estava exposto na campanha eleitoral, é provável que entre de fato em pauta rapidamente. Também são necessárias reformas microeconômicas, muitas delas já mapeadas e até propostas no governo Temer. Um exemplo é a finalização da votação do cadastro positivo, que está no Congresso.

7. Crédito

Outro ajuste em andamento é no mercado de crédito. O governo Temer conseguiu mudar o perfil do BNDES e tirou parte da pressão que existia sobre Caixa e Banco do Brasil. A retração do crédito direcionado e de bancos públicos começa a ser compensada por outras fontes. Aos poucos, o mercado de crédito está voltando a ter saldos positivos na concessão, com taxas de juros decrescentes. Fica pela metade o trabalho do BC para reduzir spreads e o custo final do crédito ao consumidor.

8. Exterior

Com todos esses fatores trabalhando juntos e sem outros sobressaltos, é possível que o país cresça mais do que os 2,5% previstos pelo mercado para 2019. A previsão do FMI é que o mundo cresça em média 3,7% no ano que vem, mas suas análises têm se tornado progressivamente negativas. Há sinais de que a economia americana começará a ter problemas a partir do segundo semestre de 2019 com o fim do efeito provocado pelos estímulos fiscais dados pelo governo Donald Trump. A guerra comercial entre EUA e China está longe do fim e pode se acirrar, como mostra o debate recente sobre a presença de empresas chineses de telecomunicações nos EUA. A retirada de estímulos na Zona do Euro e a confusão em torno do Brexit pode roubar alguns pontos de crescimento na Europa. Como a economia brasileira é muito fechada, tende a não sofrer tanto quando há uma desaceleração moderada no exterior. Nesse cenário, há chances de o Brasil ser o bom aluno da classe ao fim do ano que vem, quando ocorrer o próximo encontro do G-20, as 20 maiores economias do mundo.

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