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Foto: Marcelo Andrade;Gazeta do Povo
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Meu filho já me perguntou várias vezes por que o governo não imprime dinheiro e distribui a rodo para as pessoas. Tento explicar a ele que essa medida faria o dinheiro perder o valor. Se todos tivessem de repente milhões em casa, a demanda por bens aumentaria muito mais que a oferta e os preços subiriam.

Inflação, pelo menos para boa parte dos economistas, é quase um sinônimo de excesso de moeda em circulação. O interessante é que a desvalorização de um bem causada pelo excesso acontece não só com dinheiro – também com sexo, diplomas universitários e a reputação de motoristas do Uber.

Como já contei aqui, o valor do sexo muda conforme a oferta. Segundo a economista Marina Adshade, nos cursos universitários com muito mais homens que mulheres (engenharia mecânica, por exemplo) os estudantes fazem menos sexo casual que nas carreiras com mais mulheres, como design ou literatura.

No primeiro caso, as mulheres, mais escassas, podem exigir relacionamentos duradouros (a que tipicamente dão mais importância) em troca de sexo. Já nos cursos mais femininos, precisam competir pela atenção de poucos homens. Por isso se engajam em mais sexo casual, atividade que os homens costumam preferir. A oferta aumenta, o preço diminui.

Também é assim com as credenciais acadêmicas. Se todos têm diploma, o diploma perde o valor – é preciso ter um título cada vez mais alto para se sobressair. A graduação na universidade, antes um diferencial relevante, perde o brilho. O candidato precisa “pagar” a vaga de trabalho com um título de mestrado ou doutorado.  Empregadores começam a exigir diplomas até mesmo para vagas antes de nível médio, como a de secretárias executivas, vendedores ou gerentes.

Um estudo publicado no ano passado pela Harvard Business School mostra que a inflação do diploma está deixando o mercado de trabalho americano menos eficiente. Exigir diplomas para vagas de nível médio é ruim para o empregador, pois dificulta o preenchimento dessas vagas e atrai candidatos com mais oportunidades, mais propícios a trocar de trabalho.  

É ainda pior para o empregado, pois aumenta a barreira de entrada na profissão. A inflação do diploma, segundo o estudo, prejudica principalmente os jovens de grupos sociais com menos recursos para entrar na faculdade – no caso americano, os negros e hispânicos.

Outro exemplo de inflação é a da reputação, como mostra uma pesquisa publicada em março por economistas da New York University. Os autores descobriram que a nota de motoristas do Uber ou anfitriões do Airbnb não para de aumentar. Nos aplicativos de táxi, os profissionais com nota máxima (cinco estrelas) passou de 33% para 85% em seis anos. No Uber X de Chicago, mais de 90% dos motoristas têm cinco estrelas.

Como no caso dos diplomas, se todo mundo tem nota máxima, ela perde o valor. “Essa inflação da reputação com o tempo corrói o potencial de comparação entre os motoristas e diminui a capacidade informativa do sistema de reputação”, dizem os autores.

Dinheiro, sexo ou um diploma universitário – nada tem valor em si. O preço de um bem, tangível ou intangível, é sempre relativo, a depender de sua oferta no mercado.

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