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Por que o retorno de “Gilmore Girls” é um erro
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(Imagem: Reprodução)

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Eu amo “Gilmore Girls”. Foi a primeira série que eu acompanhei, da estreia até a series finale, e isso não tem como mudar. Isso significa que quando conhecemos Rory e Lorelai eu tinha 10 anos, e quando nos despedimos delas – após uma sétima temporada sofrível, sem a presença de Amy Sherman- Palladino, criadora do seriado – eu estava pra completar 17. Talvez sete anos não signifiquem muito na vida de um adulto, mas na de uma adolescente é tudo.

Era incrível como eu conseguia me identificar com todas as personagens femininas da série. De Lorelai e Rory a Emily, passando por Miss Patty, Babette e até senhora Kim. E as referências à cultura pop, então? Rory lendo “Os Diários de Sylvia Plath” no ponto de ônibus, a festa a fantasia temática do Tarantino e – quem acompanhou certamente se lembra – Kim Gordon e Thurston Moore, à época ainda casados, acompanhados da filha Coco em um showzinho na praça de Stars Hollow. A cidade se chamava Stars Hollow (Vale das Estrelas, em português), pelo amor de Deus. Quer coisa mais linda?

Quando uma nova temporada, batizada de “Um Ano Para Recordar”, foi confirmada no início deste ano, eu fiquei muito feliz. Ia ser como rever velhas amigas e uma cidade aonde fui por muito tempo. A sensação, porém, durou pouco.

Há coisas, como o contorno dos lábios com uma cor diferente do batom, os mullets e a paixão pelo amigo tranqueira do seu vizinho, que precisam ficar no passado. E “Gilmore Girls” não é exceção.

Precisamente, o meu baque de realidade veio com o primeiro teaser da nova temporada, divulgado em julho. Esse aqui, olha:

Parece que quem produziu a peça pensou “vamos colocar todos os clichês da série [café, Lorelai falando na velocidade da luz e referências pop atuais, como John Oliver e Amy Schumer] em um minuto e os fãs vão pirar”.

É claro que eu pensei que todo mundo perceberia o quanto esse vídeo era errado, como esse retorno era errado – afinal, como definiu perfeitamente um amigo meu, parece que Lorelai e Rory estão fazendo um cosplay delas mesmas. Mas não. As pessoas ficaram malucas.

Blogs definiam o teaser como “maravilhoso, perfeito” e portais desmembravam o vídeo segundo a segundo. O frenesi todo se repetia cada vez que uma foto da nova temporada era divulgada. Com o lançamento de um trailer de dois minutos lançado na semana passada, então, as coisas só pioraram.

Ninguém evoluiu nessa cidade, Senhor? As roupas são as mesmas (desespero do Luke vestido de lenhador, exatamente como 16 anos atrás), as piadas são as mesmas (com atualização de referências, pra mostrar como os roteiristas são antenados), e qual é a necessidade de ressuscitar todos os ex-namorados da Rory? Todos, a meu ver, foram lixo e, assim como o seriado, tinham que ficar no passado.

via GIPHY

Mas o que mais me incomodou e que acho que justifica todo o meu inconformismo com esse retorno foi um comentário recorrente que vi após o lançamento do trailer. Rory, melhor aluna da turma e oradora da formatura do seu colégio particular imponente, aceita em nada menos que Harvard, Princeton e Yale – estudou nessa última – e que terminou a série como jornalista recém-formada prestes a cobrir a campanha presidencial de Barack Obama, parece estar sem rumo na carreira, um pouco perdida, dando uma de Jack Kerouac, como a própria Lorelai fala no trailer.

Aí o que eu vi? Pessoas se dizendo aliviadas, porque “se Rory ainda não se encontrou, tudo bem eu estar perdido(a) também”. Gente, não! Ela é um personagem, sacaram?

Eu entendo que “Gilmore Girls” lhes remeta a um tempo bom das suas vidas, sem tantas (ou zero) preocupações. Eu imagino que vocês tenham descoberto, assim como eu, muitas coisas legais graças a série. Eu sei que vocês queriam ter uma relação de mãe e filha como Rory e Lorelai. Mas podemos olhar pra frente? Chega de síndrome de Peter Pan, de querer viver um tempinho bom que não volta mais, de querer justificar fracassos com base em personagens.

“Gilmore Girls” sempre vai ter um lugar no meu coração, assim como a coleção do “Pequeno Vampiro”, os cintos de rebite e o futsal de sábado na AABB. Às vezes vou me lembrar, dar um sorriso e uma suspirada. E só.

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“Gilmore Girls – Um Ano Para Recordar” estreia no dia 25 de novembro, no Netflix (e eu realmente espero morder a língua e que a temporada seja maravilhosa).

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