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Edicarlos e Jennifer Maia abraçam o aluno lutador Alexandre Lacerda.
Edicarlos e Jennifer Maia abraçam o aluno lutador Alexandre Lacerda.| Foto:

O curitibano Alexandre de Souza Lacerda, 46 anos, gosta de desafios.

Apesar de ter iniciado no jiu-jítsu há apenas um ano e quatro meses, ele já ostenta a faixa-azul na cintura e até planeja fazer uma luta na arte suave.

Dá para dizer com convicção que o aluno do ex-lutador Edicarlos Monstro se descobriu nas artes marciais. O apreço é tanto que ele passou a treinar todos os dias na academia Chute Boxe. Além de jiu-jítsu, também faz aulas de boxe e de muay thai.

Agora troque o nome do personagem da matéria por qualquer um de sua escolha. Você tem uma história ‘comum’ de alguém que ganhou qualidade de vida com a luta. No caso de Alexandre, o prêmio é infinitamente maior.

Complicações no momento do parto comprometeram a coordenação motora e a fala do curitibano. Paralisia cerebral. Palavras que assustam qualquer um, mas que nunca abalaram Alexandre.

“Se você não acredita, se você achava que eu seria um peso, têm muitas pessoas que acreditam que posso viver. Gratidão família Chute Boxe Monstro por tudo”, diz a descrição do vídeo mais recente no canal que Alexandre mantém no Youtube (veja abaixo).

De joelhos, ele faz manopla com um grande sorriso no rosto. Conquista enorme para quem mal conseguia se movimentar nos primeiros treinos.

“Certo dia uma aluno disse que tinha um desafio para mim. Ele trouxe o Alê para a academia para ver o que poderia fazer por ele. Fiquei quase em choque no primeiro momento”, revela Edicarlos.

“Ele não tinha movimento nenhum, só ficava deitado, não andava. Era um desafio mesmo”, emenda o faixa-preta.

Aos poucos, Alexandre foi evoluindo sua movimentação. Aprendeu a fazer fuga de quadril e até a aplicar uma guilhotina bem encaixada como técnica de defesa pessoal. A luta de chão também ajudou a fortalecer sua musculatura. A melhora foi impressionante.

Apesar de fazer fisioterapia desde os quatro meses de idade, Alê não andava. No dia 1° de dezembro de 2017, quando recebeu a faixa-azul, caminhou sozinho por um corredor de alunos até receber a graduação das mãos do mestre (veja abaixo).

“Ele estava na metade do percurso e perguntei se não queria parar e descansar um pouco. Respondeu que não e que iria até o final. Me emociono até agora”, conta Monstro, que não cobra nada para dar aulas a Alexandre.

“Ele é um fenômeno. A mente dele é melhor do que muitas pessoas. A força que o cara tem para viver com um sorriso no rosto é demais. Na verdade, aprendi muito mais do que ensinei”, completa o professor, que já recebeu convites para inscrever o pupilo em campeonatos de parajiu-jítsu.

E não deve demorar para isso acontecer.

“Um dos meus sonhos é lutar para valer”, garante Alexandre.

Independência

A limitação motora não impede Alexandre de ir e vir. Ele mesmo chama o táxi ou Uber que o leva para a academia, eventos de luta ou qualquer outro lugar.

“Ele volta de madrugada da balada”, revela Jacyra Souza Lacerda, 80 anos, mãe de Alexandre, que aprovou a investida do filho nas artes marciais.

“Melhorou muito. O humor dele também melhorou, ele faz com gosto. Na parte física, ele fortaleceu os músculos dos braços e pernas. Enfim, não sai da academia. Está todo dia lá”, afirma.

Além de formação superior em teologia, Alexandre já escreveu um livro — e está prestes a lançar o segundo. A mãe, inclusive, foi a grande incentivadora dos estudos do filho.

Quando todas as escolas recusaram recebe-lo, ela fundou uma escola de educação especial para que o filho pudesse aprender como qualquer criança.

“Fico muito feliz com a evolução dele. O mestre dele é muito bom, está sempre estimulando e dando bastante apoio. Teria sido ótimo se ele tivesse descobrido as artes marciais antes. Tomara que pais de outras crianças na mesma situação vejam e aprendam com isso”, espera Jacyra.

Superação

A superação diária na vida de Alexandre serve de exemplo para muita gente “normal”. Ser visto como inspiração, no entanto, ainda é algo diferente para o curitibano de 46 anos.

“De certa forma eu sei que muitas pessoas me tem como exemplo, mas isso também me assusta um pouco”, diz Alê, via mensagem de texto no WhatsApp.

“Os treinos têm me ajudado muito. Todos ali têm méritos na minha evolução, começando pelos mestres Edicarlos e Jennifer Maia que acreditaram em mim”, agradece o lutador Alexandre.

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